O PADRE E A NOIVA VIRGEM INDECISA

O velho padre, já em final de carreira, fora transferido para uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. Sério, austero, logo se inteirou de tudo que se passava na paróquia. Como a arrecadação da igreja era pouca, resolveu enviar cartas e mais cartas aos paroquianos cobrando o dízimo. Todas as manhãs, ia à pequena agência dos correios entregar as cartas e pegar a correspondência. A agência era tão pequena que era atendida somente por um funcionário. Zezinho fazia todo o serviço da agência. Era tido como chato, pidão e “prosa ruim”. Logo pelas constantes idas do padre à agência ficou íntimo dele.

Certo dia o padre compareceu à agência fumando um vistoso cachimbo. Zezinho ao vê-lo já “cresceu o olho”. E disse:

-Mas que belo cachimbo, seu padre!

O padre respondeu:

-É herança de família, pertencia a meu avô, que passou para meu pai que passou para mim...

-Seu padre, eu coleciono cachimbos, dá ele pra mim...

-Dou não, meu filho é relíquia de família...

-Ah, seu padre dá o cachimbo pra mim, é até bom para o senhor, que para de fumar...

-Nada feito, esse cachimbo para mim não tem preço...

E todos os dias quando o padre ia à agência o rapaz pedia o cachimbo para o padre, que sempre negava. Ele passou a não levar o cachimbo quando ia pegar a correspondência, para ver se o rapaz esquecia. Em vão. Todas as vezes que ele encontrava o padre ele pedia.

-Ah, seu padre me dá o cachimbo de presente...

Tanto pediu e tanto insistiu que venceu o pobre padre pelo cansaço. O Padre para se ver livre deu o cachimbo para ele. Aí foi um sossego. Ele podia ir e vir à agência sem ser importunado pelo funcionário. Certo dia o padre compareceu à agência com uma bela medalha de prata maciça da Mãe Rainha, presa por um alfinete na sua batina. O rapaz ao vê-la já ficou cobiçando-a:

-Que medalha bonita, seu padre, onde o senhor a arranjou?

-Ah, meu filho, veio do Vaticano, foi consagrada pelo Papa...

-Seu Padre, eu sou devoto da Mãe Rainha, dá esse medalha para mim...

-Que isso, meu filho, essa medalha, não vendo, empresto ou dou para ninguém...

-Ah, seu padre, para o senhor é fácil conseguir outra, dá ela para mim...

-Dou não, disse o padre se retirando.

Daí em diante foi um martírio para o padre. Todas as vezes que eles se encontravam o rapaz pedia a medalha. Tanto insistiu que um dia o padre perdendo a paciência deu a medalha para ele. E decidiu não mais ir à agência, quando precisava de alguma coisa mandava o sacristão em seu lugar.

Certo dia, atendendo as confissões, perguntou a uma mocinha:

-E aí minha filha, quais são os seus pecados?

-Seu padre, eu não tenho grandes pecados, mas estou em vias de cometer um: namoro um rapaz há certo tempo, vamo-nos casar, mas quero me casar virgem e ele insiste em transar antes do casamento...

-De jeito nenhum, para se casar vestida de branco, com véu e grinalda, você tem que se casar virgem...

A moça se retirou e dias depois foi se confessar e repetiu a mesma coisa:

-Seu padre, meu namorado insiste em transar antes do casamento, como é que eu faço, eu também fico querendo, afinal a carne é fraca...

-Resista a tentação minha filha, case virgem, assim você se estará valorizando, seu marido vai te respeitar para o resto da vida...

Dias depois ela voltou e disse ao padre:

-Padre, não tem jeito, eu estou quase cedendo, ele é insistente demais...

O padre falou:

-Minha filha, me conte quem é seu namorado, eu vou falar com ele.

Ela disse:

-É o Zezinho do correio.

-Zezinho do correio? Ih, minha filha, dá logo, dá logo para ele, aquele cara é chato demais...

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HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 14/01/2013
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