NUM BANHEIRO MASCULINO DE UM SHOPPING POR AÍ...
 
Há uma grande movimentação de homens no banheiro.
Alguns urinam em um dos cinco mictórios, separados por uma placa, e outros esperam do lado de fora dos boxes do banheiro. Nota-se que há um rapaz lavando as mãos e olhando para os outros caras de um modo suspeito. Apreensivo.
 
Aos poucos os demais vão saindo, e o rapaz continua lavando as mãos. Assim que o banheiro fica totalmente vazio, ele caminha na direção dos mictórios. Porém, um idoso entra no banheiro, e ele volta para a pia, continuando a lavar suas mãos.
Assim que o idoso vai lavar as mãos, e os mictórios ficam vazios, o rapaz, que se chama Igor, vai até eles. Um faxineiro entra no banheiro. Igor olha para ele, mas nota que está longe. Respira fundo e finalmente se aproxima da parede.
 
Igor começa a assoviar aliviado, mas um homem gordo usando roupas brancas entra no banheiro e para justamente ao seu lado. Ele se chama Rodolfo, cumprimenta Igor com a cabeça e começa a urinar.
 
Igor parece incomodado com a situação. Olha para o teto, olha para os lados e resolve sair de perto disfarçadamente. Rapidamente finge que seu celular vibrou, e vai para perto da pia. Rodolfo percebe.
 
RODOLFO (ainda urinando): - Tem pinto tímido, né cara?
 
IGOR (fingindo falar no telefone): - Só um instantinho, mãe... Como é que é, cara?
 
RODOLFO (balançando e virando-se para Igor): - Bingolim tímido!... Você não consegue mijar perto dos outros, né, campeão?
 
IGOR (desligando o telefone): - Não, não. Num é nada disso! Meu telefone tocou e eu...
 
RODOLFO: - Era sua mãe, né? Que tipo de pessoa desliga o telefone ao falar com a mãe, sem pedir a benção, ou mandar beijo?... Você é americano, por acaso?
 
IGOR: - Não... Olha, não preciso ficar respondendo o senhor...
 
RODOLFO (estendendo a mão para Igor): - Não se ofenda, cara! Isso é comum pra caralho... Meu nome é Rodolfo. Sou terapeuta peniano!
 
IGOR: - Não vou apertar sua mão! Você acabou de mijar!
 
RODOLFO (lavando as mãos): - Isso que você sente é horrível, e atinge quase um terço da população masculina no mundo! Falo em nível de planeta Terra!
 
IGOR: - Meu querido, eu não tenho problema nenhum em mijar em público, ou perto de alguém! Ok?... Posso mijar a hora em que eu quiser!
 
RODOLFO: - Não se sinta envergonhado, rapaz! Não tem por que! Como eu disse, sou terapeuta peniano, e já vi muita coisa pior que uma simples parurese!
 
IGOR: - Paro quem?
 
RODOLFO (terminando de lavar as mãos): - Parurese!  Também conhecido como bironha medrosa, ou bexiga tímida!... Sei como é incômodo entrar em banheiros e só conseguir mijar na privada! Ou em carnavais, não conseguir mijar atrás de árvores... A vontade existe, mas o choronga simplesmente não coloca pra fora! Faz força e nada! É tenso, eu sei!
 
IGOR: - Olha, eu respeito sua profissão, porém num tem nada disso!
 
RODOLFO: - Ah não?
 
IGOR: - Não, não tem! Consigo mijar sim! Não tenho problema nenhum com isso!
 
RODOLFO: - Ok, então vai lá naquele mictório do meio e mije. Vou ficar do seu lado, e vamos ver se consegue!
 
IGOR: - Como é que...? Tá maluco, meu irmão?... Olha, se tu curte manjar rola, eu não tenho nada a ver com isso!...(virando-se para o faxineiro) – Cê ouviu isso, amigo? Ele quer me ver mijando!... Gordo doente! Bicha gorda!
 
FAXINEIRO (apoiando-se na vassoura): - Ele só quer ajudar! Eu vejo isso todo dia, rapaz! Deixa de ser orgulhoso! Faz o que o moço tá mandando!
 
IGOR: - Ah, era só o que me faltava! Agora querem dar ordens pro meu pirú!
 
RODOLFO: - Ninguém quer mandar na sua pemba, cara! Só quero te ajudar! De graça! Sei que isso tem cura! Mas tu precisa aceitar que é um parurético!
 
IGOR: - E o senhor assumir que é um viado gordo manjador de banheiros!... Só me faltava essa!
 
RODOLFO: - Só quero te ajudar, rapaz. Os motivos de parurese vão de pinto pequeno até mesmo vergonha. Se você enfrentar agora ali, tudo vai ser curado em segundos!
 
