IA CAIR UM NEGÓCIO DO CÉU PRAQUELAS BANDAS

A humanidade estava por um fio. Um asteróide estaria viajando pelo universo e se tudo desse certo, com informações da NASA, por volta de oito meses ele atingiria a Terra, e o alvo exato, uma cidadezinha de Minas Gerais. Para aprofundar-se mais nos dados referentes ao asteróide, uma equipe de cientistas dos Estados Unidos e da Rússia, resolveram viajar até a cidade para avaliar as condições.

O ponto marcado para a queda do asteróide seria na casa do seo Olegário Pacheco e de dona Zezinha, dois agricultores.

-Logo aqui vai cair esse troço. Não tinha outro lugar pra isso cair, não?

Já avisados da chegada dos estrangeiros, aguardavam a equipe.

-Tudo bem? –cumprimentou o americano.

-Aqui tudo bem. E os cês fizero boa viagem?

-Claro, viemos voando.

O agricultor chamou a velha dele prum canto e disse:

-Esse povo do estrangero voa, veia?

-Sei lá. Como vo sabe?

-De quarquer forma, fica longe deis!

Os estrangeiros ficaram meio ressabiados, tentando compreender o diálogo entre o casal.

-Óie, os ceis pode fica à vontade. Discurpa da acomodação, mais é casa de lavrador. Simpres. Pode sentar no sofá. Roque! Passa, Roque! Sai do sofá, dexa os home do outro lado do mundo sentar aí. Vai, Roque! Vai coçar as purga lá fora. Pode sentar que ele não morde não, gente.

Feito os cumprimentos, os primeiros contatos, a equipe instalou os equipamentos.

-Pra que serve esse negócio que fica fazendo curvinha no papel?

-Sismógrafo.

-Pra que serve isso?

-Se a terra tremer, este aparelho marca a intensidade do tremor.

-Oh, velha vem aqui. Oh aqui um negócio bom pro ce. O ce que tem tremedeira de vez em quando. Esse negócio aqui mede quanto que o ce ta tremendo. E isso aqui, pra que serve?

-Pra medir a pressão atmosférica.

-Virge Maria, os ceis mede a perssão tomosférica!? Aqui nóis dexa isso queto. Já é feio descarrega a perssão timosférica perto dos outro, minha mãe insinô nóis deisde pitinito qui num pode faze isso perto dos otro, imagina intão midi ela. Pra quê?! E esse negócio, é um pinico?

-Não. É um radar que capta ondas beta.

-Nossa. Mais vem aqui, verdade que vai caí um negócio presses lado?

-Parece que sim.

-Falaro que é uma pedrona grandona.

-É isso mesmo.

-Mais por que esse negócio inventou de cair bem aqui.

-A gente calculou.

-Falano em carculá, sabe, meu pai pra carculá tava lá. Num sabia escreve mais pra conta de cabeça ninguém tapiava ele não. Se ele tivesse aqui ele ia ajudar os ceis.

-Ah, que é isso, não precisa se preocupar. –agradeceu o cientista americano.

-Mais essa pedra é muito grande?

-Do tamanho de Minas Gerais.

-Ta vendo. Uma coisa dizia pra mim, pra eu num vim pra cá. Eu tava memo com vontade de comprar um sitinho lá pro lado daquele povo que usa carça larga.

-Mais e aí, home, como leva as vaca?

-Que! Só treis, inda ruim de leite. Se caí metroro em cima nóis num vamo te muito prejuízo. A num se prejuízo sentimentar. Eu gosto muito da Daniela, da Gisele e da Britnei.

-Seo Olegário, desculpe corrigi-lo, mas não é um meteoro, mas sim um asteróide. –comentou o cientista.

-Ah, astróide? Foi esse troço aí que matou o nosso cavalo.

-Já caiu asteróide por aqui?

-Não. Nóis tinha um cavalo magro, que não engordava de jeito nenhum. Um conhecido nosso ensino nóis que era só dá asteróide anabolizante pro cavalo que ia vê como ele ia engorda. Nóis demo asteróide pro cavalo, depois que nóis foi lê, nóis demo muito asteróide, o cavalo empacotou. Não agüento o asteróide anabozante.

-O senhor sabe quanto pesa este asteróide?

-Não, uai. Nem faço carculo.

-Ele pesa quinhentos bilhões de quilos.

-Quinhentos bião de quilo?

-Isso.

O mineiro fez uma careta fechando um olho, e puxando a pálpebra do outro olho com o dedo.

-Si eu fosse os ceis eu não confiava nisso não. Inda mais si foi pesado na balancinha do Zé Batata, o verdureiro da cidade. Onte memo a muié compro um quilo e meio de pepino, nóis conferiu em casa e tava fartano duzenta grama.

-Você sabe a velocidade deste asteróide?

-Não faço idéia não sinhô.

-Treze milhões de quilômetros por hora!

-Ah, aqui ele ta perdido. O guarda Chico Swat já murta ele ali memo na avenida Deodoro da Fonseca. Ali não pode passa dos oitenta pur hora! Aqui as lei é rígida. E aí desse astróide se não parar. O Chico prega atrais dele com Corcel da viatura, ele prega atrais desse astróide gritando: ”Pare em nome da Lei” E te dô a minha mulinha Pacata se o Chico não arcançá esse infeliz.

Só se sabe que as previsões não foram confirmadas, o asteróide não caiu na terra. Aliás, passou longe da órbita terrestre.

O sertanejo, observando o pessoal desmontando o equipamento, murmurou consigo mesmo:

-Dispois eles diz que somo nóis que contamo mintira! Tar de astróide. Esse povo, eta povo mais besta.

Leozão Maçaroca
Enviado por Leozão Maçaroca em 18/04/2013
Código do texto: T4247591
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