MEDO DE AVIÃO
Juvenal não sabia definir direito o nome, uns diziam que era aerodromofobia, outros afirmavam aeronausifobia, enfim. Ele tinha pavor de avião. Buscou todo tipo de tratamento; terapia, meditação, regressão, benzedeira...o prejuízo era incalculável por causa do seu medo. Evitava falar no assunto, assistir notícias sobre catástrofes, documentários...
Depois de algumas sessões de terapia e meditação chegou o grande dia, Juvenal viajaria ao lado do novo sócio da empresa. Por causa do seu inglês fluente tinha sido escalado, sem poder dar justificativa concordou, claro...
Juvenal não sabia definir direito o nome, uns diziam que era aerodromofobia, outros afirmavam aeronausifobia, enfim. Ele tinha pavor de avião. Buscou todo tipo de tratamento; terapia, meditação, regressão, benzedeira...o prejuízo era incalculável por causa do seu medo. Evitava falar no assunto, assistir notícias sobre catástrofes, documentários...
Começou com 16 anos no fim das férias. Estava voltando de Fortaleza com a família quando uma pessoa fumou dentro do banheiro e houve um princípio de incêndio... o avião se preparou para pousar no mar. O teor psicótico se instalou. Passou a ter uma crise de ansiedade intensa, um ataque de pânico quando o assunto era viajar de avião. Por um longo período tentou conversar com pilotos, engenheiros de voo, comissárias, mecânicos de avião, controladores de voo, nossa, ouviu cada história
que o seu desequilíbrio emocional resolveu permanecer na sua mente (tipo assim: daqui não saio, daqui ninguém me tira).
Alguns anos depois, como representante comercial de uma grande empresa voou mais oito vezes. Ele fazia de tudo para não ser indicado para voar, inventava desculpas, matava tia, sogra, cunhado... Quando não tinha como escapar, tomava um ansiolítico, viajava completamente dopado. Nesse estado de sonolência resolveu enfrentar a fobia. Passou a viajar na janela e ficava olhando para as nuvens, queria provar a si mesmo que não nasceu com medo, aquilo era fruto da sua imaginação.
Jurava que todas as vezes que viajava e olhava pra fora via uma girafa na janela do avião mostrando a língua. Não entendia se era o efeito do remédio. Adiantava nada pedir alguma bebida, nem ir ao banheiro lavar o rosto, quando voltava lá estava aquela pescoçuda na sua janela. Não era a primeira vez...ele decidiu nem comentar em casa. Se o fizesse seria taxado de maluco. Uma vez, de volta pra casa em estado de sonolência , ficou imaginando por quê logo uma girafa, com tantos
animais menos exóticos? Não encontrava motivo. Ele achou por bem guardar segredo, era sinistro aquilo, muito sinistro...
Teve jeito não, a empresa onde Juvenal trabalhava estava em fase de crescimento e ele foi escalado para fazer uma longa viagem internacional. (A sua promoção dependia do seu desempenho na viagem) Quando o diretor o chamou e disse o lugar ele quase teve uma síncope: Nairobi, Kênia. Juvenal ficou dias sem dormir, imaginou a turbulência...Acabou buscando ajuda psiquiátrica. Comentou da girafa na asa do avião... o médico o tranquilizou dizendo era um tipo de autodefesa que a sua imaginação havia criado, justamente para espantar o seu medo, era um apoio, uma segurança para ele. (Ele pensou consigo: "entendo, doutor, se a turbulência for muito forte, eu convido a girafa pra entrar e me agarro no pescoço dela...")
Depois de algumas sessões de terapia e meditação chegou o grande dia, Juvenal viajaria ao lado do novo sócio da empresa. Por causa do seu inglês fluente tinha sido escalado, sem poder dar justificativa concordou, claro...
Feito todos os procedimentos, eles já estavam acomodados nos seus lugares no avião, o novo chefe, um senhor de uns 60 anos, preferiu que Juvenal viajasse na janela, ele também tinha pavor de voar. Juvenal ofereceu Rivotril (ansiolítico) ao chefe, mas ele preferiu Whisky.
Depois de mais 15 horas de sufoco e turbulência...chegaram. Juvenal dopado ouviu o chefe com a voz embargada dizer:
_ É por nada não, Juvenal, toda hora que eu olhava na direção da sua janela, do lado de fora tinha uma girafa te olhando e de língua pra fora.
Juvenal preferiu ficar calado, devia ser efeito da bebida dele. "Cada uma que se ouve, a girafa era exclusividade dele, não do chefe".
No roteiro estava previsto uma visita ao centro de Negócios e Cultura, Nairobi Stock Exchange (NSE), onde fecharam uma parceria. Dois dias depois foram ao Nairobi National Park, na região sudeste do país. Um passeio de um dia, das 6 horas da manhã até 5 horas da tarde. E o cenário, aqueles campos, aquele verde e...inúmeras girafas, grupos de girafas, calmas, tranquilas, lindas...Quando estavam retornando do NNP havia um grupo de girafas maasai. O macho impediu o avanço do carro, encarando de um jeito desafiador. Do meio das girafas saiu uma fêmea na direção do carro...bela, cheia de charme e encantos, foi na direção
de Juvenal, abaixou o pescoção e sussurrou no seu ouvido:
_"Você por aqui, bonitão...tava com saudades...eu sabia que você viria... eu te amo tá...Ju...Ju..."
Juvenal estava sendo chacoalhado por aquele senhor desconhec...(ah, era o seu novo chefe...) quando acordou...
_Ju...Ju..Juvenal, Juvenal...chegamos. Depois de fecharmos a parceria vamos ao Parque Nacional de Nairobi. Visitaremos o
Giraffe Center também...quero ver aquelas girafas de perto!