Não sou filatelista mas quero sê-lo

-Putana ! É muito azar!

O desabafo apanhou-me desprevenido.Não que não conhecesse a total falta de sorte dele. Ao contrário. A gente era amigo desde os tempos de infância e já nessa época parecia que um urubu tinha pousado no ombro dele . A verdadeira razão do meu espanto foi o desabafo onde a gente estava. Um bar no fim da tarde presta-se a muitas coisas. Algumas loiraças vazias na mesa, outras zanzando de pernas de fora eram assunto bem melhores. Até a derrota do Timão praquele timinho inexpressivo do Nordeste- qual o nome do time mesmo?- seria assunto . E ele vem com um comentário desses?

- O que aconteceu, companheiro?- Perguntei por cortesia. Apenas cortesia.

- Tem tempo?

Tinha.

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Começo de conversa: se houvesse um concurso para azarados nem precisava convocar candidatos. Era dar o troféu para ele e pronto.

Pensam que estou exagerando?

De criança tivera todas as doenças . Mas. . . todas MESMO! Sarampo, catapora, rubéola, tosse comprida e outras que não lembro. Com sete anos pegara uma gripinha, dessas que as mães curam com chá de limão e uns banhos quente e quase ancapotara.Duas semanas de hospital e quatro quilos a menos depois estava curado. Só restou um pigarrinho na garganta quando tossia forte, até hoje.

Aos doze, uma bolada quase que o cega. Bem, cegar cegar não cegara,mas a visão diminuira em 60%. Os óculos fundo de garrafa até que davam um ar intelectual. Seqüelas. Assim como as marcas da varicela no rosto. Daí o apelido de Lunar.

Dois anos depois começaram os problemas com as mulheres. Ou melhor: o problema de procura de mulheres.

Eu, por exemplo, nunca tive problemas desse tipo. Digo, em arrumar mulher. Disso não posso reclamar. Resta ver que aos treze anos, faltando uns meses ainda, minha virgindade se foi com uma prima um ano mais velha que eu, debaixo duma goiabeira no quintal da casa dela.

Uma goiabeira pequena. Nova. Nem frutas dava , uma ou outra temporã e olhe lá, mas bem galhada e coberta com uma cipozeira que dava gosto. A gente tinha tapado as brechas com papelão e brincava de batcaverna ali. Numa tarde que ninguém apareceu pra brincar, só minha prima, fomos os dois para a caverninha da goiabeira. Foi aí que conheci a caverninha dela também. Acho que era a primeira vez dela também. Quando perguntou meia sem jeito, se era minha estréia - isso devido à minha total falta de traquejo no assunto e por ficar olhando um tempão a área de prazer- menti na maior cara de pau:

- Só se começar a contar depois de dez!

Pô! Só tinha visto coisa parecida nas revistas de mulher pelada que meu irmão escondia no porão e nem sempre a gente conseguia ver direitinho.As mulheres sempre de ladinho, mal se vendo os pelinhos. Buraquinho então, jamais.

- Tô é nervoso! – continuei mentindo.- Se o tio Pedro pega a gente ele me mata!

É claro que eu sabia que o pai dela estava na marcenaria e só voltava de tardinha, mas lá ia confirmar minha inexperiência pra ela me gozar o resto da vida?

Com o Lunar teve disso não. Só conseguiu perder o cabaço com mulher - com a mão não contava, que nisso todo mundo começou cedo – na zona. E pra mais de dezesseis.

Num domingo à tarde fomos os três, eu, ele e o Tonhão que era maior de idade e um chato.Vivia contando vantagem de tudo. Só que sem ele a gente não entrava. E tinha de ser de domingo à tarde. Os homens fazendo serão com suas mulheres, as putinhas eram bem ruinzinhas, que as melhorzinhas estavam na cidade passeando e só voltavam de noite. Aí sim seria beleza, só que a polícia aparecia sempre e se pega a gente era bem capaz de entregar nas mãos dos pais e isso ninguém queria.

