GREVE

Greve!

Amanhã, greve geral. Está decretado. Tomaremos banho? Iremos ao banheiro? Ou, greve? Greve é greve, ou não? Se formos aqui e ali, a Teresópolis ou a Nilópolis, então não é greve, nem geral.

O funga-funga dela está piorando, será que vai fazer greve amanhã também? Amanhã haverá greve de amor?

Greve é greve, sem telefone, viu menina! Sem beijinhos, também!

E tome funga-funga, agora com bocejos, bocejos de sono, de enfado, trabalho tedioso, é esta previsão de desembolsos correntes. O relógio, quatro e meia, ainda. Ah! O telefone! Aproveita hoje, fungando e fungando mesmo, porque amanhã é greve. Nada de telefone. Amanhã os filhos farão greve também? Deixarão de ser filhos por um ou dois dias. Filhos em greve, mães aderem. Pais que se cuidem!

Eu escrevendo e ela com sono. Haverá greve de sono? Esta greve é boa pedida para as pessoas iniciarem vida própria. Alguém vai conseguir. Lá vem o café da neguinha. "Minha esperança é você" diz o pai. "E a greve?" - responde o filho.

Eu dou a maior força, ela diz pegando o telefone de novo. Mas só hoje, só hoje. Amanhã ela vai dar a maior força, mas sem telefone. Silêncio; funga-funga. Eu aqui trabalhando sério e ela envergonhada. Não tem vida própria. Só imprópria.

Ontem ela foi de bicicleta e de boné conversar com um bando de mulheres tediosas e voltou para casa feliz com boné e tudo. Como é o nome do bar? - A outra pergunta. Mas amanhã é greve, nada de bar. Que tal tentar vida própria amanhã, com ou sem funga-funga?

Ela afirmou que, se parar o ônibus, não vem, não vem mesmo, diz que é um bom pretexto. Pretexto para quê?Amanhã isso também não pode! E greve geral, geral. Ela só acredita num negócio grande, mas que cabeça! Amanhã é greve, menina, é greve!

(Abril/1989)