1- Sobre o texto “O apostador corajoso no cemitério”, alguns comentários pediram uma continuação explicando o que aconteceu com o celular.
 
Lamento informar que não existe continuação, que a compreensão do texto era muito tranqüila, que não havia dificuldade alguma em “matar a charada”.
 
Apesar disso, os insistentes pedidos de continuação não podem ficar desprezados.
Resolvi, então, através de um novo texto, imaginar algumas continuações possíveis, elucidando a situação.
 
No final eu apresentarei a única solução que o primeiro texto sugere.
 
Encerramos o texto com Daniel pensativo sobre o desaparecimento do celular.
Quem não conhece o fato, pode clicar no link e conferir.

http://www.recantodasletras.com.br/humor/3971333
 
2- O celular parece ter evaporado misteriosamente.
 
A primeira hipótese que imaginei tem a ver com o sobrenatural.
A presença de Daniel no cemitério, objetivando realizar uma aposta tão imbecil, teria aborrecido os mortos.
Dessa forma, quatro “defuntos”, abandonando suas sepulturas, resolveram oferecer uma lição ao rapaz.
 
Eles teriam subtraído o celular do rapaz para dar um belo susto no babaca.
 
Contam que, caso isso tenha ocorrido, os mortos ficaram interessados no aparelho e decidiram realizar uma ligação.
Houve uma natural indagação:
Ligar para quem?
 
3- Antes de saber a decisão deles, vale a pena explicar quem são os quatro mortos os quais furtaram o celular de Daniel.
 
Um deles era um rapaz com cerca de vinte anos, um boêmio, grande farrista o qual conheceu Castro Alves, que morreu vítima de tuberculose.
O segundo defunto-vivo era um velho ladrão que morreu após tentar efetuar um assalto frustrado. Ele recebeu dois tiros e não resistiu.
O terceiro “morto” era uma mulher, com seus oitenta anos, que morreu dormindo. Uma vovó muito querida durante o século passado.
O quarto e último morto que participava da aventura era um empresário o qual morreu após sua mulher lhe abandonar fugindo com um amigo. Ele foi vítima da famosa “dor de corno”.
 
Esses eram os camaradas do além que resolveram roubar o celular de Daniel.
Agora eles discutiam para quem ligar.
 
4- A velha certamente não encontraria mais ninguém vivo. Os seus companheiros já tinham viajado há muito tempo.
Percebendo isso, ela logo desistiu da idéia de fazer a ligação.
O corno pensou em dar um susto na ex, mas notou que não valia a pena perder tempo com a safada.
O boêmio verificou que todos os farristas da sua época só poderiam ser encontrados nos cemitérios.
Restou o ladrão, morto recentemente, porém não possuía nenhum amigo e demonstrou desinteresse pelo assunto.
 
Imaginaram, então, passar um trote, contudo, admitindo que essa hipótese não está te convencendo, amigo leitor ou querida leitora, vamos explorar uma segunda explicação.
 
Não dá para permanecer defendendo essa hipótese sobrenatural, pois, nos tempos atuais, o papel de ladrões é perfeitamente desempenhado pelos larápios vivos.
 
5- Alguém, num comentário, insinuou que o coveiro estaria por trás dessa confusão.
 
O coveiro foi contratado pelos amigos de Daniel para assustar o rapaz.
Os fortes assobios, o gatinho que surgiu tão repentinamente, os barulhos aumentando a covardia de Daniel, tudo isso seria arte do coveiro.
 
Os amigos sabiam que Daniel terminaria deixando cair o celular.
Depois que ele corresse, o coveiro pegaria o celular e mais tarde devolveria à turma.
Daí talvez eles fizessem o celular surgir no meio das coisas de Daniel, aumentando  o grande pavor que dominou o apostador medroso.
 
6- Essa seria  uma hipótese mais aceitável do que a anterior, entretanto nada garantiria o êxito da brincadeira.
Não era possível prever, por exemplo, uma tempestade exatamente na hora da aposta.
 
Além disso, que trabalhador seria esse que ficaria tomando conta de um cemitério abandonado, tão tarde, no meio de um vendaval?
É possível haver um coveiro conservando o local durante o dia, porém, com tamanha assiduidade e dedicação, acho meio improvável.
 
Dessa forma, é necessário descartar também essa alternativa.
 
7- A terceira alternativa ressalta a participação do narrador.
 
Todos vocês sabem que eu não uso celular e abomino celular, portanto o narrador dessa história, absorvendo algo da minha repulsa, fez a subtração do aparelho sem se preocupar em justificar o ato.
De repente ele simplesmente eliminou o objeto do conto.
Foi uma atitude involuntária e inconsciente.
 
Nesse caso, o grande culpado seria eu, pois eu sou o responsável pela existência do narrador.
Ele apenas quis me agradar.
 
8- Queridos leitores, claro que há a explicação muito natural.
 
Alguns comentários perceberam a solução sugerida pelo texto.
 
Não foram os mortos!
Também não foi uma brincadeira dos amigos de Daniel contando com o auxílio do coveiro (que coveiro?)!
Também não foi o narrador apesar dele saber que eu detesto celular.
 
O medo exagerado do rapaz fez o panaca não perceber que o aparelho caiu.
A chuva intensa, a forte inquietação dele e o excesso de covardia explicam fácil a queda.
 
9- Percebam que, quando ele busca o celular nos bolsos, o texto não cita o rapaz conferindo a área.
Ele não observa o chão nem verifica parte alguma do local.
Apenas ficou assustado demais com a tempestade, voltou a ouvir o que imaginou ser um estranho assobio e saiu correndo desesperado.

Não dá para confiar na atenção de uma pessoa bastante frouxa.
 
10- Eu acredito que essa explicação é a mais coerente e provável.
 
Não é possível ter a certeza plena, pois eu não estava lá, evito cemitérios e posso garantir que não conheço o tal coveiro caso realmente exista algum trabalhador responsável pelo cemitério isolado e totalmente esquecido da cidade a qual nem sequer foi mencionada no texto anterior.
 
Eis as linhas que dedico a quem pediu uma continuação.
 
Espero que os meus esclarecimentos tenham agradado!
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 10/11/2012
Reeditado em 10/11/2012
Código do texto: T3978267
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