O CIDADÃO EMPROADO E O NEURÓTICO DE GUERRA

Manoel de tal, mais conhecido por Manezinho, foi lutar nos campos da Itália durante a segunda guerra mundial. Pracinha da FEB embarcou em um navio, feliz, como fosse participar de uma grande aventura. Sujeito simples , porém brioso e corajoso, não sei se foi convocado ou se oferecera como voluntário. Ao pisar em terras italianas, estava ansioso pelo batismo de fogo. O batismo não demorou muito. Participou da tomada de Monte Castelo. Teve seu batismo sob forte fogo de metralha, obuses, um inferno de ferro e fogo. Viu seus companheiros estraçalhados por explosões de minas terrestres abatidos por balas de fuzis e metralhadoras ponto trinta e cinqüenta.

Finalmente acabou o conflito mundial. Voltou para casa com os nervos em frangalhos. “Enfraqueceu a cabeça” como diria sua mãe. Foi morar no sítio da família, afastado do convívio com outras pessoas. Parolava sem parar. Falava pelos cotovelos, palavras sem nexo. Acordava aos gritos, com pesadelos constantes. Ao andar pelos pastos, ao ouvir um avião sobrevoando a região entrava em pânico, escondia-se em grotas ou moitas de bambus. Sua mãe evitava levá-lo em festas e missas, com medo que ele molestasse as pessoas com sua neurose. E assim ele ia vivendo, o governo estabelecera-lhe uma “esmola” mensal a título de soldo por ser ex- combatente.

Certa vez, dia de Santo Antônio, sua mãe resolvera rezar um terço no sítio, costume que ela abandonara desde sua volta da guerra. Convidou todos os vizinhos e parentes. No dia da festa o terreiro ficou cheio de convidados, por não caberem na pequena casa. Manezinho a princípio comportava-se bem. De repente apareceu um dos parentes em um Jeep. Esse cidadão era um sujeito pretensioso, vaidoso, metido a rico. Desceu do veículo acompanhado da noiva. Ele vinha com um terno de linho branco, gravata de seda, causando estranheza ao povo simples do lugar. Ele tinha apelido de “João Tatu” que ele abominava.

Manezinho ao ver o cidadão todo emperiquitado já implicou com a “metideza” e a empáfia dele. Gritou a plenos pulmões:

-Ei João Tatu, porque você não enfia três dedos no c...?

Sua mãe imediatamente ralhou com ele:

- Que é isso, Manezinho, tenha dó...

Ele respondeu na bucha:

-Então enfia um só...

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HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 03/06/2013
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