A mulherada estava toda esparramada descansando a perereca. Chegamos meio ariscos, olhando pra tudo quanto era lado, mais ressabiados que gato ladrão de espeto Claro que elas sabiam que a gente era menor de idade. Mesmo assim se dengaram para o nosso lado. Um bando de velhos como fregueses , três molecotes como a gente era um regalo. O Tonhão, com seu quase um ano de puteiro pegou a mais bonitinha e vupt. Eu, por minha vez dei uma selecionada e me acheguei numa até aproveitável. Já o Lunar. . . coitado!Sobrou uma coroa de mais de trinta anos magrela de dar dó. Hoje seria ideal, mas para um moleque de 16? E um suor brabo que eu vou te contar!

De noite no footing, é que descobrimos que não tinha sido daquela vez ainda. A velhota tinha ficado o tempo todo resmungando na orelha dele: Vai, benzinho! Vamos fazer nenen logo, que ele não conseguiu gozar de jeito nenhuma. A maledeta da porra travou no bico do cacete e só saiu depois de uma boa e velha punhetinha.

Cinco meses depois é que o Lunar estreou de verdade.

Ah! Tem um troço que esqueci de comentar. Num detalhe ele despertava inveja em todo mundo. A piroca dele era um caso de polícia. Uns dois do meu e olha que eu era normal. Quando a gente ia mijar na beirada do campo, não tinha quem não olhasse a bagaça dele. Olhasse e invejasse. Pra vocês terem uma idéia eu segurava o meu instrumento com dois dedos, o indicador e o polegar. Ele metia a mão inteira e ainda sobrava um pedaço pra fora. Isso mole! Porque duro crescia um pouquinho mais.

O Carmo tinha conseguido a perua do padastro emprestada e convidou a gente pra dar umas biscatiada. Roda aqui. Roda ali e nada. Devia ser pelo tempo ameaçando chuva e ser quarta-feira. Depois de muita gasolina desperdiçada, todo mundo puto da vida, quem a gente vê dando buzo na esquina? Quatro fulaninhas. O Carmo meteu a cabeçona pra fora e convidou. Tudo acertado a mais feia foi dormir mais cedo e rumamos os seis para uma casa abandonada, um tantico fora da cidade.

Foi só descer o Carmo avisou: deixa a mais magrinha pro Lunar. E mostrou com o queixo. Topei. Me escarafunchei pro lado da gordinha e um pouco melhorzinha que a outra . O Carmo que se ferrasse. Ou ele imaginava que por ter conseguido a perua tinha o direito de pegar filé?

Entramos, o Carmo com a feia, eu com a gorda, a magricela tadinha, sem saber o que a esperava abraçou o Lunar e se mandaram para o quarto.A sala minha, o Carmo que se ajeitasse na cozinha.

Como eu disse antes o tempo estava ameaçando chuva, a casa sendo abandonada não tinha luz elétrica, é claro!

Peladão, entrei de sola. Entrou que nem vi, a gorda parecia um jacá. Bombei, bombei e nada.Estava quase desistindo ou então pedindo pra ela dar pelo menos uma mexidinha ou umas gemidinhas quando senti uma mão gelada nas costas.EPA!Era o Carmo fazendo sinal de psiu. Com a cabeça perguntei que foi? Ele só fez sinal que o seguisse. Levantei devagarinho e lá fomos os dois na direção do quarto, a gorda atrás sem entender nadica de nada e espiando nossas bundas.

- Sou capaz de apostar uma caixa de cerveja que a magrela não agüenta o repuxo!- murmurou entredentes.

A porta do quarto estava semiencostada. Com cuidado para não fazer barulho abri um pouquinho. Mal dava pra ver as duas sombras. Foi então que a magrela falou alto:

- Quiquéisso, ô meu?

