EM UM QUARTO DE MOTEL QUALQUER...
 
Dayane está deitada na cama, coberta até o pescoço, e faz caretas de prazer acompanhadas por alguns gemidos. Debaixo das cobertas, é possível notar que há alguém se movimentando próximo à cintura dela. Aos poucos a careta de prazer de Dayane vai sendo substituída por uma de desconforto. Ela começa a mexer o tronco, tentar se virar, até que desiste.
 
DAYANE: - Chega, Juliano! Chega!
 
Juliano continua debaixo das cobertas se mexendo.
 
JULIANO: - Peraê, Dayane! Peraê!... Eu tô quase lá!
 
DAYANE: - Não, Juliano! Você não está quase lá!... Sai daí que tá me incomodando!
 
JULIANO: - Calma, amor... Eu tô quase encontrando a sua protuberância!
 
DAYANE: - Juliano, sai daí! Você num tá nem perto da minha protuberância...
 
JULIANO: - Tô sim... Tava na ponta da língua...
 
DAYANE: - Olha, eu tô avisando! Sai daí, ou vou peidar e prender tudo dentro dessa coberta... Você sabe que comi Yakisoba de camarão ainda agora...
 
Juliano sai debaixo da coberta. Está suado e com os cabelos despenteados. Ele senta-se ao lado de sua namorada na cama, coberto até a cintura.
 
JULIANO: - Eu estava quase lá. Poxa, depois você reclama... Porca!
 
DAYANE: - Que tava quase lá o quê?... Tava nem perto, garoto!... Eu num tava conseguindo me concentrar, tava incomodada.
 
JULIANO: - Incomodada com o quê? Euhein! Quebra clima do caramba...
 
DAYANE: - É essa barba, Juliano. Ela num tá legal, sabia?
 
JULIANO: - Como assim?... Ontem você disse que tava sexy!
 
DAYANE: - Disse nada disso! Eu disse que barbudo você fica mais sério. De sério pra sexy demora muito né?
 
JULIANO: - Ouvi errado. Mas a barba tá linda! E olha que eu nem desenho ela.
 
DAYANE: - Num tem nada de lindo aí! Ela tá grossa, tava me espetando, tava em atrito com meus pelos púbicos... Tira essa pentelha da cara, por favor! Ela dá choque!
 
JULIANO: - Mas ela tá maneira. Me sinto mais bonito com ela. Você não curtiu meu visual sério ontem?
 
DAYANE: - É, amor, mas ontem você não tava esfregando ela em mim. Tá dando atrito, choque sabe? Bem aqui na dobrinha... Depois inflama, aí você vai achar que tô ou com chato, ou com cândida!
 
JULIANO: - Claro que não!... Eu sei separar as coisas!
 
DAYANE: - Sabe nada, Juliano! Naquele dia que menstruei na hora “h”, você achou que tinha perfurado meu estômago e que eu estava prestes a morrer... Tá vendo, a barba irritou minha pele! (olhando por dentro da coberta)
 
JULIANO: - Então quer dizer que não podemos mais transar, é isso? Paguei o motel, período de 12 horas, mas num vou ficar nem trinta minutos?
 
DAYANE: - Ué, podemos transar sim! Só deixe essa barbicha inconveniente longe de minhas partes.
 
JULIANO: - Mas são as preliminares, Dayane! São as pre-li-mi-na-res! Depois você vai reclamar que sou afoito, que vou direto ao ponto e não me preocupo com o SEU prazer!...(se aproximando dela). Ah, vai amor... Só uma esfregadinha de leve...
 
DAYANE: - Para com isso, cara! Tu nem curte isso! Fica fingindo que gosta de fazer!
 
JULIANO: - Claro que curto, tanto que faço!
 
DAYANE: - Juliano, eu já via cara de nojo que você faz quando faz isso comigo! Parece que tá chupando limão, garoto!... Aliás, você só faz isso, pois eu reclamei. Num é espontâneo!
 
JULIANO: - Claro que gosto... Faço porque quero. Depois não faço, aí tu vai contar pra suas amiguinhas do salão, que eu sou afobado, que num sei fazer direito.
 
DAYANE: - São poucos os homens que realmente gostam de fazer sexo oral na namorada... E eu num fico expondo minha vida não tá? Você que contou pra todos seus amigos quando transamos pela primeira vez!
 
JULIANO: - Contei nada... (fica um tempo considerável em silêncio). Tá, contei pro Nelson... E apenas comentei com o Jacinto.
 
DAYANE: - E pro Luan e pro Caio?
 
JULIANO: - Ah, pra eles eu contei mesmo, mas só para tirar uma onda. Eles se sentem os fodedores do Brasil!
 
DAYANE: - Entendi... Enfim... En... Fim... Vamos continuar, ou...?
 
JULIANO: - Ah, sei lá. Você me interrompeu e me ameaçou com peido...
 
DAYANE: - Eu estava brincando. Era pra você tirar essa barba imunda de cima de mim...
 
JULIANO: - Como é que é?
 
DAYANE: - Como é que é o quê?
 
JULIANO (levantando-se da cama): - O que você falou da minha barba?
 
DAYANE: - Barba imunda... Calma, é jeito de falar!
 
JULIANO: - Jeito de falar? Olha aqui, Dayane, me respeita, tá ouvindo? Eu lavo minha barba com Garnier Frutics Hidra- Cachos, entendeu?... Mantenho essa barba lisa, fofa, esvoaçante... Imunda nada!
 
