UM PAPAGAIO DA PESADA
Era uma vez um papagaio muito solitário. Sua grande amiga papagaia havia falecido há uns três anos.
Gaio era o nome dele. Gaia, a papagaia de quem ele era viúvo, era uma ave muito bonita que ele havia conhecido num aviário. Ele estava no poleiro, muito só, quando ela chegou toda colorida, levada pelas mãos de uma senhora de bastante idade que não mais podia cuidar dela.
Gaio ficou exultante quando a viu. Foi amor à primeira vista. Gaia tinha um bico curvo e asas de bela envergadura, penas macias, olhos brilhantes, unhas afiadas e um ar sensual. Um belo exemplar feminino.
Gaio, para lhe conquistar, ofereceu uma semente de girassol para Gaia, mas ela era muito orgulhosa e fez bico doce; não aceitou.
Gaio era um sujeito falante. Tinha um vasto vocabulário e ainda por cima sabia assobiar o hino do Flamengo. Palavrões então ele sabia muitos, mas esperto que era não os falava perto de Gaia.
Com o passar do tempo, Gaio, bom de bico, conquistou o coração daquela linda papagaia. Ficavam no poleiro lado a lado, catando piolhos no pescoço um do outro.
Gaio era um verdadeiro garanhão, aliás, como todo papagaio que se preza. Tanto que Gaia era tremendamente ciumenta. Gaio andava de olho nas galinhas do vizinho. Levou uma bronca de Gaia, que não queria saber de galinhagens.
Numa outra ocasião Gaia descobriu que Gaio andava de parolagens com uma urubua.
- Se eu te pegar de olho naquela crioula, você vai ver. Não ficará pena sobre pena.
Mas Gaio não tinha realmente jeito. Era de sua natureza. Gaia acabou pegando o cajajeste transando com o espanador.
- Como é que você teve coragem, Gaio? Me trair com aquele espanador poeirento.
Voou pena para tudo que é lado.
Talvez de desgosto Gaia adoeceu. Levaram-na no veterinário, mas não teve jeito. Pobrezinha, morreu!
Desde então, Gaio anda com muitas esperanças de conquistar um novo amor. Já tem alguém até em vista: anda deveras interessado em ter um caso com a bela passarinha do relógio cuco.
Insistente como é, talvez consiga.
Ah! Esses papagaios. São todos iguais.