- Bimbo! Que podia ser?

Nisso sentimos um leve estremecimento no tom de voz dela:

- Ce ta louco se vou deixar enterrar isso nimim! Sai pra lá, seu anormal! Jumento!

Na escuridão não tinha como ela ter visto alguma coisa . A única explicação era que tinha pegado na mão.O Lunar retrucou, acho que com medo de ficar sem nada:

- Só ponho a metade.

- Vai por metade merda nenhuma! Isso aí vai me rasgar inteira!

- Amarro um lenço na ponta!

Segurei o riso. Onde ele ia achar um lenço uma hora dessas?

Metade. Tá bom ! Que metade porra nenhuma. Entramos os dois mais a gorda no quarto. Vem com a gente e quer tirar o cu do ponto? Nannanninninnan!

O Carmo agarrou a magricela por uma perna e um braço, eu o outro braço e a outra perna.

- Chega a lenha, Lunar! Se ela não agüentar que peide!

Pensando bem, o que fizemos naquela noite foi estupro. Hoje eu sei disso e não faria nunca, mas na época? Ara, veja! Estupro a gente achava que era quando a menina era virgem e o sujeito comia na marra . Biscate que dava pra qualquer um? Nem pensar. Além do mais o Lunar, amigão da gente, tava que tava precisando. E a gente ia largar um amigo como ele na mão? E foi assim, na mais completa escuridão que o Lunar tirou o atraso e mandou a virgindade para aquele lugar. A gente segurando e ouvindo a fungação da moça. Os uiuiui dela e os gemidos de prazer do Lunar. Seria capaz de pagar uma caixa de cerveja só pra poder ver tudo aquilo no claro. Aquele negocião entrando e saindo da xereca dela.

Pagamos as meninas direitinho, que assim não ia dar problema com a polícia se ela desse parte. Pois não é que mesmo pagando até mais do que o combinado, a filha da mãe xingou a gente de tudo quanto foi nome feio?.Nem as companheiras escaparam dela mandar enfiar aquilo no rabo das respectivas mães. Mulherzinha bocuda, ô meu!

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O motivo do desabafo o Lunar explicou entre uma cerveja e outra. Morri de pena, mas o que podia fazer? Não sou Deus pra modificar o carma das outras pessoas. Se acreditasse em macumba, sarava, esses negócios do além, até poderia indicar um bom pai de santo pra fazer os espíritos trabalharem um pouquinho melhor do lado dele, mas... acredito? De jeito nenhum.

- Tudo começou seis meses atrás - explicou o Lunar com a voz embargada de emoção e cerveja – quando o apartamento do prédio em frente ao meu foi alugado. Era umas cinco, cinco e meia da tarde, eu tinha chegado da repartição e estava ali na janela, vendo a vida passar, como sempre faço. Sabe como é! Espiando o movimento, o vai e vem das pessoas na rua quando o caminhão de mudanças estacionou.

Ergui a vista na direção do apartamento e o que vejo? Me diga? O que vejo?(suspirou) Pernas. O mais belo par de pernas que já vi na vida. Branquinhas. Vou te falar, amigo, quase dois metros de pernas de carne de primeira. E um shortinho que vou te contar! Vermelho contrastando com a brancura das pernas e tapando um tiquinho só. Cheguei a me abaixar pra ver a cara da dona porque a cortina estava meio abaixada, mas a filha da mãe estava de costas e só deu pra ver o cabelão até no meio da costa.

Espiei um poquinho, aí ela saiu do meu campo de visão. Acho que foi para outro cômodo então eu saí pra tomar umas cervas no Santa Espuma.

Tomei uma, tomei duas, pensando sei lá no que, quando me senti observado. Levanto a cabeça e dou de cara com o shortinho vermelho bem ali, pertinho de mim, duas mesas de distância, encostado numa. Puta que pariu! Boa. Mas vai ser boa assim lá casa do chapéu ou raio que o parta. Vou te contar um segredo, se eu fosse mulher eu processava o Homem lá de cima por falta de critério na distribuição de gostosura- falou de sopetão sem se importar com redundâncias.

