DE "QUARTOS RECÉM CAÍDOS"... LÁ NA CALÇADA...
Há um tipo de comportamento social que me intriga demais e aposto como o que aqui vou colocar também já impactou na cisma das pessoas que me lêem. Acredito que ninguém nesta vida está livre deles.
Vez ou outra, no nosso dia- a- dia, contactamos com pessoas com algum tipo de "otoridade outorgada" sei eu lá por quem.
São inúmeras otoridades hoje em dia! É otoridade para se colocar o país em pé!
Eu não sei se tais pessoas são propositalmente escolhidas para algumas funções estratégicas, ou seja, se são escaladas para " existir sem funcionar mas incomodar", todavia algo me diz que são sim...e são seres que usam e abusam da sua "otoridade" algo assustadoramente agigantada.
Observem, essas pessoas estão por toda parte, como por exemplo: no comando dum automóvel a ser manobrado, ou no trânsito, ou no comando dum elevador, ou da porta dum banco, na entrada duma repartição pública, numa chefia, numa portaria...e o mais incrível, eu já vi otoridades até no íntimo do nosso trajeto de vida, posto que às vezes as otoridades estão até na portaria do seu condomínio.
Nada contra, é até louvável, mas convenhamos, é meio desgastante, a despeito de toda a insegurança das cidades, que tenhamos que explicar e SEMPRE pedir licença para adentrarmos nossa própria porta.
Mas faz parte. Essa coisa de "otoridade' que faz o famoso cara crachá já é bem conhecida até na televisão.
Ocorre que comigo aconteceu algo tão surreal, que resolvi escrever..
Recém saída do trabalho, depois de doze horas "em pé!", já com fome, estava eu a esperar minha carona de volta para casa, numa calçada aonde sobe o muro duma instituição pública.
Lá pelas tantas, como a carona estava um pouco atrasada, me distraí das minhas energias e dei uma leve encostadinha na parede do muro para me recompor do cansaço extremo. foi bem de leve, eu juro!
De repente senti uma "otoridade" me fazer dois toquinhos no meu ombro direito: "Ô moça, ói dona... ói dona, vixi, desarreia daqui!! Ocê não pode encostar nesse muro! é proibido "arrear os quartos" aqui... é proibido, e eu cumpro a ordem do chefe, ô dona!".
Não acreditei! Uma "otoridade", um homenzinho todo uniformizado, com pinta de cumpridora de ordens, em pleno século vinte e um, Sampa Brasil...e que manda até no espaço público da rua!".
Que organização! Assim vamos salvar até a Europa da crise, mesmo!
Gostei de ver aquela "otoridade" crível, sumpimba para os dias de hoje!
Achei tão louvável sua certeza autoritária de zelar pelo patrimônio público...que nem refutei meu direito de cair morta ali na calçada!
Eu hein, quem hoje em dia em sã consciência arruma encrenca com uma "otoridade" masculina daquela, ainda que seja para fazer valer seu direito?
Imediatamente lhe pedi desculpas, rearranjei meus "quartos" caídos em supina prontidão como os dele, e depois de pegar minha carona deduzi que quando eu crescer quero ser "otoridade" a qualquer preço...
Dessas que tudo podem sem nos permitir sequer uma mínima chance de defesa.
Dias desses, na entrada do trabalho, reencontrei com a mesma "otoridade", que me já conhece há muitos anos.
"Ô dona, quem ocê é, aonde a senhora vai?"
Bem, até então eu juro que acreditava que ele já me conhecia...
"Seu crachá ô dona, a senhora é nova aqui, é?"
Achei prudente não responder. Vai que eu infringisse a "otoridade" dele...
Então silenciei.
Mostrei-lhe respeitosamente o meu crachá, que ele conferiu minuciosamente por bons segundos, a quase lhe explicar que eu era aquela dona- se lembra?- dos quartos recém caídos lá na calçada, todavia, respirei fundo e lhe garanti: " hoje o senhor fique tranquilo que logo- logo vou arrear meus quartos sim, mas será em outra freguesia...".
Nota: claro que é verídico, alguém duvidaria que sim? Nunca duvide duma otoridade...