CASAMENTO NO ARRAIÁ VERIDIANA (FESTA DE SÃO JOÃO) - PEÇA DE TEATRO
CASAMENTO NO ARRAIÁ VERIDIANA (SÃO JOÃO)
CENÁRIO I
Uma casa humilde com uma mesa forrada com toalha xadrez, alguns utensílios sobre a mesa.
CENÁRIO II uma área com uma mesa e algumas cadeiras para o juiz, padre e delegado.
Elenco:
Comadre Ernestina ( mãe de Aparício)
Aparício ( o noivo)
Mariquinha (a noiva)
Rosinha ( filha do patrão)
Almir ( pretendente da Rosinha)
Compadre Tiburcio (Patrão e padrinho)
Dr. Geracino (Delegado)
Mandioca (soldado)
Inhame (soldado)
Padre Macambira
Juiz de Paz Seu Cantídio
Forrolé ( Grupo de dança formado por meninas e meninas
Trilha sonora:
Vira e Mexe – Luiz Gonzaga
Dança Mariquinha – Luiz Gonzaga
Forró de Mané Vito – Luiz Gonzaga
Pagode Russo – Luiz Gonzaga
Músicas de Dominguinhos
A Treze de Maio
Virgem Mãe Aparecida
Figurinos típicos de caipiras da roça
PRIMEIRO ATO
Abertura : Música, Vira e Mexe.
Locutor
Esta é a história de Aparício que é apaixonado pela Rosinha, que é comprometida com Almir, que buliu com Mariquinha, que é apaixonada pelo Aparício, que queria ver o capeta mas não queria saber da Mariquinha, que se entregou ao safado do Almir, pretendente da Rosinha que não queria saber do Aparício...... Êta, vamos parar por aqui com este forró de gato e vamos aos fatos.
Tudo parecia calmo naquela tarde de junho no arraial da Fazenda Veridiana até que:
Comadre Ernestina está na sala costurando uma calça. Aparício está sentado no chão ouvindo uma música no rádio .
Início do ato
Tibúrcio – ( acompanhado do delegado e dos dois soldados bate palmas) – Ô de casa!!
Dona Ernestina – Ô de fora, se for bonito entra e se for feio vá embora!!
Tibúrcio – Sou eu cumade, o Tibúrcio.
Dona Ernestina – Então é bonito! Pode entrar cumpade .
( Tibúrcio entra acompanhado do delegado e dos soldadaos)
Dona Ernestina –(pegando as cadeiras para as visitas enquanto Aparício continua ouvindo o rádio) Se aboletem nas cadeiras! A casa é de pobre mas recebe os seus convidados.
Dona Ernestina – Aparício, desliga a droga deste rádio e venha dar a bença pro padrim menino
(Aparício desliga o rádio se aproxima do padrinho ) Bença padim.
Tibúrcio - Bença menino.
(Aparício fica de frente à plateia para ouvir as conversas)
Dona Ernestina – A que manda esta visita tão repentina cumpade?
Tibúrcio – Sabe cumade, quem mexe com rabo de saia da minha cobertura ou casa ou morre!
Dona Ernestina – É deveras cumpade, quem é o sujeito?
Tibúrcio – É o meu afiado Aparício.
Dona Ernestina – (engasga com a saliva) O Aparício!!! Confesso que faço gosto cumpade de meu fio casar com a Prenda Rosinha....
Aparício – ( Vira alegre para a plateia e dá um aparte) Oba, tirei a sorte grande, vou casara com a menina Rosinha oxente!!!
Tibúrcio – Não é com a minha filha Rosinha não, cumade! É com a minha afiada Mariquinha que já tá buchuda.
Aparício – (mostra cara de susto e se volta para o padrinho) – Com aquele tribufu eu não caso! Mas de jeito maneira! Prefiro a morte padrim!!!
Dona Ernestina – Não faça esta desfeita para o seu padrim, menino!!
