FOBIA

Noite de verão quentíssima,família reunida após o jantar ( no meu tempo de criança ainda se jantava juntos),casa de interior, sem forro, fogão a lenha, todos sentados em volta da mesa da sala a conversar (não tínhamos sofá), mas eu com minha fobia não parava de vasculhar com o olhar todos os cantos onde ela pudesse estar. Tremia só de pensar o que faria se ela aparecesse. Ir ao banheiro à noite? Até parece que eu ia, era no fundo do quintal e lá havia um montão delas. Xixí só no penico e olhe lá. Saem todos da mesa, cada um buscando se ocupar com as suas necessidades, mas, eu fobiática (inventei essa palavra) continuo incomodada, meu coração bate rápido avisando que alguma coisa logo irá acontecer, parece que vai saltar do peito. É ela, sei que está apenas esperando o momento certo para assustar-me. Por alguns momentos esqueço meu desespero e ajudo minha mãe a lavar a louça. Meu pai como de costume, pega a sanfona coloca no peito e começamos o nosso sarau de todas as noites. Cantamos felizes as musicas do momento. Comentários e risos tudo normal. Canto vai, canto vem e eis que de repente não mais que de repente, dou um grito alucinante, pois, lá vem ela em minha direção em voo rasante parecendo um helicóptero, não... um avião da esquadria da fumaça em exibição no 7 de Setembro ( graças a Deus era só uma) mas, ela sozinha já era boa quantidade. Pretona, cascorenta, grandona, nojenta com aqueles olhões fixados em mim, parecia uma bruxa do Halloween. Escondi-me embaixo da mesa, mas ela me achou, correu atrás de mim, e eu em minha fobia corria feito louca alucinada pela casa. Mas, ela voava acompanhando o vento de minha corrida, eu gritava histéricamente pedindo socorro a meu pai, que largando a sanfona ao invés de acudir-me, ria a mais não poder. Vizinhos assustados chegaram pra saber o que estava acontecendo. Nessa altura eu já havia subido em cima da cadeira, do rabo do fogão, escondido atrás de minha irmã que com o susto deu-me um empurrão que caí sentada no chão. Pensem aí na próxima atração. Eu, com as pernas pra cima e ela no chão... e adivinhem... vindo em minha direção. Paralisei. Gritos ou melhor uivos saiam de minha garganta parecendo cantora de ópera desafinada. Todos riam e eu ali, parada, estática não acreditando que era comigo aquela situação. Ela vinha devagar... rebolativa... com aqueles olhos maquiados que aumentavam pra mim a cada passo que ela dava e eu sentada no chão já me imaginava engolida, massacrada, cortada em pedacinhos pela suas pernas de serrinhas. E quando a matadora se aproximou mais, eis que o chinelo de minha mãe a interceptou esmagando-a (mãe é mãe e não tem pra ninguém). Levantaram-me do chão, tava bege de medo, pernas bambas, quase não conseguia falar. Custoso mesmo foi dormir depois com medo de outro avião. Passei a noite com a cabeça coberta apesar do calor, suei até... FOBIA não é brinquedo não, toma conta da cabeça da gente vira um vulcão incandescente.

Coitada da baratinha, era tão bonitinha!!! Mas, até hoje: BARATA? Comigo mesmo não, violão...

silute

19/12/2012

silute
Enviado por silute em 19/12/2012
Reeditado em 24/12/2012
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