Corram!Corram! Tem Bandido na Escola

Eu corri para escola ao ouvir gritos. Gritos de alguém aterrorizado. No meio do caminho ouvi mais gritaria. Quando olhei para trás, uma multidão atrás de mim. Eram mães, pais, tios, avós e demais responsáveis pelos alunos: seu Firmino, açougueiro, de facão na mão, avental cheio de sangue e olhos arregalados. Dona Sinhá, de pés descalços, avental molhado e pano na cabeça, saiu em disparada da casa da patroa.

Eram gritos de um aluno e todo mundo achou de pensar o pior naquele dia. Seu Juca, que tinha desavença com um bandido do bairro do outro lado da cidade, ao ouvir os gritos, imaginou que era seu filho, Palito, apanhando, e partiu em disparada anunciando aos quatro ventos:

__Um traficante está dentro da escola, um bandido armado na escola. Logo, em um segundo, seu Brutus correu afobado pensando que seu Cornélio teria descoberto que era corno e quem era o Ricardão inimigo dele. Para quem não sabe Cornelio era corno mesmo, mas carregava uma doze como símbolo de sua macheza. E assim Brutus, partiu com medo de seu filho, Chicote, ter sido espancado pela vingança do chifrudo macho. E os gritos continuavam. Eu continuei correndo e muita gente passando por mim berrando:

__É meu filho! Dizia um

__Acudam minha filha! Gritava outra.

__Protejam meu neto.

Eu peguei a história do meio, mas despois me contaram timtim por timtim. Aquele foi o melhor dia na escola. Não levei falta na primeira aula, e ainda me vinguei do Bola-de- Gude, que viva mexendo na mochila dos alunos, inclusive no meu diário, como não sabia ler se vingava rasgando as páginas, aliás, foi ele a causa do furdunço todo.

Tudo começou quando seu Facão passou pela escola e ouviu os gritos de um aluno.

__Alguém está surrando um aluno. Gritou ele. A notícia correu como um rastilho de pólvora.

Foi aquele alvoroço: pais, mães, tios, tia, madrastas, padrastos, irmãos, avós, curiosos invadiram a escola descabelados, de olhos arregalados e respiração ofegante. Seu Chuvisco saiu desesperado com bengala na mão gritando, banguela:

__É o meu neto. Ele brigou na rua ontem com o filho do Zé do Machado .

Dona Maricota desmaiou achando que dona Candinha estava dando uns cascudos em Dente-de-leite por ter roubado sua feira no mercado. Dona Risoleta, que sempre pensa o pior, saiu bradando aos quatro ventos:

___Tem bandidos armados na escola, matando todos os alunos e professores. Socorro! Chamem a policia.

Pronto!!!! Este foi sinal. Quatro policiais no colégio. Gritaria total, professores saíram de olhos arregalados perguntando o que havia.

A professora de Religião, dona Clemência, já de bengala, a beira da aposentadoria, saiu nos corredores falando alto:

___Socorro!!! Protejam os alunos!!! Ai meu Deus... vou morrer e nem vou desfrutar minha aposentadoria, mas ainda bem que professor de escola pública brasileira não passa pelo purgatório, nem pelo inferno, é céu em linha direta.

O professor de matemática com o nervo ciático inflamado exclamava desesperado.

___Corram meninos, cronometrem o tempo, façam as contas dos feridos, mortos e desaparecidos, aproveitem e chamem a ambulância que vou ficar por aqui mesmo... oh meu Deus!, matematicamente, a probabilidade de eu morrer na escola era tão pequena....

A professora de História, Dona Lizinha, tentou continuar a aula acalmando a turma, argumentando historicamente...

___Nada de pânico. Vamos ficar e presenciar este momento da história de nossa escola, Vamos ser testemunha ocular deste acontecimento. Declarou com muita ênfase. Coitada de dona Lizinha!!! Não conseguia sair da sala caminhando, imagine correndo... Estava com crise de coluna, como seu dinheiro de vinte horas era insuficiente para pagar o ortopedista e a consulta pelo SUS demoraria três meses foi obrigada a ir trabalhar assim mesmo, de cadeira de roda.