Descobri que era a mesma pessoa pelo shortinho e pelas pernas- continuou ele. E não é que a danada estava olhando pro meu lado. Dei uma disfarçada, olhei prum lado, olhei pro outro, virei a cabeça devagarinho fingindo ajeitar o colarinho e olhei atrás de mim. Ela devia estar olhando para outro cara. Só podia ser isso. Comigo é que não era. Muita areia pro meu caminhãozinho..

O diabo é que não tinha mais ninguém no bar. Só eu, ela e Deus. E o dono do estabelecimento, é claro. Nisso minhas pernas bambearam e me subiu um frio na espinha. Nunca pensei que pudesse gelar por causa de uma mulher, mas gelei. O frio saiu da espinha, veio pra barriga e foi subindo, subindo até parar na garganta. Engoli em seco e pensei apavorado: e se ela vir pro meu lado eu faço o que, meu Deus? Pra disfarçar um pouco o nervosismo e ganhar um tempinho extra para me recompor tratei de encher o copo com cerveja de novo. Num misto de classe e naturalidade segurei firme o gargalo da garrafa quase cheia e derrubei na calça. Dei um pulo olhando na direção dela e. . .cadê? Só sobrou o perfuminho dela no ar.

Sem poder fazer mais nada pedi outra cerveja, tomei e fui pra casa. Entrei, troquei de roupa e, sei lá porque abri a janela. Foi aí que vi a bunda. Ela arrumava o sofá de costas para a janela, aquilo tudo indo de lá pra cá, de cá pra lá. O que eu podia fazer? Puxei uma cadeira, sentei e fiquei apreciando o espetáculo. E que espetáculo,ô meu!

O Lunar tinha um grave defeito: exagerava um bocado. Teve vez de comentar duma mulher, dizendo que era isso, que era aquilo e quando a gente ia ver. . . Então eu sabia que devia descontar um pouco daquilo que falava, mas do jeito que contou, mesmo descontando a metade, ainda sobrava muita mulher. Arrisquei num pedido de apresentação mas acho que ele nem ouviu..

“ No outro dia, duas da tarde, o chefe de setor enchendo o saco de todo o mundo, quem me entra na repartição para reconhecer firma nos documentos do contrato? Ainda chateado com o que tinha acontecido na véspera, fiz que não vi, carimbei uns papéis sem precisão nenhuma, engavetei outros que deram um trabalhão dos infernos para encontrar mais tarde quando precisei e só aí, sem pressa nenhuma, atendi.

- Eu não te conheço de algum lugar? – ela perguntou sem cerimônia alguma.

Somos vizinhas, eu respondi sem atentar para o erro de concordância.

“Bem - continuou ele – daí em diante fizemos amizade. De tarde acenou pra mim e batemos um papo gostoso e sem compromisso. No outro dia faltei na repartição e fui na casa dela instalar uns quadros esquisitos na parede. Aproveitei e consertei umas torneiras com vazamento. Podia ter deixado para amanhã - ela falou com uma voz macia, macia. E foi assim que desse dia em diante toda tarde eu ia na casa dela consertar alguma coisa. Quando acabou a coisaiada quebrada convidei ela pra vir na minha conhecer a minha coleção de selos. Você sabe que eu coleciono selos, não sabe?

Claro que sabia. Aliás, quem da nossa turma não sabia, se ele vivia enchendo o saco de todo mundo falando disso o tempo todo?.Difícil o dia que o Lunar não tinha alguma novidade sobre a maldita coleção de selos. Porque será que todo solteirão tem essas manias esquisitas? Deve ser por falta de mulher para atazanar a vida deles. Só pode ser!

