Um dia no restaurante (vexame)
Cristovão era um garoto tímido, com seus dezessete anos, trabalhava como ofice boy, em uma pequena empresa, e com o decorrer dos dias ele conheceu Vitor, um jovem que trabalhava como estagiário em um banco próximo, e se tornaram bons amigos, e Vitor sempre o convidava a almoçar em um restaurante perto de onde trabalhavam, bem diferente da marmita que o servia todo dia.
De tanto insistir, Cristovão guardou um pouco do seu pagamento para satisfazer os desejos de seu amigo, já que no restaurante almoçavam várias garotas, e algumas que se simpatizavam com ele.
Sentaram-se a mesa do luxuoso restaurante, onde Cristovão viu várias garotas, uma mais bonita que a outra, que ele mal sabia pra que lado olhava, então ele começou a pensar.
"Nossa, quanta garota bonita, eu não posso dar vexame aqui."
Ele, como era um rapaz esperto pela vida, começou a seguir os passos de seu amigo para não dar vexame em um ambiente que nunca havia frequentado. Ao se sentarem, o garçom veio com o cardápio do dia, onde ele leu entre as várias opções, Espetão.
- Ei amigo, o que é esse espetão? (perguntou ele)
- É um espeto de churrasco, com vários tipos de carne.
Como Cristovão gostava de um bom churrasco, e fazia tempos que não apreciava um, ele decidiu por essa opção.
Após ser servido, Cristovão reparou que o garçom lhe trouxe em uma bandeja, uma travessa de arroz, uma cumbuca com feijão, uma porção de batata frita, e o tal de espetão.
Ele pegou o feijão, despejou em seu prato, jogou a porção de arroz por cima, colocou as batatas por cima formando uma pequena montanha, e pensou:
" As carnes eu vou pegar uma por uma para não dar vexame ao meu amigo".
Ele pegou o espeto que tinha vários tipos de carnes espetados nele, virou-o em direção ao seu prato, posicionado a ponta do espeto ao centro do prato, e com um garfo começou a puxar o primeiro pedaço.
Para seu espanto, o primeiro pedaço espetado estava um pouco grudado no espeto, e ele teve que fazer um pouco de força, e parecia que quanto mais força ele fazia, mais grudada ficava a carne, ele a forçou de leve, e foi aumentando a sua força, foi aumentando, cada vez mais forte, no fim, com uma força mais desproporcional, ele conseguiu arrancar o pequeno pedaço de carne, mas sua força foi tanta, que o pequeno pedaço, saiu do espeto como um raio emanado da tempestade. Ele passou tão ligeiro, que acabou devastando tudo que havia dentro do prato, e quando Cristovão percebeu, com o impacto seu prato ficou quase limpo, e todo o seu conteúdo ficou espalhado pelo chão, o amontoado de arroz espalhado parecia como formigas em volta de seu formigueiro, as batatas espalhadas pelo ladrilho, pareciam minhocas ao chão livre, o pedaço de carne que se desprendera, se perdeu tão rápido pelas mesas, que acabou lustrando o sapato de uma das garotas que se sentava a uma média distância, com sua cabeça baixa ante ao seu vexame, Cristovão ainda ouviu o garçom lhe dizer.
- Não tem importância, isso acontece, eu trago outro prato pra você.
Cristovão imediatamente, com sua cabeça baixa, se desculpou de seu amigo e foi embora, e quando estava caminhando pela rua, ainda ouviu seu amigo lhe falar ao seu lado.
- Não tem importância meu amigo, outro dia a gente vai comer em um boteco que é um lugar mais simples.
Cristovão, olhando para seu amigo ainda pensou:
"Que dia, que vexame".
Obs: Este conto faz parte do meu livro, "Sinas de um trapalhão".