DAYANE: - Ih, calma!
 
JULIANO: - Agora você vê! Vem falar da minha barba que espeta, que é imunda... Quantas vezes eu reclamei desse molho de creme que você passa no cabelo, hein?... Quilos de Neutrox nesse cabelo, aí fica aquela baba amarelada escorrendo pelo pescoço, eu vou beijar e fico com a beiça toda engordurada... Eu reclamo? Eu deixo de beijar seu cangote?
 
DAYANE: - Ahh.... Ele quer falar de problemas com o corpo... Ahhh ele quer falar! (ajoelha-se em cima da cama)... Quer falar? Vamos falar!... E seu problema com a ejaculação precoce, hein? E o seu problema com essas perebas no pé? Como fica?... Sabe o que eu curto, Juliano? Eu curto chupar dedões. Tenho uma tara incrível por dedões do pé, mas não posso chupar os dedões dos pés do meu namorado, pois eles parecem zumbis!... Cheios de manchas, cheios de perebas, cheio de catjudjas!
 
JULIANO: - Isso nem existe... Ca...Ca...
 
DAYANE: - Catjudjas? Claro que existe! Seus pés estão cheios... E pelo andar da carruagem, logo, logo debaixo dessa barba pentelhuda vão aparecer mais catjudjas!
 
Juliano fica encarando sua barba no espelho. Mexe de um lado pro outro. Vira o rosto e observa melhor. Depois, fica olhando para seus pés, movendo-os para ver em diferentes lados.
 
JULIANO: - Tem um monte de gente que tem barba... John Lennon, Raul Seixas, Brad Pitt...
 
DAYANE: - Dois roqueiros malucos… Ah, e vamos lá, num se compara ao Brad, né? Ele de barba, sem barba e até com pés cheios de catjudjas vai ficar lindo!
 
JULIANO: - Você chuparia os dedões dele com catjudjas?
 
DAYANE: - Os pés todos!
 
JULIANO: - Credo!... Olha, Jesus tinha barba. Moisés, Lincoln, Papai Noel... Um monte de gente importante tem barba, e maior que a minha, inclusive!... Marcelo Camelo... Poeta do Los Hermanos...
 
DAYANE (voltando para a cama): - Tá ok, Juliano! Num vou mais falar da sua barba! Deixa essa barba pra lá... Vem aqui pra cama!
 
JULIANO: - Barba protege a pele. Protege do frio... Você tá sendo irresponsável de falar isso da minha barba!
 
DAYANE: - Ok, Juliano, desculpa tá? Num vou mais falar de seus pentelhos faciais. Volta aqui pra cama! Me deu vontade de chupar seu dedão... Antes só apaga a luz.
 
JULIANO: - Tu parece maluca... Vai chupar meu dedão mesmo?
 
DAYANE: - Fala menos e vem logo, garoto... Apaga a luz.
 
JULIANO: - Num é assim que se resolve as coisas não, tá? Você ofendeu minha barba. Logo ela que eu cuido com tanto cuidado e apreço.
 
DAYANE: - Juliano você tá de barba há uma semana só!
 
JULIANO: - Mas parece que estamos juntos há uma vida! Não vou tolerar que você macule minha barba!
 
DAYANE: - Como é que é? Sério isso? Você tá brigando comigo porque falei de sua barba?
 
JULIANO: - Sim! E quer saber? Vou embora com ela! Ela pelo menos me entende, me protege... E você?  Você, Dayane, me intoxica com esse Neutrox!... Vou embora!
 
DAYANE: - Juliano, para com isso! É só raspar a barba e...
 
JULIANO: - Raspar?... Você está louca?... Não vou matar um filho meu!
 
DAYANE: - Juliano estamos falando de pelos! Você corta o cabelo todo mês, porque não faz a barba uma vez por semana? Pelo menos apara esses fiapos mais desengonçados!
 
JULIANO: - Não vou ter filhos com alguém que me induz a matar minha própria barba! Ela é minha preciosa!... Tão fofa... Tão... Sei lá... Tão sedosa...
 
DAYANE: - Quer saber? Mete o pé então! Eu que num vou dormir ao lado de um cara que trata sua barba como um ser vivo da família! Tá arriscado até dar nome a ela.
 
JULIANO: - Suzete!
 
DAYANE: - Quê? Quem é Suzete?
 
JULIANO: - Minha barba. Suzete Matias Ferreira. Mas chama ela de Suzi que ela olha!
 
Dayane vai pegando as roupas dele e entregando tudo. Não fala nada apenas pega as roupas, coloca nos braços de Juliano e o empurra para fora do quarto. Após isso, deita-se na cama e se abraça a sua bolsa.
Juliano grita do lado de fora.
 
JULIANO (voz): - Louca! Maluca mesmo! Vou embora com minha barba! Vou ter filhos com ela! Vou viajar pra Veneza, ter filhos cabeludos e te esquecer sua insensível!
 
DAYANE: - Vai pro diabo que te carregue, maníaco!
 
Juliano parece ir embora. Dayane continua abraçada à sua bolsa por alguns segundos, até que abre-a e retira um frasco de Neutrox de dentro dela. Ela abraça o frasco, faz carinhos como se afagasse um bebê.
 
Dayane
: - Pronto, pronto! O bicho foi embora. Agora somos só eu, você e meus cabelos... Vem pra cima de mim, vem...
 
FIM
Fael Velloso
Enviado por Fael Velloso em 22/05/2013
Código do texto: T4304133
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