Escola
Colocando o café sobre a mesa, e já angustiada pelo fato de todo dia a mesma história se repetir sem mudar uma virgula, Sônia, olha reprovando o marido Ariovaldo que simplesmente lê seu diário matinal, querendo sempre estar por dentro das noticias da cidade e adjacências. Evidentemente irritada, começa a bater os talheres e acessórios na mesa do café, o esposo, sem mover os olhos do jornal tem a audácia:
- Benhê, você viu, o Serginho do pedágio está se candidatando a vereador? Quem vai votar no cara que cobra pedágio!
- Se o problema fosse esse Ariovaldo, agente dava um jeito – Retruca a esposa, como que num desabafo.
- Que passa benzinho? – Parece, mas não é irônia do marido.
- È o Jorge, amor.
- O Jorge de novo? – Espanta o marido coçando a careca, e aparentemente surpreso.
Nisso há um momento de silêncio na casa da Vila Aurora, escuta-se apenas o piar dos passarinhos e um Mercedes 1620 cortar a rua frente ao sobrado, com certeza cheio de passageiros matinais, ainda com sono para encarar o trabalho, porém disposição até os ossos para alfinetar a vida de algum companheiro de trabalho.
- Porra, o Jorginho não aprende?
- Ontem eu falei com ele!
- E o que ele disse?
- O mesmo de sempre. Porém hoje é você quem vai lá!
- Eu por quê? Tu já não foi ontem? Vá de novo!
- Ariovaldo, esse menino também é teu filho, toma jeito Ariovaldo.
Enfurecida Sônia em um único gole esvazia a xícara meio cheia, ou meio vazia, o café quente desce cortando sua garganta, mas não a incomoda, e sim a passividade do marido que vê um problema com o filho, mas se esquiva de todos os modos.
- Você vai Ariovaldo?
- Bom, é o jeito né? Só não entendo porque esse menino não quer ir à escola?
- E por que será Ariovaldo? Ele sempre foi assim!
- É, mas mesmo sem gostar da escola muita gente se forma e ocupa cargos bons.
- Vá falar com ele Bem.
- Tá, eu vou, eu vou.
Aliviada sonha sorri, acredita no poder de persuasão do marido, apesar dele já ter feito essa tarefa antes e ter falhado.
O esposo, em sua vez, mexe a bebida com uma pequena colher, talvez criando coragem, e em seguida em dois goles mata seu café, e ruma sentido as escadas do duplex. Abre a porta do quarto do filho e encontra o herdeiro na cama, enrolado no edredom, dormindo tranquilamente, de diferente, apenas o rádio relógio deslocado, talvez pelo fato de Jorginho tentar desligar o aparelho para continuar no sono dos justos.
Ariovaldo senta na beira da cama, e estende à mão descobrindo o filho, sua voz é branda:
- Jorginho, são mais de 6:00 já!
- Hã.., pai..., sono.
- Jorginho levanta vai.
- Pai, ...sono hãaa ainda.
- Jorge anda, se levanta para ir à escola!
Nisso a mãe espreita na porta do quarto do filho vidrada no diálogo que sucede-se a frente de seus olhos intrometidos, porém aflitos de mãe.
- Eu não gosto da escola!
- Porque meu filho?
- Ah pai aqueles garotos...
- O que tem os garotos? – Pergunta ácido o pai.
- Não gosto deles – Reponde Natural o filho.
- Jorge – Exalta-se o Pai – Te dou três motivos para se levantar agora e ir para bendita escola, primeiro já é tarde para ficar dormindo, segundo você tem 42 anos de idade, e eu não vou ficar te adulando, e terceiro o senhor é diretor daquela porra de escola, tem uma emprego a zelar e uma obrigação a cumprir, gostando ou não!
Sem jeito Jorge se levanta, para mais um dia de trabalho. Enquanto a mãe ainda suspira:
- Esse menino precisa se casar, e sair da nossa casa, precisa ajeitar a vida!