Tentei imaginar a mulheraça que ele tinha descrito olhando aquele monte de papeiszinhos cheios de desenhos idiotas e fotografias de gente morta,o Lunar falando as baboseiras de sempre, enchendo a cabecinha dela com informações que não servem para absolutamente nada, como fazia com a gente. Que graça tem saber que existem cinco tipos de prensagem de selos? De tanto ele repetir eu tinha até decorado. Que fotogravura é quando a imagem é transferida fotograficamente para um filme e depois para o selo. Que a gofragem tem uma matriz para dar ao selo uma figura em alto relevo. Que no intáglio o desenho é entalhado na própria placa que vai dar origem ao selo. Qual mais mesmo? Ah! Tem o camafeu onde o desenho é em alto relevo na própria superfície da chapa. Sobrou algum? Hum. . . Só mais um, a litogravura. Nesse tipo de prensagem usa-se água e tinta imitando pintura em pedra. Agora, diz aí: o que a gente ganha sabendo esse monte de besteirada?

“ Pois não é que ela também gostava de colecionar selos? ( É?) E ficou toda interessada?( Não acredito!) Quando falei dos selos raros então, daqueles que chegam a valer cem mil, duzentos mil dólares, ela arregalou os olhos(Será mesmo?) Pareciam dois faróis de milha de tão verdes(Olhos verdes, é?).

- E valem tudo isso mesmo? Perguntei sem convicção alguma.- Tem algum?

O Lunar não respondeu, preferindo continuar do ponto onde havia parado:

“ Deu vontade de mentir.( acho que ela tinha perguntado o mesmo que eu) Mas ,e se ela pede para ver algum. Preferi abrir meu catálogo de selos raros, aquele que ganhei da Sociedade Filatélica de Belo Horizonte e mostrei as fotografias. Mostrei o Olho-de-boi, que foi o primeiro selo a ser impresso no Hemisfério Sul. Arregalou os olhos quando mostrei a foto do One Penny Magenta. Você sabe! Aquele das Guianas Inglesas de 1856. Aproveitei o embalo e desfilei minha cultura no assunto. Contei do Pombo de Basle, de 1845 da Suíça. Do selo Triângulo, do Cabo da Boa Esperança de 1850 até chegar no Post Office das Ilhas Maurício emitido em 1847. Vou te contar um negócio: ela ficou impressionada com a minha sabedoria.

Será que ficou mesmo? Pensei com meus botões.

“ De repente ela murmurou alguma coisa que não entendi. Pedi para repetir e não é que a danada repetiu letra por letra, palavra por palavra: pra que ficar olhando esses desenhos idiotas? ( agora ela estava falando a minha língua). Não quer ver algo mais gostoso ?

- O que, por exemplo?

- Eu.

“ Aí- continuou o Lunar- engoli em seco. De novo. Acho que estava ficando especialista em engolir em seco. Devia estar sonhando e foi por isso que dei um beliscão no braço. Cara! Como doeu! E você vai me dar razão. Era muita mulher pra um tiquinho só de homem e eu estava em dúvida se era aquilo mesmo que ela tinha falado. Se um monte de mulher feia já tinha me recusado(concordei) porque uma gostosona daquelas ia ficar dando mole. Não me fiz de rogado:

- Bem melhor! E nem bem terminei de falar ela saiu da sala e foi para o quarto. Na porta acenou. Fui.

Quando cheguei na soleira da porta ela estava deitada na cama, já preparada. Nunca vi ninguém se despir tão rápido. Rapaz, se vestida era um espetáculo, pelada então. . . Bundinha arrebitada, uma penuginha rala na frente e um par de tetas que vou te contar! Se uma dessas modelos que desfilam peladas no Carnaval vê aquilo, pedia na hora demissão de boazuda.

- E era boa de cama? – perguntei, duvidando um pouco do que ele dizia. O Lunar nunca tinha pegado nenhuma mulher que valesse a pena. Só se a fulana fosse doida de pedra.