Aparício – Claro que eu faço. Vou é abrir unha mãinha, com aquela bruaca num caso! O fio nem(é interrompido pelo padrinho)
Tibúrcio – Não faltará nada para seu fio, o zelador do chiqueiro, meu cumpade Zé Mocotó vai lhe dar um bom dote! (bate nas costas do Aparício)
Aparício – Com aquele urubu num caso não.
Tibúrcio – (Chama o Mandioca e o Inhame) Leve o Aparício lá no chiqueiro para ele ver a castração dos leitões) Os soldados pegam o Aparício pelo braço e o levam ao chiqueiro)
Neste momento coloca se a sonoplastia de porcos gritando e depois de alguns segundo os soldados retornam com Aparício totalmente impressionado.
Tibúrcio – E ai menino, pensou bem ?
Aparício – Prefiro a morte padrim, mas não caso com aquela sapucaia!!!
Tibúrcio – Claro que se você não quiser reparar o erro eu não vou te matar, afinal de contas você é meu afiado.
Aparício – (Mostrando alívio) – Obrigado padrim.
Tibúrcio – (puxa o facão da cintura e faz o gesto de castrar) Mas farei o que você viu fazer com os porcos da engorda!
Aparício – ( Colocando as mãos abaixo da virilha) Sendo assim eu caso, eu caso, eu caso, eu caso!!!
Tibúrcio - Que bom menino que você democraticamente aceitou o meu argumentio!!!! Vou mandar a Mariquinha para vocês se acertarem.(se despede da dona Ernestina) Não se preocupe cumade, que o casório e o arrasta pé é tudo por minha conta. Vai ser uma festa de arromba!
Aparício – ( depois que o padrinho sai com o delegado e os soldados) - A festa pode ser de arromba! Mas que está arrombado sou eu que vou casar com aquela arrombada.
Fim do primeiro ato
SEGUNDO ATO
Aparício está sentado em uma cadeira. Entra Mariquinha com as dançarinas do forrolé fazendo coreografias ao som da música Dança Mariquinha de Luiz Gonzaga. As dançarinas devem estar vestidas à moda caipira. Mariquinha usa como figurino, uma barriga de gravida, cabelos assanhados, dentes podres e participa da coreografia com as demais dançarinas. Assim que acaba a música e a coreografia, as dançarinas saem do palco e Mariquinha pega uma cadeira e senta do lado do Aparício, que foge dela . A cena deve ser repetida por quatro o cinco vezes, até que acabem ficando lado a lado.
Mariquinha – (Tenta pegar na mão do Aparício)
Aparício – (Tira a mão de Mariquinha bruscamente)
Mariquinha – Aparicinho, me dê uma bicota vai..
Aparício –(cospe no chão) Cruz credo, sai capeta
Mariquinha – Aparícinho, se num gosta nem um tiquinho assim de eu? (Faz um gesto com o dedo)
Aparício – Nem um ticão!! (faz um gesto com os braços)
Mariquinha – Aparicinho, você vai ser o pai do meu fio , me dá um beijinho de amor.
Aparício – Cruz credo lezeira, esse fio nem é meu!!
Mariqunha – Aparicinho, pro quê que a lua está se escundendo? Ela tá com vergonha agora?
Aparício – Sua burra num vê que a nuve tá cubrindo ela!!!!
Mariquinha – Prá menina Rosinha cê disse que a lua tava com virgonha, quando ela lhe preguntou.
Aparício – Ela é o amor da minha vida!
Mariquinha – Mas i ela num é pro teu bico! Ela tá prometida do seu Almir. (dá uma olhada descarada para o alto) Que ome maravilhoso! Me fez ver a lua de dia e o sol à noite!
Aparício – Com você eu só vou ter noite de lua cheia!
Maruqinha – Nossa, quer dizer que você vai se sentir feliz Aparicinho?
Aparício – Vou deitara com um lobisome.
Mariquinha – (com jeitinho carinhoso, passando a mão carinhosamente na barriga) Quero que meu fio saia bonito, garboso, forte que nem um touro. Parecido com o pai dele!
Aparício – ( se sentido todo, todo) Pelo menos se parecer comigo que vou ser o pai dele, já é alguma coisa!
