PLÁGIO E PRAZER

Seja um plágio de luz desdobrado sobre a larga amplidão deste... Ooooops!

Da revista “Entrelivros”

Em 2003, uma escritora chilena foi premiada num concurso literário com um conto considerado um plágio do relato El fin del viaje, do escritor argentino Ricardo Piglia. Elegante, e avesso a distúrbios vaidosos, Piglia encarou o caso sem esbravejar. Disse: "O plágio é a forma mais ingênua de admiração literária".

Não menos elegante e talvez mais irônico é o comentário que Jorge Luis Borges fez sobre a obra do poeta Macedonio Fernandez:

"Eu o imitei até a transcrição, até o apaixonado e devotado plágio. Sentia: Macedonio é a metafísica, é a literatura. Os que o antecederam podem resplandecer na história, mas eram rascunhos de Macedonio, versões imperfeitas e prévias. Não imitar esse cânone teria sido uma negligência incrível". Há na literatura algum elogio mais convincente à arte deliberada do plágio?

Pois é. Mentirosos e plagiadores se completam.

Muitas mentiras são engraçadas o suficiente para que mereçam plágio, melhor quando se atribui co-autoria .

A minha cidade (naquela em que nascí e naquela em que crescí, respectivamente Piraju e Bernardino), foi celeiro de grandes mentirosos, que se apossaram de mentiras de outros ainda mais antigos, tornando-as ainda mais inaceitáveis e aumentando a qualidade, eternizando o contador e legitimando o plágio.

Portanto, contamos mentiras alheias como se fossem nossas, sem sequer esboçar rubor nas faces ou gaguejar. E é o que faço, sempre que posso. Veja os textos que postei no recanto, sem nenhum pudor:

O supercão do Marcolino

Relógio Velho

O cão do Chiquinho

Quem não quer pra si estas pérolas? Elas se multiplicam na boca de milhares de mentirosos de ontem e de hoje.

Quanto ao Boldrin: - também é um grande mentiroso, um dos mais talentosos, engraçadíssimo neste gênero, veja esta:

- Conta aquela da onça que te perseguia!

- Pois é mesmo. Dei de cara com ela e corri.

-Mas onça também corre e mais que você, teria te abocanhado!

- Sei, mas eu estava mais na frente e tinha uma lagoa, eu entrei e nadei o mais rápido que pude, eta que me safei da bicha!

- Olha, todo mundo sabe que onça também nada!

- E nada muito a danada, mas eu continuei correndo dela e dei um salto pra cima de uma pedra bem alta e fiquei lá, a pintada ficou olhando só!

- Barbaridade! Então não sabe que onça pula demais?

- E pula mesmo. Tanto que quando ela pulou na pedra eu me joguei e correndo me enfiei no meio de uma moita enorme de arranha-gato e foi minha sorte!

- Não tem jeito mesmo! Onça tem couro grosso, nem sente as garras do arranha gato, como explica que escapou dela?

- Aqui! Quer saber? Pois a onça atravessou mesmo o arranha-gato, me comeu todinho, to te falando de dentro da barriga dela e vai pra puta que te pariu!

Paulo de Tarso
Enviado por Paulo de Tarso em 17/03/2007
Reeditado em 05/07/2007
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