DEIXA O HOMEM CANTAR

Tínhamos acabado de sair de um hospital num município da zona oeste da Grande São Paulo e minha irmã, Margarida, pediu-me para pararmos numa loja que vendia toalhas porque ela queria comprar algumas para bordar. Na mesma rua, uns trinta metros depois, havia uma farmácia com estacionamento e então tendo que comprar alguns remédios, “matamos” os dois coelhos com uma só paulada. Estacionei rente à parede onde havia um violeiro cantador, sem nenhum sinal de deficiência física. Quase toquei nele quando abri a porta. Minha irmã seguiu para a loja e eu entrei na farmácia e minha Mãe ficou no veículo. Enquanto aguardava o atendimento e fila para pagamento, o cantador arranhou a viola e “cantou” três músicas, completamente desconhecidas para mim. O cara cantava tão desafinado que acho que mesmo quem aprecia moda de viola se sentiria com “dor de barriga”, imagine para quem não aprecia. Quando dava o agudo, fazia tanta força que era uma “borrada” só. Quando é dupla um faz força e o outro “borra”, imagine sozinho. Infelizmente, minha irmã não tinha voltado da loja quando eu fui para o carro. Cheguei ao segurança e pedi mais cinco minutos de “sofrimento”. Ele disse que o tempo era o necessário para as compras, mas como minha Mãe estava no carro ele concedeu esse tempo. Então fui até a loja de toalhas e disse para minha irmã se apressar. Lá da loja se ouvia o cantar do violeiro cujas “toadas” eram irreconhecíveis. Meu objetivo era sair dali o quanto antes. Voltei e puxei conversa com o segurança.

- Amigo. Você não fica de “saco cheio” ouvindo isso o dia inteiro. Para mim que faço as compras e vou embora já foi o suficiente. Coitada da minha Mãe que está mais perto. Ele canta quase no ouvido dela.

- É chato, respondeu. Não só eu, mas como todos que trabalham aqui. Mas a supervisora autorizou quando ele pediu, então não posso fazer nada. Ele tocava ali prá cima onde há maior movimento de pessoas, mas toda vez que alguém dava um auxílio, uma cigana que ficava ao lado, pegava a grana e ele nada podia fazer, pois se estendesse o braço, teria que parar de tocar e por causa disso ficava sem a grana.

Diante dessa explicação, meu fígado começou a desopilar e eu comecei a rir e pensei:

“Há oportunistas para tudo. Deixa o homem cantar”.

SANTO BRONZATO
Enviado por SANTO BRONZATO em 24/01/2013
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