- Boa? Você me pergunta se ela era boa?- estava indignado.- PelamordeDeus! Era um tesão!- deu uma suspirada:- Sendo a primeira vez de nós dois eu pensei que a coisa toda ia ficar no papai e mamãe de praxe. Me enganei. Ela foi se esfregando, se esfregando, como uma cadelinha no cio e quando menos esperava, caiu de boca. De prima! Não teve nem quemquemquem. Assim,ó! Puft! Me perdi, cara! Não sabia se chorava. Não sabia se ria. Se pulava de alegria. Aproveitei, né! Você não faria o mesmo?( percebi que estava ficando excitado)Vou te contar um troço: eu fiz coisas que até o diabo duvida. Lambi ela inteirinha frente e verso. Comecei no dedinho do pé e fui subindo. Canibal! Mordisquei tudo o que tinha direito. Seios, bunda, xereca. Nem o umbiguinho escapou. Pra você ter um idéia teve uma hora que enfiei um dedo na frente comendo atrás.

- E ela?

“Meu! Ela vibrava tanto que pensei que ia ter um ataque do coração. Fiquei tão doidão, mas tão doidão que se ela me pede pra enfiar o dedo no meu rabo era bem capaz de deixar só pra não perder o embalo.(suspirou de novo). Inda bem que não pediu, senão eu hoje ia estar arrependido. Depois de umas seguradas, explodi. Um cigarrinho e dez minutos depois estava pronto pra segunda. Bala! No final da noite estava quase morto, só que ela queria mais. Fui obrigado a pedir água, não tenho vergonha de contar, não!

Pra encurtar a conversa desse dia em diante teve frege toda noite. Se não na minha casa, na dela. Eu estava me sentindo o cara mais gostoso do mundo.(não era para menos).

E a adoração pelo bimbo? Dava a impressão que nunca tinha visto nada igual. Pegava na mão. Apalpava. Lambia de cabo a rabo. Dava beijinhos. Coisa de louco!

- De louca. – corrigi, mas acho que nem ouviu.

Foi aí que o Lunar jogou o peso no corpo na cadeira.

“ Pois não é – explicou – que algum tempo depois eu pus na cabeça que ela estava interessada em outra coisa que não eu? Pode? Diz a verdade, pode?

Ela ia na minha casa, eu ia na casa dela. Dava de graça pra mim sem pedir nada em troca, só pelo prazer de ver a vara entrar. E o besta aqui tinha de por na cabeça que ela queria outra coisa? E o que, Santo Deus? Uma merda duns selinhos vagabundos sem nenhum valor, mas eu cismei que era isso: que era por causa deles, dos maledeto dos selos que ela ficava comigo. Tem besteira maior que essa? Seja sincero: tem?

Quase respondi concordando. Não deu tempo.

“Resultado: na primeira noite depois dessas besteiradas, na hora da onça beber água, cadê do bimbo levantar! Até que deu uma reagida, uma vibradinha mixuruca, mas a cabeça estava nos lazarentos dos selos e eu não consegui me concentrar de maneira nenhuma. Pra não ficar tão chato tasquei umas chupadas. A língua cansou mas o bom mesmo, nem tchum. Só ali, murcho que nem um maracujá velho.

No outro dia , quando sei lá porque resolvi dar uma arrumada nos arquivos e não encontrei o selo de comemoração do nascimento do Santos Dumont, uma raridade porque foi impresso com o 14BIS de ponta-cabeça e valia bem uns 100 dólares e que mais tarde achei numa fenda da gaveta, não deu pra segurar e explodi:

- Eu sabia! Eu tinha certeza que você ia me roubar um dia. E não me venha com desculpas. Eu quero o meu selo agora. AGORA!

- E ela?

