O Exiliado
Roberto Nogueira Villar, 28 anos, casado, popularmente conhecido como Beto, esta há pouco tempo no exílio, vive uma experiência completamente nova, vê sua pacata e humilde vida de outro ângulo, observa atenciosamente que a vida desse lado, o lado amargo do exílio, não é mais a bela e completa vida de outrora.
O frio grane inimigo para quem está exilado parece ser mais intenso, duradouro, mais cruel, devastador. A comida essencial, essa não tem de sobra, pois no exílio, nessa longa noite de inverno, terá sorte se encontrar algo. Beto emociona-se o relembrar seu passado, um passado alegre e festivo, tão festivo que o trouxe para o exílio. Suas lágrimas, agora bem mais evidentes, o faz recordar de suas filhas. Duas lindas princesas. Carol, 7 anos, encheu o pai de orgulho ao ganhar o concurso de redação de sua escola. Inteligente. Meiga. Simpática. Essa é a sua filha mais velha. A caçula Natalia, 3 aninhos, o bebê da casa, a mais paparicada. Beto as ama muito, e muito sente a ausência delas. Ou melhor, a ausência dele que vive no exílio, fazendo-as sentir sua falta.
Separado de seus tesouros, por que a vida é ingrata, questionava-se aflito Roberto. O que fazer agora o homem exilado? O que resta a ele? Para aquele que passa momentos difíceis, e emociona-se fácil.
A dor bate forte em seu peito, que enfraquecido pelo forte frio da noite, fazendo-o cair no chão, ajoelha-se e pede inúmeras vezes piedade, mas parece que ninguém o escuta. Com as mãos sobre o joelho chora. Chora alto. Desabafa, grita recordando sua felicidade, para que todos possam ouvir sua dor:
- Ó tempos saudosos de felicidade imensa, de paz morosa, para onde fostes? Estou à procura de ti. Exijo um reencontro com as longas tardes na varanda do remanso de meu lar, onde por horas filosofava deitado em minha deliciosa rede de balanço, os encontros para disputas saudáveis de futebol informal entre amigos, em seguida, a pausa para descanso e conversas inteligentes regadas de boa cerveja. Quero de volta. Por quê? Pergunto-me insistente por quê? Simplesmente por que estou aqui, exilado – grita chorando desesperadamente.
Até que sua esposa abre a porta frontal de sua casa e enfurecida dispara:
- Eu te tranquei do lado de fora porque não agüentava mais ver você vagabundeando pela varanda, saindo pra jogar bola com os amigos e se esquecendo e mim. E o pior, chegando toda noite bêbado. E pode parar com essa choradeira, pois você ira dormir essa noite do lado de fora!
A porta se fecha com força, fazendo o homem exilado silenciar-se. Nessa noite ele dormiu do pior lado, o lado de fora.