Meu velho pai e a sua língua portuguesa brasileira 3
Há na língua portuguesa expressões, conjugações, substantivos, colocações inerentes à natureza da própria língua, que a diferem e que a torna tão especial para nós que a falamos, dentro destas características próprias da nossa língua há aquelas que não se podem traduzir ou não tem tradução para outras línguas, sendo assim da mesma forma em outras línguas que nos são estrangeiras, agora, a língua portuguesa que o meu pai falava, em certas expressões não existem nem ao menos uma palavra que se equipare, acreditem não são invenções, ele falava assim mesmo.
Um dia por volta dos meus seis anos de idade acompanhei o meu pai quando este ensinava a minha mãe a direção de um carro, era um fusca 1973, branco, motor 1.300, o diálogo foi assim:
Meu pai:
- Fia, Coloque o carro em ponto morto, fanciona o motor, debréia, coloca a primeira dê seta e sai com o carro, depois debréia, coloca a segunda e fique na direita...
É claro que a minha mãe não entendeu nada deste negócio de “debréia” mais vamos lá...
Meu pai: - Quando chegar na esquina você pisa no freio, diminói e debréia para o carro não morrer...
Resultado, na esquina estava um grupo de pessoas que atravessavam a rua, a minha mãe não entendia o meu pai, que cada vez falava mais alto e rápido: - Diminói Fia, Diminói Fia, Debréia, Diminói... O pessoal vendo aquele fusca vindo acelerando, um homem gritando, uma mulher sem saber o que estava fazendo, uma criança se acabando de tanto rir, foi um corre pra cá, um corre pra lá, uns que atravessavam a rua e paravam outros que não, na hora h meu pai tomou o controle da direção pisou no freio e jogou o carro em um terreno baldio, minha mãe ficou depois deste susto uns belos anos sem voltar a pegar no carro...
E eu trinta e poucos anos depois quando dirijo ainda lembro-me de meu pai dizer: diminói Fia, debréia Fia...