O" Van Damme" de Inhaúma (primeira parte)
As luzes coloridas piscavam sem parar.As músicas iam do axé music ao pop rock internacional.Envolto na penumbra da boate Flôr do Rio,Clébio curtia sua noite de sábado.Na mão direita,uma tulipa com o melhor chop do subúrbio carioca.O funcionário do tribunal de justiça era um "balzaquiano" solteiro.Media pouco mais de um metro e setenta de altura,era magro,moreno claro,e possuía cabelos e olhos castanhos.Os óculos refinados,daqueles em que a armação prende-se diretamente na lente,quase sem moldura,davam-lhe um ar intelectual.
O funcionário público adorava aquele ambiente.Na sua opinião,era no lusco-fusco das casas noturnas,que as pessoas revelavam-se totalmente;Ali,entre doses de whisky e copos de cerveja,as maiores qualidades,e os piores defeitos de todos,vinham à tona.
Naquele sábado,Clébio sentia-se especialmente bem.Durante a semana,havia recebido uma bonificação inesperada no trabalho,fruto de sua excelente produtividade durante o mês.Não era muito,é verdade,mas foi o suficiente para elevar sua auto estima,deixando-o mais solto.Agora,o antes tímido funcionário público,sentia-se como um "predador" selvagem,à espera de sua "presa".
A casa noturna estava lotada,chegando a dificultar o trânsito pelo salão.O analista deteve seu olhar numa loura solitária,que mexia os quadris sensualmente,ao som de uma música romântica,enquanto bebericava um copo de cuba libre.hipnotizado pela beleza da fêmea,Clébio aproximou-se,e"jogou a rede":
__Oi,tudo bem?(Ao cumprimentar a "deusa"com dois beijos no rosto,Clébio sentiu o aroma adocicado do perfume da ninfeta)
__ Tudo........(Falou sem encará-lo,demonstrando desdém.)
__Você vem sempre aqui?(o rapaz era insistente)
__De vez em quando,....é que....estou esperando meu namorado,.....ele deve estar chegando aí....(era o típico papo "espanta pretendente".Clébio entendeu o recado e despediu-se,não sem antes dar mais dois beijinhos naquelas faces rosadas.No momento seguinte,estava de volta à "caçada".Uma ruiva esguia ,de vestido branco, foi o próximo alvo):
__Oi,tudo bem?(ele sabia que a sua entrada era muito"lugar comum",mas só sabia essa.)
__Tudo péssimo!!(por essa ele não esperava)
__Por quê,"gata"?(o rapaz era mesmo um "guerreiro",não desistia)
__Perdi meu emprego,bati com o carro da minha mãe,estou gripada,e acho que vou ficar menstruada!!!!
__Ah,tá bom.....olha,......eu vou pegar outro chop e já volto,"ok"?
__Tá,...tá legal...tchau....
Saída rápida pela direita,__pensou ele__Antes só,que mal acompanhado.mulher neurótica não!,cruz credo!!
Voltou a rastrear possíveis "alvos",quando,por acaso, seu olhar cruzou com o de dois rapazes muito bem vestidos.Antes que Clébio pudesse desviar os olhos,o mais alto deles,que usava uma vistosa camisa rosa bebê,deu-lhe uma piscadela,ao mesmo tempo que passava a língua sobre o lábio inferior.Imediatamente o "guerreiro" mudou de posição.Não tinha nada contra a opção de cada um,mas aquela não era sua praia.Postou-se então perto do bar,de onde pôde ver duas mulheres fazendo uma coreografia "quente",ao som de um funk que martelava no sistema de alto falantes.O erotismo quase explícito da cena,fêz com que Clébio sentisse um repentino aumento de volume dentro da sua cueca,coisa de homem solteiro.Para não passar vexame,mudou novamente de posição.Agora estava perto do palco,onde os técnicos de som ajustavam os últimos detalhes,para a apresentação da banda contratada da noite.Uma gordinha usando um vestido preto,(elas sempre usam preto),começou a "dar mole"descaradamente para o analista de sistemas,que animou-se todo;Afinal,já eram quase uma e meia.Àquela altura ,tudo que caísse na rede era lucro .Não importava os óculos fundo de garrafa que a moça usava.O apetrecho poderia ser removido facilmente,pensava clébio.Ao começar o deslocamento na direção daquela carne toda,o caminho do analista foi fechado por um casal,que passou por ele discutindo.O homem vinha na frente,chingando a mulher,que chorava muito.Como a casa estava lotada,Clébio foi obrigado a esperar a dupla passar.Num dado momento,quando o funcionário público estava exatamente entre o homem e a mulher,o "machão" virou-se,e desferiu um tapa apoteótico,no meio da cara da infeliz dama.A proximidade entre Clébio e o casal era tanta,que a mão do homem resvalou no rosto do analista,fazendo seus óculos caírem no chão.Surpreso com o acontecido,o pobre funcionário rapidamente abaixou-se para pegar seu artefato ocular.A adrenalina invadiu sua corrente sangüinea,ao ver seus óculos;Seus caríssimos e finos óculos,totalmente inutilizados pela imbecilidade daquele palhaço.O homem,um "russo" de mais ou menos um metro e noventa,nem pediu desculpas;Ao contrário,riu de clébio,enquanto continuava a ofender a moça.Confiante na sua superioridade física,mexeu com o analista:
__O que foi "meu irmão"?,não gostou? então cai dentro!!!!
Ele não devia ter dito aquilo.