Outro faxineiro entra no banheiro.
 
FAXINEIRO 2: - Ô, zé, cê lavou o banheiro do terceiro piso hoje?... Tem uma poça de mijo...
 
FAXINEIRO: - Peraí, Tonho! Peraí! O doutor tá ajudando o moço que tem a jurubeba envergonhada!... Presta atenção!
 
FAXINEIRO 2: - Oxi! Mais um é? Isso é um problemão mesmo moço! Tem um monte de gente assim aqui! E é todo dia né Zé?
 
FAXINEIRO: - Todo dia mesmo! Neguinho fica quase meia hora pra mijar aí!
 
RODOLFO: - Viu, cara? Isso é comum no dia-a-dia! Tenta mijar lá que vou te ajudando!
 
IGOR: - Vem cá, é isso mesmo? Vocês vão ficar debatendo sobre como devo usar minha pica?... Que coisa mais gay!
 
RODOLFO: - Sabia que isso que você sente, essa vergonha, pode ser uma coisa de opção sexual que te incomoda?... Você é seguro quanto a sua sexualidade, meu querido?
 
IGOR: - Me deixa em paz! Eu não vou ser analisado dentro de um... De um... De um banheiro imundo como esse, ok?
 
FAXINEIRO 2: - Opa! Opa! Pode parando, rapaz! Imundo não que eu lavo essa merda aqui todo dia, uma penca de vezes! E tudo por culpa de mijões tortos como o senhor!
 
RODOLFO: - Você tá tão arisco! Tá tão rude!... Pelo suor em sua testa, amigão, tu deve tá com o badalo latejando de vontade de mijar!... Não lute, cara! Você é mais forte que isso! Isso pode ferir sua próstata! Deixe eu te ajudar!... Ponha seus pintos em minhas mãos... (pensativo) - Isso ficou horrível!
 
IGOR: - Olha, dá licença tá? Eu vou embora! Num se tem mais privacidade nesse mundo!
 
RODOLFO: - Apenas tente! Respire fundo! Tente mostrar ao seu cérebro que é você que manda no que seu Bráulio faz!... Deixe minha voz te guiar!... Apenas ouça minha voz e caminhe até o mictório à sua frente...
 
IGOR: - O que é isso? Tá tentando me hipnotizar a força?... Isso é quase um estupro mental!
 
RODOLFO: - Apenas ouça minha voz...
 
Mais dois homens entram no banheiro, e se surpreendem com o que acontece ali. Um dos faxineiros explica no ouvido deles o que acontece. Eles sorriem e ficam observando também. Igor fica imóvel por uns instantes, parece em transe.
 
RODOLFO: - Não lute, amigão! Apenas ouça minha voz...
 
Os olhos de Igor vão se fechando gradativamente. E ele vai caminhando na direção do mictório. Rodolfo vai atrás dele com um sorriso tranquilo no rosto. Os faxineiros e os dois homens que entraram no banheiro observam apreensivos.
 
RODOLFO: - Agora devagar coloque seu Zé Furão pra fora, e mire em algum canto desse mictório branco!
 
Igor obedece aos mandos do doutor. Rodolfo para no mictório ao lado, e rapidamente confere o rapaz.
 
RODOLFO: - Num disse?... O caso dele aqui é jeba miúda! Mas miúdo mesmo!... Ridícula, inclusive!
 
Rodolfo dá dois tapinhas no ombro de Igor.
 
RODOLFO: - Agora imagine uma praia! E nessa praia, há uma cachoeira! Ouça o barulho da água!... Shuáááá!...Shuááá!... Apenas ouça... (um respingo de urina cai no olho de Rodolfo) – Opa! Tá funcionando!... Agora, ao longe... O que são aquilo? Oh não! São índios! Eles querem ver você mijar!... Eles se aproximam curiosos! São índios curiosos!
 
Igor começa a tremer. Respingos de xixi vão pingando no rosto de todos no banheiro. Um dos faxineiros abre um guarda-chuva que apareceu do nada.
 
RODOLFO: - Você quer correr. Está com medo! Há muitos índios se aproximando! Eles querem te ver mijando!... Oh não! Eles têm celulares! Eles querem fotografar seu pau e pôr na internet!... Você quer correr, mas quer mijar também!... Os índios querem muito ver você mijando...
 
Igor continua tremendo muito.
 
RODOLFO: - Há diversos índios, todos nus e com pênis que medem o triplo do seu. Eles apontam para a sua bigorna e caem na gargalhada!... Mas você toma coragem e balança o seu chamboco pra eles!
 
