CROQUIS 
 
A família está reunida para o almoço de domingo, quando Lucinéia, a filha mais velha, após receber um telefonema do namorado, comenta preocupada: 
- O Sandro Alberto acabou de me ligar falando que hoje à noite vai trazer para nós quatro croquis que ele trouxe da sua viagem lá no Pantanal. 
- Ele vai trazer o quê? 
- Cro-quis - ela falou separando as sílabas, fazendo um gesto de mão para lá e outro para cá. 
- Ah, sim - falou o pai - croquis. 
Como todos ficaram com cara de quem sabia do que se tratava, Lucinéia não se conteve: 
- Vocês estão fingindo que sabem o que são croquis. Eu também não tenho estudo e não me envergonho de assumir: não sei o que são croquis e por isso estou um pouco preocupada. 
- Bom... é... ele falou as croquis ou os croquis? 
- Não importa o sexo. Já pensou se é uma espécie de papagaio, macho ou fêmea; nós não temos sequer gaiola para croquis, vai ser o maior vexame. Estou tão sem graça! 
- Sei não, mas acho que croquis está mais para comida, tipo uns bolinhos para a sobremesa - falou a filha gordota. 
- Deve ser é algo salgado e ainda por cima feito com cebola e alho, falou uma outra filha - eu não vou comer. 
- E se for um bicho meio feroz? Eu não vou ficar em casa... - falou o caçula. 
- Pode ser um bichinho, feito porquinho da Índia. Uns croquizinhos, ora. 
- Isso vai fazer a maior sujeira pela casa. 
- E ainda por cima vamos chegar da rua tropeçando pelos croquis correndo pela sala - emendou o pai. 
A vizinha, dona Eulália, resolve interferir. 
- É melhor consultar o pessoal aqui da Vila, pode ser um bicho barulhento, urna espécie de galo, vai ser urna croquisada fazendo escândalo já cedo. 
- Esses croquis ou essas croquis estão vindo numa hora muito errada - falou o pai. 
- É verdade, seu pai está com a razão - a mãe estava realmente  preocupada. 
- Ligue para ele suspendendo a vinda de croquis. 
- É isso mesmo. Esse Sandro tem cada urna ... croquis não se leva assim, de urna hora para outra, para a casa das pessoas. Agradeça a gentileza, fale para ele levar os croquis para a casa da mãe dele. 
- Vai parecer grosseria. "Leva os croquis para a casa da sua mãe". 
- Fala com jeito, minha filha. "Sabe os croquis ... que tal dar todos para  sua mãe". 
- Vocês estão esquecendo que pode ser tóxico, uns cigarrinhos de croquis - aventou a filha mais nova, com urna cara de "só faltava essa". 
Com essa de tóxico, o pai resolve encerrar a questão: 
- É, está decidido. Croquis aqui de modo algum, nem pensar. Liga para ele agora, já. Dê qualquer desculpa e ainda tem mais, este negócio de ficar namorando rapaz da Zona Sul não vai dar certo. É melhor você acabar com este caso.
 
Karpot
Enviado por Karpot em 01/04/2013
Reeditado em 01/04/2013
Código do texto: T4218371
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