O sumiço do Bertão

O Dal era uma espécie de repórter local.

Tudo o que se quisesse saber era só perguntar que a resposta viria em segundos. Quem não gostava dele tinha a mania de dizer que era fofoqueiro, mas não era isso não. Apenas um sujeito bem informado das sujeiradas dos outros. . . e outras.

Quando apareceu com a notícia que o Bertão tinha ficado um mês preso, não havia como duvidar. Senão vejamos: o Bertão não era o que se podia chamar de freguês habitual. Volta e meia aparecia no Zeponi. Uma vez por semana. Três por mês ou coisa assim, chegava, cumprimentava todos no recinto, pedia uma cerveja pro Zeponi e se assentava na mesa de tranca, que ele não era muito chegado em cacheta ou bilhar. Jogava quatro, cinco partidas, depois ia embora dando tchau pra todos. Boa gente, contador de piadas sujas, corinthiano, se perdia, nunca brigava ou xingava. Nunca arrumava confusão na hora de pagar, alegando que era menos cerveja , que o preço era brabo ou não estava gelada .

Só que tinha ficado mais de mês sem aparecer. Que estivesse doente ninguém ficara sabendo, que Dª Nena tivesse tido seus piripaques de costume, também não, mas como a turma não era muito de ficar futricando a vida dos outros, nem percebeu sua ausência.

Portanto se o Dal vinha com essa história de prisão, só podia ser verdade.

E não foi preciso muita coisa para ele dar o serviço todinho.

“ Cês sabem a Justine?”

Claro que todo mundo conhecia.

“ Pois é! O Bertão se engraçou com ele e partiu pro crime!”

O “ele”, não estranhem não! É que a Justine era um traveco ainda novinho que tinha começado na vida. . . digamos boiolal pouco tempo atrás. Coisa de seis, sete meses se muito. Magrelo, cabelos pretos compridos, duas tetinhas de silicone des’tamaninho, sempre de shortinhos ou minissaia , uma tatuagem tribal no meio das costas, que ninguém sabia o que significava. Do tipo que, se o sujeito não soubesse dos antecedentes, tivesse tomado uns Johnnies Walkers a mais ou não prestasse atenção direito na “documentação” bem que podia comer gato por lebre ou apalpar uma espada em vez de bainha. Um perigo!

Só que o Bertão sabia de tudo. Se queria tomar o caminho errado que não aparecesse depois com a história de que não prestara atenção, que fora enganado ou tinha tomado todas. Aí seria hipocrisia da grossa e não ia colar de maneira alguma.

Segundo o Dal, ele dera o nó na esposa com a história de receber uma grana que já tinha posto no bolso fazia um tempo e dera no pinote.

Todo mundo sabia que a Justine fazia ponto na pracinha perto do cemitério. O Bertão passara ali, tascara o viadinho dentro do carro e seguira até a pista. Dirigira até perto do rio São João, quase na divisa de Tabatinga, apagara os faróis e atuchara o carro num bambuzal perto da estrada. E começou o serviço.

Deve ter tido boquete. Deve ter tido apalpamentos. Deve ter tido até beijo na boca. Que um sujeito decente quando sai da linha não ta nem aí e faz tudo. Até o que Deus duvida e o Diabo permite devia ter rolado na amassação.

E devia estar muito do tarado pelo traveco, porque nem se dignara tirar a calça de tudo. Abaixou a dita cuja junto com a cueca até os tornozelos e . . . Couro!!!

Foi aí que o trem descarrilhou! Ainda segundo a versão do Dal, quando tirou os 21 cm do rabicó da Justine, divinha? Veio junto um jatão de bosta, e na maior pressão! E foi cair justamente na calça e na cueca estrategicamente arrumadas no chão do carro.

A fedentina tomou conta de tudo. O Bertão não teve outro jeito: limpou o melhor que pôde a merdaiada que tinha espirrado no banco, depois saiu peladão do carro e foi se lavar no São João. A bichinha junto. Tudo iria nos conforme não fosse o azar do casal de sitiantes estar passando bem na hora na pista e chamar a polícia. Que chegou rapidinho ( nessas horas eles vem depressa) e levou os dois para a Delegacia por atentado ao pudor. Até cheirosinhos depois do banho de rio mas o fedor do carro não teve cristão que tirasse.

Esclarecimentos aqui, desculpas ali, e o delegado liberou os dois. Afinal de contas ambos eram primários e que crime pode haver num amorzinho à beira da estrada?

- Mas, e a prisão? – alguém perguntou. – Você não disse que o Bertão tinha ficado um mês preso e por isso não apareceu aqui?

Foi aí que o Dal ( viciado em fazer um suspensezinho barato), limpou a garganta de um pigarro inexistente, acendeu um cigarro, tomou um gole de cerveja e tascou:-

- Com os dois olho roxo das pancadas da Dª Nena teve mais é que ficar preso em casa. – e deu a pá de cal:- Ele ia ser doido de sair assim na rua?

E não resistiu a uma última estocada:

- Comer traveco é foda!

Nickinho
Enviado por Nickinho em 13/03/2007
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