Pra quem acha que drama é apenas coisa de mulher está perdendo o melhor da vida. Dramatizar a situação é o encontro da arte e do desespero. Essa mistura pode dar o tom meio Maria do Bairro na circunstância.

Isso me faz voltar no tempo, mais exatamente num momento trágico da minha vida. Com todos os dotes culinários possíveis e imagináveis estava eu lá na cozinha tentando fritar umas massinhas de pão. Tudo corria tranquilamente, tirando a bagunça das louças espalhadas e farinha de trigo até no teto. Num determinado momento meu dedo afundou naquela panela com óleo fervendo. Deu para ouvir um barulho mais ou menos assim:” Tiiixxxxxcccchhhhhh...”.

Como uma boa dramatizadora meu primeiro pensamento foi: Será que vai ter que amputar? Minha vó tentava me acalmar fazendo com que eu colocasse o dedo num copo com limão, mas a dor não passava. Achei que correr na rua gritando aliviaria minha dor, mas sem resultados. Só consegui uns olhares curiosos em minha direção. Eles riam e zombavam da minha desgraça. Resolvi depois de quase quarenta minutos voltar para dentro de casa já que os vizinhos eram incapazes de um gesto de humanidade.

De repente, comecei a pular igual àquelas crianças que vocês veem nos mercados fazendo birra quando não ganham o doce que pediram. Saltitar pela casa parecia uma boa ideia naquele momento. Sem a mínima noção do ridículo, pois o desespero havia invadido cada parte do meu corpo que ardia em chamas.

Os pequenos e grandes ridículos também acabam dando sentido a nossa existência. O drama, o desespero, os erros que cometemos quando na verdade quisemos muito acertar.

A vida é assim meio bagunçada e descoordenada. É impossível entende-la. Impossível lhe ser fiel.

Quem sabe um dia eu consiga mudar isso ou não, mas não importa mais porque tenho aprendido a me amar e conviver com as minhas características. Até com os dramas.

Quanto ao meu dedo...Ele não foi amputado.
 
 
Ana Liszt
Enviado por Ana Liszt em 26/10/2012
Reeditado em 26/10/2012
Código do texto: T3952709
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