HOMEM E PORCARIA - LIXO

O homem é um bicho estranho. O meu porco quando vai fazer coco escolhe um cantinho no chiqueiro e reserva-o sempre para tal necessidade fisiológica. O porco, assim, constrói seu banheiro e lixeira.

Para o homem é menos trabalhoso, haja vista que inventou o banheiro, embora muitas vezes jogue sua merda, acondicionada em saquinhos de plástico, por sobre os fios de energia elétrica ou nos quintais dos vizinhos. Quanto ao lixo, há sempre o outro lado da rua para se jogar, depois é só virar o rosto, dar as costas e fingir que o lixo não existe mais. Fácil e prática essa ação, como amassar o copinho descartável e jogar no chão; fácil como grudar o chiclete embaixo da cadeira ou mesmo marcar seu caminho de volta pra casa com tudo que de porco possa existir.

Nada muito preocupante, afinal, os garis e os carros de lixo passarão e levarão para longe de nossas vistas nossa porção PORCO. Talvez, se fôssemos porcos, teríamos um chiqueiro para depositar nossos dejetos, mas, como homens, nossa educação não permite proceder com esse tipo de atitude.

Há sempre o outro lado da rua para se jogar o lixo da casa. Isso nos remete a uma reflexão: Quem mora do outro lado da rua joga sua merda e seu lixo aonde? E não se esqueça que, se não mora ninguém do outro lado da rua, é porque mora lá exatamente a natureza; coisa boba, que se encontra em qualquer lugar... menos na lata de lixo, no monturo do fundo do nosso quintal ou do outro lado da rua, tampouco no invisível, ou quase invisível Lixão. Já não daria para sentir o nosso cheiro de porco, ou o da nossa própria feze? Já não daria para ver antigos, imundos, eternos sacos de papel compondo um grotesco cenário de uma árvore de Natal chamada natureza?

Minha vizinha gorda, não por isso, mas por ser porca, entupiu o canal, os esgotos da casa com macarrão e modess, encheu o fundo do quintal com os saquinhos do programa do leite, brigou com a dona da casa no meio da rua, não pagou o último mês de aluguel e sumiu sem deixar vestígios, a não ser do seu lixo – uma lembrança fúnebre.

Eu achei legal, juro! Já pensou se todos fizessem como a minha vizinha gorda? A gente usava e abusava da terra, não pagava o aluguel e se mudaria! Desde que eu assisti a Guerra nas Estrelas sonho em morar na Lua!

Para o meu porco vou deixar a minha fossa, os sacos para colocar lixo. Quiçá um dia ele aprenda a usar. Boa sorte porcalhada! Quando criou o homem, acho que Deus inverteu os nomes: o homem deveria ser o porco e vice-versa.

Gilnei Neves Nepomuceno

Morada Nova-CE, 19 de dezembro de 2005.

Gilnei Poeta
Enviado por Gilnei Poeta em 01/03/2007
Reeditado em 01/03/2007
Código do texto: T397625
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