O ESTÔMAGO QUE EXISTE EM VOCÊ.

O ESTÔMAGO QUE EXISTE EM VOCÊ.

(Autor: Antonio Brás Constante)

Para se escrever sobre alguns assuntos tem-se que ter estômago, principalmente quando o assunto é sobre o estômago. Este texto foi inspirado na operação de redução de estômago realizada em uma grande figura (quando digo “grande figura” quero dizer que além de ser maior do que eu, ele também é um bom amigo que certamente me perdoará por incluí-lo nesta história).

Há algum tempo atrás o Giovanni (vou chamá-lo assim, pois este é o nome dele) me detalhou como tudo aconteceu. Agora, passados alguns meses do ocorrido, resolvi transformar um pouco dessa experiência de vida em um texto, com toda uma riqueza de detalhes que na realidade nunca existiram, mas que ficarão bem interessantes no enredo.

Primeiramente vou tentar explicar simplificadamente (ou seja, de um jeito que até eu mesmo entenda), alguns pormenores da operação. A cirurgia divide o estômago em dois, sendo um pequeno que receberá a comida e outro maior, que produzirá o suco gástrico. Este segundo estômago tem o seu canal de ligação com os intestinos modificado e religado alguns metros abaixo do ponto original. Isto é feito para que ocorra uma menor absorção de nutrientes pelo corpo.

O nosso estômago (meu, seu, do seu cachorro, etc), é um ser solitário, justamente por não poder se relacionar com outros órgãos de sua espécie, enquanto outras partes do corpo vivem em parceria, como os rins e pulmões, por exemplo. Isto faz com que ele afogue às magoas em verdadeiras orgias alimentares. O estômago também sonha, e não somente com sonhos cobertos de açúcar, mas com a liberdade. Seus vizinhos, os intestinos, lhe deram esperanças de que isto seria possível, dizendo que há uma luz no fim do túnel. Porém, alertam que é bem desagradável de se chegar até lá.

Muitos acham que o estômago não tem sentimentos, afinal ele não tem sequer um cérebro. Mas estão enganados. Lembrem-se de que os humanos vêm equipados com um item chamado “cabeça”, porém, muitas delas estão vazias, ou cheias de dejetos impronunciáveis. Mesmo assim, esses humanos conseguem feitos incríveis, como se eleger para governar cidades, estados e até nações de primeiro mundo. Não devemos pensar no estômago apenas como um mero pedaço do corpo. A própria história bíblica nos fala de outras partes do homem que se destacaram, como no caso da tal costela de Adão, que ganhou sua independência ainda nos primórdios da criação.

Voltando a operação citada nos primeiros parágrafos, através dela a região do corpo onde anteriormente existia apenas um estômago, passou então a ter dois inquilinos. Cada um desempenhando uma função diferente. Duas metades se complementando, vivendo e partilhando das alegrias e tristezas inerentes ao aparelho digestivo. Aos poucos, quem sabe, novos laços poderão ir se criando entre ambas. Talvez até incentivando o surgimento de um novo tipo de agrupamento social, similar ao das atuais relações familiares.

Dois estômagos trabalhando em conjunto. Suas entranhas entrelaçadas, onde a maior prova da cumplicidade entre ambos é exposta internamente. Representada na figura de um anel preso no canal digestivo de um deles, que serve não somente para restringir a entrada de alimentos, mas também como um símbolo desta união.

Enfim, abstrações à parte, as operações de estômago podem vir a surtir resultados positivos no combate a obesidade, fazendo com que homem e estômago passem a viver em harmonia e de forma mais saudável. (Nota do Autor: Texto dedicado ao amigo Boni).

(SITES: www.abrasc.pop.com.br e www.recantodasletras.com.br/autores/abrasc)

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Antonio Brás Constante
Enviado por Antonio Brás Constante em 19/03/2007
Código do texto: T418720