Criança na igreja

Quando era criança, tinha que me arrumar para ir na igreja, não gostava de me arrumar pra ir. Então minha mãe argumentava que eu tinha que me arrumar porque estávamos indo na casa de Deus. Ai eu me arrumava, porque sempre nos arrumávamos para ir na casa dos outros.

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Quando comecei na fase de fazer perguntas, estávamos numa cidadezinha do interior, minha mãe me levou numa igreja pequena, de madeira, simples, então eu perguntei:

- Quem é o dono daqui?

- Deus. – respondeu a minha mãe.

- Nossa. Eu achei que Deus era rico. – olhando em volta decepcionado.

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Meu sonho quando criança na igreja era comer a hóstia. Via filas se formando para pegar, o padre dava direto na boca - quase fazendo aviãozinho. E eu curioso para saber o que era, que gosto tinha, se era doce ou salgado. Então tive que fazer catequese pra poder comer. Quando chegou o grande dia, a primeira comunhão, a fila começou a se formar, eu ansioso, não tinha nem tomado café para aproveitar bem, quando ia para fila minha mãe sussurra: “não pode mastigar”, aquilo foi um soco na boca do estomago. Mas eu fui mesmo assim. Quando eu cheguei para pegar o padre falou:

- O corpo de Cristo.

Eu fechei a boca. Ele não entendeu. Repetiu mais uma vez:

- O corpo de Cristo.

Eu me aproximei dele e falei:

- Será que não teria outro sabor. Não tem de queijo?

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Sempre me impressionou como na igreja sempre tinha criança chorando ou gritando. Todas as igrejas. Ela sempre está lá. Talvez seja até a mesma. Todos as pessoas se incomodavam, como se elas tivessem chegado ali sozinho. E sempre tem também um adulto tossindo.

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Eu criança na igreja, via que chegava uma hora, que todos fechavam os olhos e ajoelhava-se naquele apoio, que era feito especificamente pra isso, mas que nós usávamos pra ficar mais alto. Então eles se ajoelhavam e ficavam em silencio. Fazendo algo que eu não sabia o que era. Eu curioso perguntei pra minha mãe, quando ela acabava de ajoelhar-se:

- O que você está fazendo?

- Conversando com Deus. – respondeu ela, sem nem abrir os olhos. Tentando retomar a conversa.

- Mas precisa fechar os olhos e ajoelhar?

- É melhor. Você está reverenciando ele.

- Mas e se a conversa for longa, não vai começar a doer o joelho.

- Não vai ser longa. Agora deixa a mamãe terminar.

- Por que o pai conversa com Ele sentado? O pai é mais chegado dele?

Nessa hora ela abriu um dos olhos.

- Não, seu pai não é mais chegado Dele. Seu pai está cochilando. Agora para de interromper porque a mamãe ta conversando. O que eu falei sobre isso? – fechou os olhos e voltou para o assunto dela com Deus.

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- Veio até aqui hoje, Carlos, é de livre espontânea vontade? – pergunta o padre.

- Éééééh...

- Carlos!

- O que?

- Eu to na igreja, não posso mentir na frente do padre.

- Mentir o que?

- Que eu vim de livre espontânea vontade. Ele ta vendo.

- Quer dizer que eu estou te obrigando a fazer algo?

- éééééh...

- Carlos!

- Vocês que não param de fazer perguntas. Da pra casar de uma vez padre.

- Não vai continuar nada. Agora quero saber você não veio de livre espontânea vontade?

- éééééh...

- Meus Deus!

O padre cochicha para o noivo.

- Amigo, tenho certeza que Ele não vai ligar se você mentir.

Afonso Padilha
Enviado por Afonso Padilha em 09/12/2012
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