A INVEJA É UM CASO SÉRIO...

Naquela pequena cidade mineira, havia somente um colégio, público, onde estudavam alunos ricos e pobres. Filhos de trabalhadores braçais estudavam junto com os filhos dos médicos, do prefeito, do juiz...

Nesta escola tinha uma mocinha filha de um pedreiro que era a melhor aluna de sua sala, o que causava inveja a filha de um médico, Dr. Bezerra, um dos cidadãos mais ricos do lugar. Ela vivia fazendo “bullying” com a colega. A filha do médico tomava aulas particulares querendo tirar melhores notas que a colega. Em vão. Apesar de sempre ficar em segundo lugar, não se conformava. Vivia criticando as roupas da colega, seu corte de cabelo, pura inveja, a outra tinha um corpinho de sereia, um belo e sedoso cabelo.

Ela não perdia chance de espezinhar a colega, certo dia nos corredores, ela conversando com sua turma passou por ela, sua desafeta, e ela disse:

-Vera, quantos calos têm na mão de seu pai? A mocinha sem se alterar respondeu na bucha:

-Tantos quantos foram necessários para cuidar de sua família, sem luxo, porém com dignidade...

Ela não perdia as estribeiras com os ataques da colega, mas sempre tinha uma resposta à altura.

Certo dia a invejosa não tendo nada para amolar sua colega resolveu tirar “sarro” do nome de família dela.

Passando por ela no intervalo disse bem alto:

-Vera Lúcia Leite... Azedo!

A outra sem titubear disse:

-Marisa dos Santos Bezerra... Daqui a pouco vira VACA!

Marisa vivia esmiuçando a vida e a família de Vera, a procura de algo que pudesse desmerecê-la, nunca encontrou nada, os familiares dela eram pessoas simples, porém corretas e honestas.

Certo dia Marisa estava sentada em uma escada e ouviu Vera conversando com uma colega, que a havia convidado para fazer alguma coisa no sábado. Ouviu Vera dizer a colega:

-Sábado não posso ir, meu tio que finalmente saiu do presídio vem nos visitar, e vamos esperá-lo na rodoviária ás dez da manhã.

-Ele ficou muito tempo no presídio?

-Ah, creio que uns quinze ou vinte anos...

Marisa exultou, finalmente achara uma maçã podre na macieira de Vera. Saiu contando para todo mundo que o tio de Vera ex-presidiário viria visitá-la.

Ela pensou:

-Boa bisca esse tio dela, deve ter aprontado poucas e boas para ficar tanto tempo no presídio.

Sábado antes das dez da manhã lá estavam Vera e sua mãe, esperando o ônibus. Vera notou que Marisa e sua turma estavam um pouco afastadas na plataforma da rodoviária, olhando insistentemente pra elas.

O ônibus finalmente foi chegando e desceram poucos passageiros. O Tio de Vera, elegantemente vestido foi logo abraçá-la e a irmã. Marisa ficou olhando interessada. Nisso foi chegando o prefeito, o delegado e alguns vereadores. Marisa pensou:

-É agora que o bicho vai pegar, o prefeito e o delegado vão expulsá-lo da cidade.

Ledo engano. O prefeito o delegado e os vereadores fizeram uma verdadeira festa para o recém chegado: abraçaram-no tiraram fotos junto com ele. Marisa indignada falou bem alto com os colegas:

-E essa agora? ex-presidiário, recebido com festas pelas autoridades?

Nesse momento foi passando um cidadão bem vestido que disse:

-Que é isso menina? Tá doida? Olha que ele escuta... Esse cidadão é o Coronel Leite, ex-combatente, pracinha da FEB, herói da segunda guerra, ele não é ex-presidiário, é o diretor do presídio que se aposentou e veio visitar os parentes...

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HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 24/12/2012
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