Antena

- Ta bom? – gritou ele lá de fora mexendo na antena.

- Não. – respondeu ela lá de dentro.

- E agora.

- Não.

- E agora.

- Também não. Vira para direita.

- Mas eu to virando para direita.

- Então vira para a esquerda.

- Ta bom.

- Não... A ê, a ê... Piorou. Volta um pouco.

- E a ê?

- Voltou de mais.

- Não adianta mexer, não vai melhorar.

- Adianta sim. Mexe. Já vai começar o programa. Vira para direita.

- Mas eu já girei para direita, para esquerda, trezentos e sessenta graus. Tudo.

- Para, para, para.

- Mas...

- Foi demais.

- Mas eu não fiz nada.

- Então faz de novo porque tinha melhorado.

Silencio.

- Volta um pouquinho.

- Eu vou entrar.

- Não.

- Ta frio aqui fora. Eu vou entrar.

- Não!

- Como assim não? Eu tenho que descansar amanhã eu pulo cedo.

- Se não deixar o canal limpinho não vai entrar.

- Não to entendendo.

- Enquanto eu não conseguir ver a cara do mocinho você não entra.

- Mas ta serenando.

- Então mexe ai.

- Mas eu já mexi.

- Mexe mais.

- Elaine.

- Ninguém mandou você ser mão de vaca e não colocar a TV a cabo.

- O sinal aqui é ruim.

- Garanto que pior do que ta agora não é.

- Mas Elaine...

- Mexe.

Silencio.

- Pra direita. Devagar. Devagar. A ê, A ê... Ficou ruim de novo.

Afonso Padilha
Enviado por Afonso Padilha em 21/11/2012
Código do texto: T3998027
Classificação de conteúdo: seguro