O professor de Geografia resolveu sair, mas antes, informou aos alunos:

___Meninos e meninas, fiquem aqui para eu construir o mapa da situação. Nada de pânico, mas se houver qualquer anormalidade pulem as janelas, mas não quebrem as pernas - os hospitais estão lotados e todo o governo e imprensa estão investindo na Copa do Mundo, e na Copa das Confederações, portanto, a desgraça de todos nós não dará IPOPE. Nada de morrer para chamar a atenção, a hora não é propicia.

O professor saiu da escola e montou o panorama da situação.

Policiais correndo de um lado para outro para detectar o ponto alto dos gritos, mas as gritarias de todos no pátio os confundiu.

O policial fala para outro:

__O que esta acontecendo??

O segundo policial:

– Por que a gente foi chamado?

Terceiro policial:

__Por que tem alguém querendo matar um aluno.

__Onde? Pergunta o quarto policial.

Olhando de repente para um tumulto que se formou em uma sala.

___Ali! Percebeu o segundo policial.

__Vamos todos.

Chegando lá seu Passildo estava desmaiado porque jurava que era seu filho, Rufino, que brigou com o chefe da Gangue do Morro preto.

__O que está acontecendo??

___Tem um aluno ali gritando. Um bandido está matando ele – declarou um aluno

__Afastem todos. Vamos arrombar a porta!

Os policiais arrombaram a porta e entraram na sala. Atrás dela estava um aluno acuado e com o nariz sangrando, mas nada do bandido.

__Quem foi o elemento que te bateu , menino?

__Foi o elemento porta, seu policia, bem na hora que o senhor entrou.

___Mas que coisa menino... e tu tava gritando por quê?

__Eu fiquei trancado aqui.

Os policias falaram rápido:

____Caso resolvido. Vamos embora rapazes. Mas a coordenadora abordou um policial e indagou:

___Que ação mais desastrada!!!Vem cá seu policial, como o Senhor arromba esta porta e fere menino? O senhor é policial mesmo?

Foi aí que todo mundo percebeu o impercebível na hora da confusão. Os policias eram mais novos que o normal. As roupas estavam grandes demais para dois deles. As fardas não eram de policia militar, civil. Eram roupas de segurança de uma empresa particular e estavam com os rostos escondidos com boinas grandes que escondiam testa, olhos, nariz ficando apenas o queixo a vista.

Foi aí que o seu Peristaco adentra na cena da confusão com um cinto na mão esbravejando:

___Camaleão, jurubeba, Espeto e Bizunga o que vocês estão fazendo com a roupa dos seus tios? Quem dirigiu este carro?

____ Foi o Jurubeba. Ele está tirando a carteira. Informou Bizunga

__Que mentira é essa menino? Ele nem tem idade. Disse seu Peristaco.

___ Mas ele viu onde Tio Zeca guardou a chave e nois veio para a escola.

__Vocês podiam ter machucado alguém seus fedelhos. Esbravejou o professor de Geografia

___Que nada – falou a coordenadora – eles podiam ter se machucado. Já pensou se tivesse bandidos na escola?

_A gente sabia que não tinha bandido na escola, fessora – declarou Camaleão.

___Como assim? Todo o bairro está aqui achando que há bandidos aterrorizando a escola, porque vocês pensariam diferente? Indagou a coordenadora.

___ Foi nois que trancaou o Bola-de-gude aí na sala, só pra vê ele gritando de medo. A gritaria tava tão boa que a gente resolveu fingi de pulicia. Disse Espeto. Depois dessa declaração todos voltaram a rotina normal e a escola continuou a chata de sempre.

Assinado Suor.

Luz Ribeiro, 28 de junho de 2013