_ CONFUSÃO NO ALTAR _
Godofredo encontrava-se horas a fio enchendo o saco dos fregueses do bar de seu Manoel. Seu estado etílico não era dos melhores, foi quando, pediu ao dono pra beber mais uma cana. Com a negativa, ele alegou, que seria a saideira e depois iria embora dormir. Tanto fez que conseguiu convencer o dono à servi-lo, mas de repente ouve-se um grito:
- AAAiiii, meu Deus! Seu Cretino, está bebendo de novo!? Esqueceu que vai me levar à um casamento?
- Vou levar mulher... Mas antes vou terminar de beber esse copinho aqui, depois tiro um cochilo e a gente vai, ok?
- Cochilo!? Já estamos mais do que atrasados... Vamos embora, não vai beber mais nada. Cachorro, safado, sem vergonha!
- Isso mesmo, Dona Maricota, bota ele pra casa, já fez muita besteira por hoje. - Falou seu Manoel, o dono do bar.
Chegando em casa, Dona Maricota disse:
- Toma banho rápido e escova bem esses dentes pra diminuir esse bafo de cana.
Terminaram de se arrumar e saíram, mas custaram a chegar, porque Godofredo arranhou o carro na saída da garagem, depois parou no caminho para tomar mais uma birita. Alegou para a mulher que estava apertado para ir ao banheiro. Depois no estacionamento teve muita dificuldade para estacionar. Empurro o carro da frente, empurrou o carro de trás, mas enfim, conseguiram chegar a igreja. Sua esposa, preocupada pelo atraso, abriu a porta do carro e saiu apressada.
- Espera mulher, vamos entrar juntos...
- Você está bêbado e só me faz passar vergonha.
Maricota entrou sozinha na igreja, avistou uma amiga e sentou ao seu lado, não deixando vaga para seu marido.
- Olá, amiga! Tudo bem, o que houve, parece assustada?
- Meu marido só me faz passar vergonha, está "num porre só". Não quero ficar ao lado dele.
Passado alguns minutos, escutaram um forte barulho, todos olharam para trás e o padre parou a missa. Vários homens levantaram para socorrer uma pessoa caída. Era ele, Godofredo manguaça da silva, caído ao chão. Havia tropeçado no degrau da escada e caiu por cima do pedestal de flores.
- Viu só, amiga? Eu pensando que ele já estava sentado. Deve ter ido beber mais... Bem, deixa ele pra lá, não quero nem saber.
O Padre voltou a falar por mais alguns minutos e teve de parar a cerimonia novamente. Chamou a atenção de algumas pessoas que estavam cochichando e dando risinhos. Maricota havia escutado um, disse me disse, mas não sabia direito do que se tratava. Resolveu olhar para trás, foi quando, só confirmou pra amiga o que lhe dissera. Que ele só lhe fazia passar vexame. Simplesmente todos riam, porque Godofredo estava dormindo e roncando muito alto. Ela levantou-se e foi acordá-lo:
- Vou te matar, homem! Vê se não dorme mais, estão todos te olhando. Você ainda está usando esse rádio de pilha aqui dentro da igreja?!
- Não está vendo, mulher? Estou com fones de ouvido.
O padre voltou com a cerimonia com cara de poucos amigos, mas quando chegou o momento de reflexão, que os convidados vão tomar a hóstia e depois, rezar, ouve-se um grito estridente:
- GOOOOLLL do MENGÃO!!!
O Padre deixou a hóstia cair tamanho susto que levara. Parou tudo novamente e falou que dá próxima vez iria pedir para Godofredo se retirar. O noivo por sua vez, "um tremendo vascaíno", bufava de raiva:
- Calma, Tenório, não faça nada, assim você estraga nosso casamento. - Falou a noiva.
Mas parece que ela estava adivinhando, porque, mais tarde, chegando ao término da cerimonia, o Padre fez aquela tradicional pergunta: - Se existe alguém contra esse casamento, que fale agora ou cale-se para sempre. Godofredo pediu a palavra... Levantou da cadeira, foi até o altar, meteu a mão no microfone e disse:
- Senhoras e Senhores... Não tenho nada contra esse casamento, apenas quero dar o meu testemunho como amigo da família. Vi e acompanhei a juventude problemática da Maria... Hoje é uma mulher séria e moderna... Anda de sainha curta e não tem papas na língua. Às vezes fala muito palavrão, mas quem não fala? Tem muitos amigos e também conhece muita gente boa...Todos os dias chega de carona em um carro diferente. E só carrão, hein! Cada carro mais bonito que o outro. Quanto ao Tenório... Bem, do Tenório sou suspeito pra falar... Mas vamos lá... Nos encontramos todos os dias pelos bares da vida. Rapaz distinto, só aparece com roupa de grife e carros importados. Não sei como consegue tanto dinheiro se não o vejo trabalhar... Mas ajuda muito suas primas, sempre o vejo dando presentinhos para elas lá na casa da luz vermelha. E que primas, hein, Tenório!? O coitado diz que tem alergia a banheiro de bar, tanto é, que todas às vezes que entra, sai de lá com o nariz vermelho e cafungando muito. Fica mais alegre, brinca com todos e até paga cachaça pra nós.
- Que negócio é esse de primas, Tenório? E que alergia é essa, nunca vi você dar um espirro se quer? - perguntou a noiva.
- E que história é essa de todos os dias você chegar de carona? E cada dia com um carro diferente...
Enfim, casamento encerrado, noivos solteiros, igreja quebrada, o Padre desmaiado ao chão e o Godofredo... bem, o coitado do Godofredo que ainda pretendia tomar um gole daquele "vinho santo", apanhou que nem boi ladrão... Apanhou tanto, mas tanto, que ao invés de ir para a festa que não houve por sua culpa, foi direto para o hospital delirando e achando que estava indo para o salão tomar champanhe de comemoração.