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Sabendo que não era capaz de pagar todas as dívidas, Matusalém arquitetou um plano: fingir-se morto, com direito a velório e tudo e depois mudar-se para um lugar bem longe, onde jamais fosse encontrado pelos credores. A mulher ajuntou os últimos trocados, comprou caixão, terno, sapatos e até contratou a banda municipal para tocar. A morte súbita foi anunciada na segunda-feira à noite, uma estratégia estudada pelo casal, porque no avançar das horas, o povo cansado do trabalho, ia embora cedo e ficariam apenas a viúva, dois irmãos do falecido e um cunhado – presença suficiente para carregar o caixão que antes de ser enterrado, receberia o recheio de ossos ressequidos de um cavalo morto por picada de cobra. Espremido dentro do caixão, Matusalém já não suportava o cheiro de vela branca queimando. Também lhe perturbavam muito os jasmins espalhados em seu corpo, principalmente nas proximidades do nariz...Segurar o espirro!Não sabia até quando poderia fazer isso...A mulher tinha exagerado na quantidade de algodão colocada nos buracos da venta — quase sufocando  a respiração , só posível, quando ela lhe acariciava os cabelos em sinal de que ninguém estava olhando... O último condolente a se despedir fora Miguilim, a quem o defunto havia comprado  o cavalo com a promessa de pagar no ano vindouro. O dia estava amanhecendo.A viúva retirou o algodão do nariz do falecido e sentiu  o corpo dele   duro e frio como uma pedra-de-gelo.