O ENVIADO ESPECIAL DO GRANDE TROVÃO QUE RESSOA

No meio da selva uma tribo de índios num ritual de danças e cantos, invoca forças sobrenaturais. O destino da tribo está nas mãos do grande curandeiro, feiticeiro e técnico de futebol demitido, Jacapaiuça Tuioça.

-Eu vejo. -dizia o curandeiro enquanto entrava numa espécie de transe.

Os índios mais velhos faziam um círculo e ajoelhavam na areia branca que o remanso do rio trazia para a enseada.

-Nosso destino depende de homem que virá do céu, o emissário do grande Trovão que ressoa.

-Óóóóóóóóóóóoóóóóóóó!-gritaram todos.

-Homem virá do céu em asas dadas por Grande Espírito.

-Óóóóóóóóóóóoóóóóóóó!

A alguns quilômetros dali.

-Nabuco, tem certeza que é por aqui? -perguntava Eulália, olhando no mapa.

-Nunca estive tão certo em toda a minha vida..

-Não seria melhor...

-De maneira alguma. Jamais! Não vou pedir ajuda...

-Não ajuda. Auxílio de um guarda rodoviário.

-Alguma coisa dentro de mim diz que estou indo para o lugar certo.

O velho Chevrolet de Nabuco cortava a estrada (havia escrito num adesivo no vidro de lado: Corinthians até a morte), puxando uma carreta, e no bagageiro muitas e muitas coisas.

Enquanto isso na tribo, o feiticeiro erguia as mãos para o céu:

-Ele está se aproximando. O nosso destino... O Grande Homem que guiará o nosso destino.

-Oóóóóóóóóhhh! -exclamaram todos.

O velho Chevrolet ia mais por instinto que pelas mãos de Nabuco:

-Não sei, Nabuco, mas não seria prudente...

-Eulália, parece que éstá com medo!

-Eu não estou com medo, é que essa área simplesmente não está no mapa.

-Eu disse pra você não comprar mapas daquele sujeito. Que apareceu vendendo na porta de casa.

-Mas foi você que se interessou pelo mapa.

Na tribo, o feiticeiro:

-Tudo foi feito de acordo com as forças cósmicas. O emissário indicou o caminho. O indicado. Ele está se aproximando. Sinto ele se aproximando. O senhor que guiará os nossos destinos.

Enquanto isso na tribo:

-Posso senti-Io. -dizia o feiticeiro, -Aqui, há poucos passos.

Nisso surge, aponta o velho Chevrolet no meio da tribo. O mesmo Chevrolet com o qual Jânio Quadros desfilou após ser eleito.

Todos os índios correram apavorados. O feiticeiro tentava acalmá-los:

-É o senhor do nosso destino . Ele chegou.

-Mas ele não ia vir do céu? -perguntou um silvícola mais velho.

-Sei lá... -disse o feiticeiro, -Hoje em dia, tudo caro. Por terra fica mais em conta.

-Mas o senhor do nosso destino chegou nessa coisa?

-Coisa não, -gritou Nabuco, -Olha lá como fala. Isso aqui foi do meu avô. Ele e a minha avó fizeram coisas dentro deste carro.

Todos se ajoelham e se curvam diante de Nabuco e começam um coro:

-FMI! FMI! Rayovac. Tupinambá, Cotuba, Tubaína. Buani! Buani! Buani! Ouapar. Cuapará! Cuapará!

-Eu não acredito, Nabuco, eles estão te cultuando como um espírito de esperança o que eu acho impossível.

Um selvagem se aproximou:

-Estamos esperando para mostrar seus poderes.

-Bem....

-Cuapará! Cuapará! Cuapará!

-Povo da tribo espera demonstração de poder de grande cabeça cercado por grandes orelhas.

-Bem... -de repente Nabuco viu uma flecha apontada em sua direção.

Os índios estavam ficando impacientes.

-Vamos, povo de tribo quer ver poder de grande homem de grande barriga.

-Bem....

O semblante daqueles selvagens mudou. Nabuco teria de mostrar que tinha poderes. Veio-lhe uma coisa na cabeça. Uma brincadeira de quando era pequeno e fazia na escola. Colocou a mão sob a camisa na direção do sovaco, pôs a mão no sovaco, depois de ter cuspido nela e prendeu-a com o braço num movimento brusco que produziu um ruído semelhante a um póft-plóf!

Imediatamente os índios se puseram num círculo em volta de Nabuco num gesto que pareciam estar diante de um guerreiro sagrado. Todos se ajoelharam, com os braços erguidos pro céu.

-Ariá-seú! Ariá-seú! Ariá-saú!

-Homem de grande cabeça mostrar ter poderes. Agora mais um teste. -o feiticeiro levou Nabuco até um monte de gravetos. Vamos ver se Homem de Grande Nariz pode acender fogueira.

-Fácil.. - tirou um isqueiro do bolso, riscou e acendeu a fogueira.

-Oóóóóóóóóóóhhhh: -exclamaram todos -Homem que faz sair fogo de bolso.

-Isso é fácil. Você vai na banca do Ditinho, compra dois pacotes de bolachas e vem um isqueiro de brinde.

O celular de Nabuco começa a tocar, os selvagens se afastam.

-Uga. Uga..

-É o meu celular.

-Pra que serve, Grande Nariz?

-Pra eu falar com outra pessoa que fica longe da gente.

-Grande Nariz é mesmo o enviado especial. Ele tem conversa direta com Apanaã, o Grande Criador. Apanaã, o Trovão que ressoa entre as nuvens, os raios durante a grande tempestade.

-Alô, quem? Ah... De nada..

-Que que foi, Grande Nariz Vermelho? Ou Grande Pimentão!

-Foi engano..

-Então tenta falar com Grande Apanaã, o Criador da tribo Peranaua.

Nabuco hesitou, a massa de índios avançou para seu lado. Flechas foram apontadas. Nabuco ficou apavorado.

-Deixa-me ver. Nabuco disca número, espera. Os índios cada vez mais impacientes. Disca novamente. Espera. Olha para o feiticeiro com semblante frustrado:

-O celular de Apanaã deve estar desligado. Só dá fora de área ou cai na caixa-postal.

Leozão Maçaroca
Enviado por Leozão Maçaroca em 08/06/2013
Código do texto: T4330912
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