PAPAGAIOS E ARARAS

Recantistas. Desculpem-me pelos palavrões, mas estes casos não podem ser contados sem os mesmos, ficariam sem autenticidade. Não são anedotas.

O Zeca, um papagaio danado, falador, gozador, resolveu bater asas. O que o fez tomar essa atitude é um mistério. Bem quisto, bem tratado, querido pelos seus donos. Talvez tenha recebido o famoso chamado da natureza.

Todos ficaram entristecidos, minha cunhada e minhas sobrinhas fizeram de tudo. Anunciaram na imprensa, procuraram por todas as árvores, rodaram por toda Peruíbe durante uma semana. Onde estaria o Zeca, teria sido comido por um predador, estaria numa gaiola de outrem ou teria ganhado a reserva florestal e voltado a ser silvestre? Quanta dúvida? E assim passaram alguns dias até que um dia a vizinha foi num velório e escutou um comentário que numa arvore próxima dali, tinha um papagaio que ficava assoviando o tempo todo, fiufiu, fiufiu. (Ele era só ver uma mulher de short que dava o famoso assovio). A vizinha se tocou que poderia ser o Zeca e avisou a Neusa que tinham localizado um papagaio em uma árvore. Minha cunhada foi para lá a toda. Em volta da árvore muita gente apreciava o papagaio. Minha cunhada olhou para o papagaio e disse com bastante ternura:

- Zeca, volte para a mamãe!

O Zeca alçou voo e pousou em seu ombro. Voltara para a família.

Muitos dias fora de casa, o Zeca precisava ir a um veterinário e foi o que a Neusa fez.

- Zeca, este é o doutor que vai te examinar e te cortar as asas.

O Zeca com aquele olhar de papagaio malandro, movendo a cabeça de um lado para outro, desconfiado, diz:

- Vaicu! (É assim mesmo o som do palavrão).

- O quê? Surpreso o veterinário, diz:

- Quanto a senhora quer por esse papagaio? Tenho trinta anos de profissão e nunca um bicho me xingou. Gamei esse papagaio.

- Zeca, toma modos, dizia a Neusa.

E o Zeca repetia e o veterinário ria. Ficaram amigos. Talvez seja um caso inédito: Gamar por alguém que lhe ofende várias vezes. Parece um causo, mas é pura verdade. Agora o Zeca está lá em Promissão - SP e se alguém duvidar e quiser ser xingado pode ir lá conferir. Ele imita o pássaro preto com o Juca (outro papagaio) e, juntos, formam o trio “Verde e preto”.

Um dia ele além de proferir esse palavrão para mim, ainda me chamou de um apelido preconceituoso. O Zeca não tem mais jeito.

Ponha jeito nisso. Outro dia meu irmão me contou mais uma da dupla. Vieram dois fiscais da Prefeitura, inspecionar a reforma da casa para o “habite-se”. O Leonel não se encontrava e a Neusa estava toda cheia de espuma dando banho na Kelly. Então ela autorizou os fiscais a examinar a reforma. Quando entraram na área de serviço, onde se encontram os papagaios, o Zeca, literalmente, abriu o bico:

- Vaicu, vaicu!

O Juca não deixou por menos. – fiputa, fiputa!

Zeca assoviou chamando a Kelly – Peguele, peguele, vaicu!

- Os senhores me desculpem pelos palavrões, disse a Neusa.

- Até que gostamos da recepção, disseram os fiscais, isso é um acontecimento inédito.

Outro caso na família. Tenho uma prima que mora nos fundos de um terreno. Bateram-lhe na porta. Ela não fez aquela clássica pergunta: - Quem é? Certa que fosse sua nora e para sua surpresa lá estava um homenzarrão que metia medo.

- Como o senhor entra aqui sem autorização?

- Não senhora, eu bati palmas e me disseram:

- Pode entrar.

Nisso a arara que não sei seu nome, repete: - Pode entrar.

- Por favor, desculpe, mas não quero nada, o senhor viu que não fui eu, foi ela, essa sem vergonha!!!

Um dia apareceram dois fiscais do Ibama para confiscar a arara. A vizinhança tinha dado queixa. Naquele momento minha prima estava passando café.

- Aquele que se atrever a pegar minha arara, vai ganhar água fervente, arrisque se tiver coragem.

Confiscar uma arara com uma “arara” ameaçando, os fiscais disseram:

- Vamos chamar a polícia.

- Vão chamar até a pqp, mas na minha arara ninguém mexe.

Os fiscais saíram. Minha prima aproveitou a ocasião e levou a arara para a igreja para custódia do padre.

- Padre aqui eles não vão amolar. Guarda a minha arara, por favor. Eu prometo vir buscá-la depois.

Quando a polícia chegou não encontrou a “arma do crime” e foi embora. A arara foi para a casa de um outro primo que mora num sítio lá pelas bandas de São Roque.

Nota: A Kelly é uma cachorra da raça pastor alemão capa preta. Seu nome é homenagem a uma parenta já falecida.

SANTO BRONZATO e LEONEL JOSÉ BRONZATO
Enviado por SANTO BRONZATO em 06/12/2012
Reeditado em 15/02/2015
Código do texto: T4022757
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