Ramalhão ou isto ou aquilo

Ramalhão era conhecido pelo pouco jogo de cintura, emitia opiniões radicais que de certo modo eram racionais até demais, mas aos olhos das pessoas do lugar aquilo não passava de pura brutalidade, de ignorância somente. É que o velho Rama não suportava e ironizava todo tipo de contradição que via ou sabia, e com ele não havia subterfúgio, ia direto ao assunto, suas tiradas já não eram novidade no lugarejo de Pau D`arco: - quem tem medo de cagar não come! Quem gosta de homem é veado, mulher gosta é de dinheiro! Se eu sair pra beber é pra me embriagar, se for pra eu ficar bom eu tomo é medicação! Se eu tiver bebendo não quero saber de tira-gôsto, pois das duas uma, ou como ou bebo, se for pra eu tirar gôsto não sinto o gosto da bebida, se eu tiver comendo não bebo. Ou tô alegre ou triste, ou vou ou fico, ou isso ou aquilo...

Certa vez um gaiato-gozador se passando por sério, querendo saber e constatar de perto as idéias do Ramalhão, começou com uma conversa de propósito meio dúbio.

- Seu Ramalho, o senhor já ouviu aquela música, uma bossa nova do Tom Jobim, onde ele diz: não gosto de chuva, não gosto de sol?

- Não conheço a música nem o cantor, mas acredito e respeito a opinião dele, se ele diz não gostar de chuva nem de sol, talvez goste mesmo é de granizo, gelo ou neve, não é?

- Boa seu Ramalho, gostei da sua abalizada opinião, mas falando ainda em música, o senhor já ouviu uma do Roberto Carlos em que ele diz: palavras são palavras...

- Já vi o Roberto Carlos pela televisão, e não vejo o que há de errado com a sua pergunta, afinal palavra não é grunhido, nem miado, nem latido, e o cantor tá mais do que certo. Palavra é palavra, ora!!!

- Certo seu Ramalho, mas não se zangue estamos só conversando amigavelmente, mudando de assunto, o que o senhor acha desse pessoal que depois de ter uma vida desregrada se arrepende e vira crente?

- Pra mim são tudo um bando de bandido arrependido, o cara que começa no cangaço e depois muda de rumo, não admiro não...

- Certo, e o senhor como bom católico, já fez alguma promessa pra santo?

- Eu não, quando vou a missa, escuto o padre falar e as mulheres cantarem os hinos de igreja e só. Fico me admirando de gente que tem santo de devoção...

- Por que?

Pois se quer saber eu vou lhe ser franco, o povo metido a rezador e devoto gosta é de arrumar problema depois arruma um santo e bota a situação pra santa ou pro santo resolver...

- Como assim?

- Vou lhe dar um exemplo pra acabar logo com essa conversa mole. O que mais se vê hoje em dia é o povo ir às comprar nos supermercados e shoppings, e de lá voltam com as sacolas cheias de nós nas alças, pois bem, e eu lhe pergunto: você sabia que agora inventaram até uma santa desatadora de nó?!

-!?

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 26/03/2013
Reeditado em 27/03/2013
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