QUEM TEM CIÚMES DO MÔ?

E aconteceu mesmo.

Horas atrás me vi numa dessas cenas do cotidiano que nos faz acreditar que, é fato, nunca termina o que temos para contar.

Ela sempre vinha se queixando de dores que ninguém dava jeito, e desta vez, estávamos as duas numa conversa algo focada quando, de repente, ela animadamente me apresentou um seu garoto ali ao lado, algo tímido, quieto, meio assustado, que parecia ter vindo dum outro planeta.

A bem da verdade, acho que me entusiasmei com o entusiasmo dela e confesso, fui algo apressada a proferir minha conclusão de primeira impressão sobre aquele garoto (EU E MINHA BOCA!) e... hei de aqui lhes confessar, fui eu que exclamei em TOM totalmente maternal, "Ah,que lindo, é esse o seu garoto?".

Ela, toda feliz, comigo comemorava sua milagrosa ausência de dor, e me explicava o remédio:"Ah, com esse meu garoto por perto...ah, eu sarei de tudo, sô outra mulher, nada de dores, né MÔ?".

Foi quando aquele "MÔ" me soou algo...bem diferente.

"Ah sim, seu garoto, entendi, muito prazer!"

E ela foi contundente a me pedir para que eu não reparasse na timidez daquele seu garoto recém chegado com saudades, afinal, vinha ele de MUITO longe para esse nosso mundo urbano e se ressentia com a agitação da cidade.Mas logo se acostumaria com o "novo".

"Tudo muito diferente aqui, né mô?". "Mas cumprimenta a moça, mô!

E o garôto me sorria meio incomodado com tanta urbanização.

"Ah, mas ele é bem moderninho, olha só como tem muitas tatuagens, né, Mô?" Mostra pra ela Mô, como você é forte...e corajoso!

Bem, então, fiquei ali a decifrar cada tatuagem exótica para tanta timidez desenhadas na exuberância de cada músculo que eles faziam questão de reverenciar...A MANDO DELA.

Às vezes penso que tatuagens são informes fidedignos da personalidade de quem as exibe, são como gens.

E aquele garoto era duma "personalidade"...

"Ah, com este meu gato musculoso , sou a mulher mais feliz deste mundo, né MÔ!" "Sabe, ele tem esse jeitinho de menino mas já vai fazer vinte e três anos, já é um homem feito, né MÔ? 'Vamos comemorar com um festinha a dois, né MÔ, conta pra ela...da festinha que estou preparando pro cê".

Ali eu mudei o rumo da conversa.

Fato nítido: aquele " garoto- homem" era indiscutivelmente dum outro mundo algo bem comandável , embora convenhamos, um mundo bem mais tímido do que o tão urbanizado e "avançado mundo" dela.

"O problema é que todo mundo tem ciúmes de você, né MÔ?"

Daí não aguentei e perguntei, intrigada que estava com o desenrolar daquela inusitada cena.

Então para que ele se sentisse mais "em casa" eu lhe perguntei curiosa:

"Ciúmes por que, MÔ?'; "Quem tem ciúmes do MÔ?".

"Conta,pra ela, MÔ, conta!".

Então ele saiu do mundo dele e me situou rapidamente no mundo dela:

"Ara, são os filhos, os netos e os bisnetos dela...vixi, eles tem um baita ciúme do nosso AMÔ...".

Uma coisa é certa: tem AMÔ que cura qualquer DÔ...disso sou testemunha presencial...e a FAVÔ!

NOTA: FOI VERDADE.