O Metereologista

Ali estava todo pomposo o novo contratado da prefeitura de Terra Preta, trajado com seu blazer de modelagem moderna e caimento perfeito, sua camisa informal, seu jeans azul e sua Mont Blanc no lugar do lenço.Caminhava sempre de cabeça erguida com um certo ar de ostentação moral, afinal, era ele digno de todos os aplausos por seus conhecimentos adquiridos entre livros e teorias. Terra Preta era conhecida por suas plantações a sumir de vista e uma das cidades com maior produtividade em Milho e Soja do Brasil e com renda per capta de fazer inveja a muitas cidades industrializadas. O novo contratado, segundo o prefeito, iria revolucionar o campo, pois tratava-se de um dos maiores meteorologistas do pais que iria contribuir com os agricultores, fornecendo informações valiosas da melhor época de plantio, adubação e colheita.

Obviamente, por ignorância, os homens do campo não conseguiam ver isso como algo extraordinário e, para eles, seria mais um desperdício de dinheiro publico, o que, obviamente, o prefeito não levava em consideração.

O Dr. Castro, como gostava de ser chamado, depois de atendido em todas as suas reivindicações, marcou para o sábado seguinte, às 8hs, colocar em publico o seu mapa de previsão de tempo, fornecendo informações de temperaturas, índices pluviométricos, umidades do ar etc. para os próximos dias e atualizaria diariamente essas informações de forma que todos tivessem condições de aproveitar o que o prefeito chamava de “milagre da tecnologia espacial”, visto que os dados eram obtidos diretamente dos satélites meteorológicos.

No sábado de manhã, fazia filas para entrar no salão nobre da assembléia legislativa para assistir então a primeira previsão de tempo, feito especialmente para a região de Terra Preta e aquilo era o ato mais importante dos últimos anos.

Depois de uma introdução de mais de 30 minutos pelo prefeito, foi apresentado o Dr.Castro, impecavelmente vestido, solicitou silêncio e começou a explicar os métodos utilizados para seus cálculos matemáticos para determinar o que aconteceria, em termos meteorológicos, nos próximos dias na região. Depois de meia hora de “baboseiras” começou a dizer o que o pessoal da platéia aguardava:

“Amanhã, por volta das 11 horas vai dar uma chuva fina que demorará não mais do que duas horas e o índice pluviométrico será de 2 ml, suficiente apenas para umedecer a terra até uma profundidade de 15 cm e ideal para o milho, mas não suficiente para a soja”.

Um dos camponeses, vestido com uma calça de brim bem desbotada, uma camisa xadrez vermelha e azul, botina que não dava para identificar a cor e um chapéu palha já todo amassado, disse num tom de voz que o Dr. Castro escutou:

- Isso até o meu porquinho torresmo sabe!

Viu-se uma risada irônica na face do Dr.Castro que continuou sua previsão:

Depois de amanhã, não haverá chuvas nessa região, porem, na terça feira, existe uma probabilidade de 40% de chuvas um pouco mais fortes.

- Mas isso o meu porquinho torresmo num concorda não!

Dr. Castro não suportou mais essa interrupção que chamou de blasfêmia e chamou o pobre do coitado para tomar o seu lugar.

O prefeito encabulado e com medo de perder o ilustre contratado, tentou amenizar a situação, mas o povo todo clamou para que permitisse que o Zé da Chuva, como era chamado o camponês que fazia previsão do tempo observando o comportamento de seus porcos, desse a sua previsão.

Dr. Castro sorriu e disse em bom português

- Se ele for capaz de me desmentir ou melhorar a minha previsão do tempo, eu engulo o meu diploma de uma das mais respeitadas universidades do Brasil.

Todos olharam para o Zé da Chuva pedindo para ele aceitar o desafio.

- Óia eu não sô dotor, mais sabê se vai chuvê amanhã , despois e inté despois e inda só oiando o meu porquinho Torresmo sou capais de dizer, sim sinhô.

Dr. Castro, vermelho de raiva e pelo desrespeito ao seu conhecimento científico então, em tom de ironia, disse:

- Pois então está bem, diga pra todos nós o que vai acontecer com o tempo amanhã e depois, e aí vamos comparar nossas previsões e ver quem está correto.

- Ta bem intão, se o dotor prefere assim, vou falar o que vai acontecê manhã e despois.

Manhã vai chovê sim, mais uma chuva passageira e deve contecer as 2 da tarde, mas dá pra moiá as plantações do mio e da soja, sim senhô.

Agora despois da manhã, a chuva vai sê muito forte, só que a noite e terça fera, chove não.

Todos olharam para o Dr. Castro, que com um sorriso estampado no rosto, desafiava:

- Pois se acontecer isso que você está nos dizendo eu engulo o meu diploma aqui na frente de todo mundo, mas se eu acertar, nós vamos assar o seu porquinho Torresmo na praça aqui em frente, concorda?

- Concordo sim sinhô.

Na segunda feira a noite, conforme previsão do Zé da Chuva caiu uma chuva torrencial e o Dr. Castro, mesmo com toda a dificuldade para dirigir com aquele aguaceiro, pegou seu carro de madrugada sem que alguém o visse e sumiu da cidade pra nunca mais terem noticias dele.