PERNILONGO FÉDAZUNHA

Visitá casa de sogra já num é bão, pa-passar a noite antão munto pior; in-damais si -ocê for ofindido, aí danô tudo - ter que tulerar provocação e sigurar o nervusismo pra agradá muié... já vi quié pra -pôcos.

A vontade qui mi-deu foi de distroncar o piscocin dêis-tudo.

Eu tinha ficado munto satisfeito se em meio aquele fragelo tentano te arcançar com um tapa na venta, conforme arcancei, e quebrado suas duas pernas, conforme quebrei, e ainda dispois disso, ter pisado no seu istâmo com tanta força inté te istribuchar tudo - num tivesse aparicido mais cumpanhêro seu pá -atazanar minhas -idéia.

Era raiva memo, munta raiva que me veio com’aquéas fisgadas fina no lombo, e o pior, ter que agüentar a zuerada nu pé das orêia calado, isso num deu.

O pobrema maior quieu pirdi o sono e tive qui ficar ali assuntano de butuca, assistino o rivuar de amiaça... Só iscuitava o baruí do relógio e do motorzin do bando disinquietado;

Eu oiava pr’ês com munta raiva e condo eu garrava uma oiada mais firme, paricia pela filosufia da cara dêis, que a minha raiva era inda mais piquena - um sembrante rupiado, cum chifrin da pestanha uriçado, com jeito de vingança e de disforra... Coisa ruim mémo.

Condo eu tava de zói bem regalado, aceso, aí eles quietava - eu fechava o zói pá –tentá pegá no sono aí anarquia cumeçava dinovo; Eu tapava a cabeça e iscundia pur -dibaxo do cobertore mais o calore muntava, ieu safocava; Eu abria uma greta correno pá -rispirá e tomá um fôrgo aí o danado inha chegano de vagarin cum motorzin fancionano, inté aterrizar na bêra; na hora quieu cumeçava passá pr’uma madorna ele me ofindia a pá -da -testa e já me amolava travêiz;

Aí o sangue isquentava qui chegava inté taiá... ieu levantava, dava de mão numa precata pá -jogá nele, mais numa dava tempo; inconto eu pegava a chinela ele sumia e iscondia tradaporta, purriba no girarzin, badacama... ieu ficava doidimais.

O disgramado tinha um ferrão afiado iguale um punhale, - cobertore suzin numa dava conta de cercar a firruada dele não;

Teve um qui mim tacô o prego com tanta força numei da tramela do dedo de apontá pru-zôtro qui o dedo ficô uns treis dia sem drobá e dueno - com um caroço saliente, vermêi e inchado.

Com’êle me istrapaiô drumir, eu garrêi e fiquei iscorado nu cutuvelo oiano êis de longe, cum zói ruim... qüisso o sono tamém vaporô.

Foi neste momento quieu achei quiotava sonhano acordado.

Rapaiz!!!

Na calada da noite eu vi qüêsses meus dois zói o ataque mais cruel e sangrento destes pistiado. - Êis -feiz inguále paraquedista du exercito - muntô um na cacunda du -ôtro e vêi -vino vuano de dois in -dois e sartano pru -riba de nóis, sem dó nem piedade.

– Ah, mais aí num teve jeito; o tapa cumeu sorto tamém - chinelada inté no vento. Daí in-diante disistí de drumí tamém... na verdade o sono num vêi mais, antão sentei na berada da cama e isperei o dia butucar.

Mais tarde, na roda de prosa, contano pr’um amigo a situação, ele garrô e falô cumigo ansim: Áh, Mandruvachá prumodiquê cê num compra uma ridinha pá –forrá pru riba da cama condo ocêis tivé drumino?

- Du jeito quiocê -ta contano é sujeito ocêis ficá sem os minino - pensa dereitin bobo - cunversa ca -muié.

- O povo já tão vendeno pur aí, aprivine e compra uma, sô!

És -é do tipe uma tarrafinha de pescá lambarizin miúdo, e cerca divera.

Eu acabei pegano nu consêio dêsse moço e adquirí este ricurso. Oncovô nóis leva ela .

Nu cumeço tava mió pruquê êis lá vai furano ele dileve.

Um dia tô alí bubiano no quarto ispiano pra vê u-qui qui os pernalonga inha arrumá... e os miserárve foi vino dileve, daí a pôco tava tudo quaiado, trupicano no are, a ridinha ficô pintadinha, inté pesada... e eis lá, tentano um ricurso quarqué pra pulá pá-bandi-dentro.

Condo um dos minino mixia e incostava os canzile na beradinha da ridinha cumeçava a pirssiguição... Era tanta mardade quieis juntava inté no pescoção pinicano uns -zão -zotro pá vê quem inha firruá o tunuzelo do mininu prêmero;

Discia uns cinco d’uma -veiz na disputa pa -atacar o coitadin... e apareceu um mais agraduado numei da tuirma, com jeito de mandá mais, e assumiu a frente... O ferrão dele tava amoladim qui passô a cerrá a fibra dessa ridinha e compôco o buraco tava pronto, e êis atravessano, um atrais do ôtro pra ixecução.

Se num socorrê de galope morre mémo.

Nesse dia eu juntei as bursinha e falei ca muié, ansim: Só vorto aqui pá –ficá inté a buquinha da noite... Pá virá, dum dia pr’otro, nem nu –bico du revorve!

Um companhêro mim -contô certa veiz qui acordô dinoite e notô qui o mais novo dele tava munto branco, pálido pa-danar, e viu que um baita dum pernalonga tava muntado inrriba ca-carroceria inté agachada sugano o sangue do infiliz, aí ele mais qui- dipressa num pensô duas veiz, juntô o bichin cas -duas mão e ispremeu a trasêra dele cum força pru sangue vortar pru corpin du minino - a valença quê-tava pu -diperto e a bundinha do pernalonga num istorô, sinão êi tinha pirdido o mininin.

O povo cunversa munto e omenta, mais diz qui-lá pru-di-perto, já tem gente criano pernalonga na gaiola... pru certo vão vendê o casalin.

De cá, donde ôtava, eu iscuitava a sogra drumino quié-uma beleza, roncano arto... inté cheguei pensá qui aquilo fosse armação dela, uma tramóia quarqué pra mim -disinquietá, mai -num falei nada ca -muié não, pa –num aburrecê.

- Duro num é a sogra e sim o danisco do pernalonga! - Ôooh fédazunha!!!

Mandruvachá
Enviado por Mandruvachá em 25/10/2012
Reeditado em 24/09/2015
Código do texto: T3951925
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