Igor começa a balançar o pênis e molha cada vez mais os homens no banheiro. Rodolfo já está completamente molhado. O doutor puxa uma toalhinha do bolso e tenta secar, em vão, o rosto encharcado.
 
RODOLFO: - Você balança seu inhame e grita: Não se aproximem, selvagens!
 
IGOR: - Não se aproximem selvagens!
 
RODOLFO: - Eu tenho um pênis mijão, e não tenho medo de usá-lo!
 
IGOR: - Eu tenho um pênis mijão e não tenho medo de usá-lo!
 
RODOLFO: - Ele pode ser pequeno, ridículo, e parecer um Pokemon, mas é potente!
 
IGOR: - Ele pode ser pequeno, ridículo, e parecer um Pokemon, mas é potente!
 
RODOLFO: - Se continuarem se aproximando, vou mijar em cima de vocês, e seus filhos assistirão tudo!
 
IGOR: - Se continuarem se aproximando, vou mijar em cima de vocês, e seus filhos assistirão tudo!
 
Rodolfo faz sinal para que os demais no banheiro se aproximem. Outros homens entram no banheiro, e um murmurinho vai se formando. Todos apreensivos, todos com atenção em Igor.
 
RODOLFO: - Mas eles não te obedecem, cara! Você então segura seu telecoteco e... Oh!... Como pode? Ele virou uma mangueira de bombeiro! Nossa! Ele está cheio d’água! ... Você aponta para os índios que agora estão com medo!... Agora eles se abraçam e começam a pedir ajuda aos céus... Você, então, aponta o cebolão para eles, e balança com toda malemolência.
 
Igor começa a balançar o pinto e “batiza” os novos espectadores no banheiro, que torcem por ele, roem unhas, se abraçam e batem palmas dando gritinhos de incentivo. Todos encharcados de urina.
 
RODOLFO: - Agora você olha nos olhos deles e diz: Hasta la vista, Baby!
 
Igor faz exatamente o que Rodolfo manda. Aponta para o mictório sorrindo.
 
IGOR: - Hasta la vista, baby!
 
Um jato imenso de urina atinge o mictório. Todos no banheiro são molhados, porém, não ficam com raiva. Todos começam a bater palmas. Parecem comemorar um gol. Um homem engravatado entra no banheiro com um troféu prateado do mascote do Botafogo (um bonequinho mijando) e entrega para Igor.
 
RODOLFO: - Igor!... Acorde! Igor!
 
Igor vai acordando aos poucos, e ao olhar para o mictório e ver tudo urinado, depois olhar em volta e ver tanta gente o assistindo. Abraça Rodolfo com força e começa a chorar emocionado.
 
IGOR: - Obrigado! Obrigado!... Obrigado, gente! Esse troféu é pra vocês!
 
RODOLFO: - Você está curado, Igor! Está curado! Agora você vai mijar aonde der na telha... Mas tenta não fazer na rua, porque dá cadeia!
 
Igor cumprimenta todos no banheiro e vai embora. Os demais ficam lá, parados, sem terem o que fazer, molhados. Depois de um tempo todos, exceto o faxineiro, vão saindo sorrindo e comentando, além de ainda torcerem. O faxineiro se aproxima de Rodolfo, que parece lembrar-se de algo ruim.
 
FAXINEIRO: - Olha, parabéns, viu? Cê curou ele!
 
RODOLFO: - Ai, puta que pariu! Puta que pariu!...
 
FAXINEIRO: - Oxi, o que aconteceu, homi?
 
RODOLFO: - Que dia é hoje?
 
FAXINEIRO: - Hoje é terça-feira, ué?... Eita! Que raiva é essa de repente!
 
RODOLFO: - Não, não, que dia é hoje de número? É quanto de abril?
 
FAXINEIRO: - Dezenove... É dezenove? (retira o celular completamente molhado do bolso) – Isso mesmo, dezenove de abril, por quê?
 
RODOLFO: - Puta que pariu! Puta que pariu! Ferrei o cara!
 
FAXINEIRO: - Eita! Ferrou nada! O senhor ajudou ele a perder o medo de mijar!
 
RODOLFO: - Ferrei sim, cara! Hoje é dia dezenove de abril... Hoje é dia do índio!
 
FAXINEIRO: - Ué, e daí?
 
O outro faxineiro entra no banheiro desesperado, ainda mais molhado.
Pode-se ouvir gritos de pânico vindos de fora do banheiro.
 
FAXINEIRO 2: - Zé corre aqui fora! O cara que num mijava acabou de arriar as calças e mijou num monte de criancinhas vestidas de índio da escola aqui do shopping!!
 

 
 
FIM
 
 
 
 
 
Fael Velloso
Enviado por Fael Velloso em 14/05/2013
Código do texto: T4291134
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