Mariquinha –Num tô falando de ocê Aparicinho! Tô falando do pai verdadeiro. Você é o pai que vai criar ele.
Fim do segundo ato
TERCEIRO ATO.
Cenário de casamento já está pronto. Mesa, Juiz, delegado, padre, noivos, parentes , padrinhos de casamento, neste caso Almir e Rosinha.
Trilha sonora Virgem Mãe Aparecida enquanto o locutor fala.
Locutor: Pobre Aparício, que ama Rosinha, que está prometida para o safado do Almir, que buliu com Mariquinha, que ama Aparício que só está casando para não perder os documentos e ainda vai ter que criar o filho do Almir, que vai se casar com a Rosinha . Pobre Aparício, que triste sina a sua!!! Mas leva por um lado bom!!! Você vai ganhar algumas cabeças de gado e de porco para começar a vida e o que mais gratificante! Já ganha um casamento completo com mulher e filho e mais esta festa de arromba! Arromba? Pobre e arrombado Aparício. É a vida de quem mora no arraial Veridiana.
Juiz de Paz – Que se aproximem os noivos! Estamos aqui no arraial Veridiana para realizar este grande evento. O casamento de Aparício e a bela Mariquinha. Que se aproximem os padrinhos.
Rosinha e Almir - (se aproximam)
Juiz de Paz – Venha assinar o livro do cartório
Aparício – ( se recusa assinar o livro mas o delegado o faz assinar na marra)
Mariquinha – ( sorri pra todo mundo a toda hora) Tô filiz por demais na vida!!!!
Juiz de Paz – Agora que já cumprimos os trâmites legalizados das legalidades das legalidades legislativas das leis do Brasil, com o ato civil cívico do casamento, passo a palavra ao prior Padre Macambira.
Padre Macambira –( Abre uma bíblia cheia de pó(talco) Sacode enchendo o ar de talco) Meus filhos, o que Santo Antônio une no São Joao só a morte separa. Esta é a palavra de Deus - Mariquinha Procópio Jerimum Macaxeira, é de livre e espontânea vontade que você aceita o Senhor Aparício como seu legítimo esposo?
Mariquinha – É. Sim. Acho que sim. Aceito. Acho que aceito. Eu gostio muitho do Aparicinho e tudo que pedi ao Santo Antonio, deu certo. Um fio de um ome bonitho! E o casamento com o amor da minha vida, o paricinho.
Padre Macambira – Aparício Pepino Cacimba do Brejo, é de livre e espontânea vontade que você aceita a Mariquinha Procópio Jerimum Macaxeira como sua legítima esposa ?
Aparício – Não!
Tibúrcio – ( Abana o facão e faz o gesto característico para o Aparício)
Aparício – Sim.. Não..Sim...Pedi a Santo Antonio para casar com uma Rosa, mas ele ferrou comigo! Deu-me só os espinhos da Rosa. Padre, cê disse que só a morte nos separa? Então já estou separado seu padre!!
Padre Macambira – Como assim menino!!
Aparício – É que casando com esta jabiraca eu já tou morto!!
Padre Macambira – (Faz a pergunta costumeira) Alguém tem alguma coisa a dizer fale agora ou se cale para sempre!
Almir – Se eu falar quem tá lascado sou eu!!!!
(neste momento Aparício sai do sério e parte prá briga contra o Almir)
Aparício – Seu salafrário, eu acabo com você!
(o pau canta )
Delegado e os dois soldados apartam a briga e prendem os brigões. Neste momento em que os dois são interrogados à mesa do casório, entra o forrolé com com os dançarinos dançando uma coreografia ao som da música Forro do Mané Vito de Luiz Gonzaga. Assim que termina a performance o Padre Macambira dá a palavra final
Padre Macambira – Em nome de Santo Antonio, de São João e São Pedro, eu os declaro marido e mulher e vamos logo para os comes e bebes e forró que estou com o bucho roncando.
(entra o forrolé que faz parte da quadrilha e ao som do Pagode Russo de Luiz Gonzaga os integrantes da quadrilha entram e tomam posição para a performance.Depois as músicas de Dominguinhos para a quadrilha.
FIM