A PALMEIRA DA MALHAÇÃO

Costumo ir à feira livre aos domingos. Fazer compras de frutas e legumes na feira, para mim, é um agradável passatempo. Compro frutas numa única banca: laranja, mamão, abacaxi, manga, pera, pêssego e ameixa e outras que variam conforme a estação. Sirvo-me como se estivesse num restaurante self-service. Fico do lado de dentro e vou me servindo, escolhendo nas caixas que ainda não foram abertas. A descontração é total, todo mundo tira sarro de todo mundo. Todos têm apelido. Pelé, Mancha, Salário (este tem um nome alemão difícil de escrever, soa Uóiler). Recentemente o Veio, que ficava no setor de cítricos, foi trabalhar com seu irmão num bar. Havia unanimidade entre os demais que ele gostava de uma birita (nunca o vi alterado). Para seu lugar veio uma mulher, a primeira mulher a trabalhar nessa banca. Muito simpática, comunicativa, louraça, aparenta estar no final da faixa dos trinta, muito bonita. Corpo de malhadora, bronzeada, coxas firmes, bumbum empinado, fartos seios, tudo o que se valoriza numa passista de escola de samba. Perguntei a ela se frequentava academia por estar com aquele corpão malhado e ela respondeu:

- Minha academia é na feira de terça a domingo, carregando caixas de frutas, armando e desarmando barraca e depois cuido sozinha de quatro filhos e ainda estudo para completar o fundamental, porque não tive tempo antes. Minha vida foi sempre o trabalho duro, fiquei privada de muita coisa.

- Sabe, disse-lhe eu. Por falar em “malhação”, na época dos meus tempos dourados, os bailinhos de sábado à noite eram numa casa onde havia uma palmeira que já estava até inclinada (fiz um gesto com o braço na perpendicular e depois a 45°). A gente já tinha apelidado de “a palmeira da malhação”.

Falei-lhe, discretamente, quase ao pé do ouvido, quando ouvimos uns kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Eram as gargalhadas de uma anciã, octogenária, que ria de rachar o bico que apesar da idade estava muito boa de audição.

- Tempo bom que não volta mais. Como era legal. E plagiando a canção de Ataúlfo Alves, eu disse. Eu era feliz e não sabia!!! A loura, rindo, me disse:

- Acho que a velhinha aí ajudou a entortar essa palmeira!!!!

E a anciã continuava com o kkkkkkkkkkkkkkk, como se não risse há muito. Acho que ela passou o resto do domingo se lembrando da palmeira.

SANTO BRONZATO/ 27/MARÇO/2013.

SANTO BRONZATO
Enviado por SANTO BRONZATO em 27/03/2013
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