Festa a fantasia

A festa a fantasia é a única festa onde você vai encontrar o super homem vomitando. O Batman ficando com o Robin. E no outro dia pode contar para os seus amigos que ficou com a Chita.

- Amigão, muito boa sua fantasia. Pra mim é a melhor daqui, você ta muito igual a um garçom.

- Mas eu sou o garçom.

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- Do que você vai fantasiado.

- De nada.

- Como assim ‘de nada’, não existe nada mais chato do que gente que vai a festa a fantasia sem fantasia.

- Não existe nada mais chato do que festa a fantasia.

- Ai Mello. Que chato. Pega a farda do seu irmão e vai de soldado.

- Eu não gosto de festa a fantasia.

- Já sei, vai sozinha, se alguém perguntar fala que eu to fantasiado de homem invisível. Vai ficar perfeito.

- Você que sabe, ou você vai, ou fica em casa fantasiado de corno.

Silencio.

- Passa a farda pra mim.

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Na fila para pegar bebida. Ele está cabisbaixo e meio deslocado. A Enfermeira da um sorriso para ele, que assente com a cabeça.

Silencio.

- Do que você está fantasiado?

- Eu não estou usando fantasia.

- Ué porque.

- Eu não sabia que era a fantasia.

- Sério?

- Sim.

- Podia ser pior.

- Podia?

- Sim, podia não ser a fantasia e você estar fantasiado.

- É...

Silencio.

- Você pode improvisar.

- Improvisar?

- É, você pode arrumar uma maleta e dizer que está fantasiado de advogado.

- Ou rasgar minha roupa e falar que estou de mendigo.

- Mas já tem três vestido de mendigo. – aponta para os mendigos.

- Nossa aquele ta bem igual a um mendigo. – aponta para um que está guardando coxinha no bolso.

- Ou posso tirar a roupa e dizer que está de nudista.

- Oi?

- Nada.

Silencio.

- Já sei, eu podia ficar sempre junto contigo.

- Comigo?

- É, assim quando alguém perguntasse do que eu estou fantasiado, poderia dizer que estou fantasiado de paciente.

Ela olha para ele da um sorriso.

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Ele chega fantasiado de tartaruga, dessa vez não economizou dinheiro, estava disposto a levar o prêmio de melhor fantasia para casa. Era tão realista que o casco pesava 100 kilos. Ele estranhou por não ter encontrado nenhuma policial, ou batman o super homem, mas não ligava, estava excitado com o fato de que todos iriam rasgar elogios. Então ele tocou a campainha e se escondeu dentro do casco pra fazer uma surpresa para o anfitrião.

O dono da festa abriu a porta e deu um pulo de susto ao ver aquele casco estacionado na entrada. Ele tirou cabeça lentamente fazendo sua imitação de tartaruga. O amigo ficou olhando sem entender.

- E aí, o que achou?

O amigo ficou em silencio.

- Ué, do que você está fantasiado? Pera aí, não fala, de executivo.

O anfitrião balança a cabeça, sem reação.

- Vamos entrar, esse casco está me matando.

Empurrou a porta e viu os homens vestindo terno, umas mulheres de vestido.

- Ué, o que aconteceu, todo mundo se fantasiou igual?

- É, esse ano tem tudo pra eu levar mesmo.

Todo mundo estava olhando para ele, então ele fez mais uma vez sua imitação de tartaruga.

- Cara.

- Oi? – perguntou, fazendo voz de tartaruga.

- Você não recebeu minha mensagem?

- Mensagem? – ainda como tartaruga.

- É, avisando que a festa tinha sido cancelada porque meu avó morreu.

A cara de tartaruga se desfez na hora.

Ele se enfiou dentro do casco e só saiu quando todos tinham ido embora.

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Durante a festa, ele que tinha resolvido ir de ultima hora, improvisou, fez três buracos num lençol e foi de fantasma. Já ela, como toda mulher, escolheu a fantasia com muita antecedência, cuidou de cada detalhe, parecia ter saído direto de um filme de ninja, para a festa. Eles se trombaram na fila do banheiro, porque ele tinha calculado mal onde fazer os buracos, então toda hora o lençol descia fazendo-o trombar com alguém. Os dois se levantaram, ele ajeitou os buracos na altura dos olhos, ela juntou a espada.

- Esses buracos são um problema.

Sorriu. Um sorriso que não podia ser visto porque estava coberto pelo lençol.

- Fantasma. – estendeu a mão.

- Não do tipo transparente. – riu.

Deram risadas. Conversaram. Beberam. Dançaram.

Então quando a festa já estava no fim, o super homem estava desmaiado no sofá. A mulher gato estava se atracando com o coringa. O Tarzan estava perguntando pela chita. Chegará a hora de se despedir.

- Acho que já deu minha hora.

- A minha também. Já estou vendo a luz.

- É, o sol.

Riram.

- Me passa seu telefone.

- Não.

- oi?

- Acho que é melhor não. Isso foi muito legal. Queria deixar para o destino. Se nos encontrarmos depois disso é porque tinha que ser.

Ele não entendeu, não acreditava nisso. Mas antes que pudesse falar alguma coisa, a rainha de copas e a bruxa já estavam pegando ela pelo braço.

Um ano depois, a festa do ano anterior tinha sido tão boa que o dono resolvera manter a esquema de a fantasia. Ele como de costume deixara para a ultima hora e como ainda tinha guardado o lençol do ano anterior, que as vezes até usava pra forrar a cama, foi novamente de fantasma, não ligava, não queria concorrer a premio de melhor fantasia mesmo.

Chegou na festa já procurando a sua ninja. Nada dela. Com certeza não estaria lá. Um ano se passara, impossível que ela tivesse continuado sozinha.

Quando ele foi pegar bebida, os buracos dos olhos desceram para a boca, quando virou, trombou com alguém que derrubou um copo, levantou pedindo desculpa, arrumou os buraco nos olhos, quando voltou a ver era a ninja.

- Você.

- Porra, presta a atenção.

Não era a sua ninja. Pediu desculpa novamente e saiu. Estava parado esperando para usar o banheiro, atrás da chapeuzinho vermelho, do drácula e um absorvente. Um fantasma parou atrás dele.

- Bú.

Ele virou para trás, sorriu e virou para frente de novo. Não estava feliz de estar ali.

- Bú. – repetiu.

Ele virou novamente. Então reconheceu aqueles olhos. Era a sua ninja.

- Esses buracos são um problema.

Afonso Padilha
Enviado por Afonso Padilha em 01/11/2012
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