“ Coitada. Jurou de pé junto que nem havia visto o tal selo, quanto mais pegar. Que se eu quisesse me ajudava a procurar. Eu devia ter raciocinado que selo nenhum nesse mundo valia mais que uma mulher como ela, mas fiquei ali, firme. Querendo o meu selo de volta nem que fosse na marra. Falando em voz alta pra todo mundo do prédio ouvir que se ela me achava um idiota estava redondamente enganada. Que se o tal selo não aparecesse eu tinha o direito de ir no apartamento de e escarafunchar tudo. Quando ela não se opôs, aliás até se prontificou a ajudar, que talvez o selo tivesse grudado nalguma roupa dela e caído no chão, eu devia ter ligado o desconfiômetro. Se estava se prontificando não era ela. Mas, me diga, eu pensei assim nessa hora? Pensei merda nenhuma! Achei que estava me engabelando de novo.

- E acabou assim? – perguntei.

“ Bem. . . não exatamente. Ela me procurou mais tarde achando que eu tinha me acalmado. Só que eu ainda estava firme na minha opinião e nem quis recebe-la. Ai, meu Deus! Se arrependimento matasse!”

Estava ficando interessante. Arrisquei num novo pedido de apresentação, como se isso fosse possível na situação dele, mas ele não ouviu de novo.

“ Dali dois dias eu vi ela com um sujeito. E vou te contar: perto dele eu era o Tom Cruise. Baixinho. Careca. Os dentes da frente parecendo que um dentista cego tinha feito alguma experiência com eles. A ainda por cima barrigudo. Coisa que nunca fui, graças a Deus!”

Nisso ele tinha razão, sempre se cuidou.

“Tentei uma aproximação e nem tinha achado o selo ainda mas ela não deu bola. Na segunda investida abriu o jogo: Se manda, Mane! Agora eu achei um homem de verdade!- E desferiu a primeira flecha:- Que não acha que sou uma ladra de porcarias! E em seguida a segunda:- Como certas pessoas que você sabe quem é! – e foi embora abraçada com o sujeito, ele se sentindo o máximo..

- E ainda está com o sujeito? – perguntei. – Com o Feio?

- Está.- havia amargura no tom de voz.- Infelizmente está.

“Só encontrei uma explicação pra tudo isso, ela devia gostar de feios. Quanto mais feio, melhor. Só pode ser isso, senão não me trocaria por aquele filhote de Cruz-credo. Aquele Frankstein de laboratório! Aquele filha-da-puta!”

O Lunar estava pê da vida. Uma golada só e foi-se a cerveja do copo. Como quem não quer nada aproveitei e fui no banheiro tirar uma aguinha do joelho.

Ainda na porta dei uma última espiada. Tinha desabado na cadeira nem tinha percebido que eu havia saído. Tava ali, olhando o vazio, com certeza pensando na cagada que fizera.

Saí por uma porta lateral, não sem antes dar sinal ao garçon que colocasse minhas cervas na conta dele. Maldade nenhuma. Se tinha azar com mulheres, estava bem financeiramente. A repartição pagava uma beleza de salário.

No caminho para casa tomei algumas decisões. Fazer algumas visitas a ele e ouvir as eternas e tediantes histórias dos selos. Sei lá! Dia sim, dia não. Talvez todo dia. Amigos precisam de conforto nessas situações.

Comprar algumas dessas porcarias e tornar-me filatélico, filatelista, selista, sei lá que nome dão à essas pessoas que se babam por essas tontices. Não sei porque mas de repente deu uma vontade de colecionar selos. Deve ser coisa da idade.

Hum. . . precisava também parar de me embonecar um pouco. Dar uma espatifada no cabelo. Deixar crescer a barriguinha. Tirar o pivô que ganhei no futebol.

Sacumé. Tem coisas que a gente faz que nem mesmo sabe porque. Certo?

Nickinho
Enviado por Nickinho em 26/03/2007
Reeditado em 26/03/2007
Código do texto: T427110