O matuto no médico

Seu Antonio das castanhas, sujeito cinquentão, matuto e analfabeto era tido por grosseiro no falar. Era além disso, consumidor de aguardente pura e pitador de fumo de rolo. Por conta desse mau-hábito, era urgente que fosse ao médico. Mas ele era do tipo que se tremia quando falavam em exame de sangue, injeções ou coisa parecida. Sua esposa, mulher camponesa também mas mais acostumada com o trato social, o tranquilizou:

- meu véio, tenha medo do dotô não, ele não vai lhe mordê, só vai fazê alguma perguntinha e você seje educado e responda bem a ele, num já discutir nem desdizer o home, seje sincero... espere ele falá, e converse com ele como você conversa com o nosso cumpadre vizinho seu Mané.

- e o tabaréu foi ao médico. Entrou no consultório, o médico lhe perguntou o nome e disse pra ele se sentar. Em seguida começou com outras perguntas.

- O senhor fuma?

- pito cigarro de paia, de fumo bom... Arapiraca, às vez fumo o caipora tombém... o senhor deve fumar esses cigarro de filtro, né?

- nunca tive o hábito do tabagismo... mas por favor, para maior proveito dessa consulta médica, limite-se a responder o que eu lhe pergunto, por favor sim?

- pois não dotô!

- o senhor bebe?

- bebo sim, e quem num bebe? vai dizer que e o sinhô nem água bebe?

- seu Antonio quem faz as perguntas sou eu... bebo água e todo mundo bebe, mas eu me refiro ao álcool... vou lhe perguntar de novo, o que eu preciso é saber se o senhor bebe cerveja, cachaça, conhaque...

- num sou home iducado mas tombém num sou ixigente não dotô, aceito um copinho de aguardente e num precisa ser da pura não!

- ?!

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 24/02/2013
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