A NOIVA DO MARIDO
O presente título desta minha crônica de humor JÁ SUGERE A VELHA HISTÓRIA porque decerto não resume um fato inédito, trata-se de algo até já bem conhecido, porém não é plágio meu e sim da vida, e como me foi algo relatado com imenso, curioso e alegre desprendimento que muito me tocou os sentidos, então resolvi aqui descrevê-lo.
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A protagonista é uma moça simples, do interior, já beirando os cinquenta anos, bastante estudada, bem bonita, algo pudica e ingênua, uma profissional de ponta, e que diante de tantos talentos...ainda sonha em se casar.
Lá nos primórdios da juventude ela caíra no conto dum bem jovem noivo que a engravidou e sumiu, mas lhe deixou o seu presente maior, hoje um bom filho adolescente, que embora seja a razão da sua vida, não foi suficiente para que ela não sonhasse em ainda se casar.
Justo, eu acho mais que justo!
Afinal, existem situações que só a conhecemos a fundo ...vivendo!- e o casamento é uma delas. E não adianta a gente tentar explicar!
Eu não sou contra ele, mas confesso, sou algo reticentemente a favor.
Ela não, imperiosamente casadoira, arrumou um namorado que por decreto do sonho dela... virou seu noivo.
" Ele faz até supermercado para mim!" exclamava entusiasmada.
E eu certa vez fui apresentada a ele com a promessa de ser madrinha do futuro casório. "Agora vai!" me disse ela certa vez numa aura de felicidade.
Bem, é uma baita duma responsabilidade essa de ser madrinha, hoje eu bem sei. Sei também que tem madrinhas e padrinhos que até hoje correm de medo dos seus apadrinhados. Faz parte...é do casamento.
Porém, desta vez, e vez por todas, ela parecia ter dedo bom na nova investida das já inúmeras tentativas em vão, "vê se agora cê acerta, hein mãe!" lhe dizia o filho casamenteiro...e ela me repetia o fato no seu relatório, me falando do atual noivado já de quatro anos.
De fato, aquele noivo prometia ser um sucesso de marido.
Homem sério de chamar a atenção: bonito, algo simplório até, jovem, porte atlético, educado, gentil, generoso, trabalhador, até presente...não muito, talvez porque fosse quieto demais-tímido, quem sabe?- daquelas pessoas que não olham nos olhos do outro.
Aprendi que pessoas que não olham nos nossos olhos...
Mas deixei para lá, observações desse tipo não servem para nada! Ou servem? Talvez servisse. Foi o que deduzi quando me relatou o ocorrido.
" E aí , cadê o noivo?" eu lhe perguntei.
E ela, ao invés de chorar de ódio, caiu na gargalhada estridente, e chorando de rir me relatava:
"Sabe, eu sempre cobrava dele o casamento certinho porque eu sou religiosa e não podia cair em pecado" -contava ela- " e ele me dizia - "carma fia, carma que eu caso logo, fia!" e prosseguia no fato de que já o havia apresentado para a família e para o filho adolescente que parecia meio desconfiado daquele noivo para lá de perfeito.
"sei não mãe, sei não..."
E me contava...
"Então, olha só, no último Natal, ele estava atrasado quando liguei para o celular dele e uma mulher atendeu: alô, posso falar com o Fred?" .
E eu já deduzindo do ocorrido fiquei ali curiosamente a ouvindo.
" Com o Fred? a voz perguntou. " É!-quero falar com o Fred, ele já está bem atrasado para a ceia, será que ele já está pronto?".
E a voz feminina do outro lado, plácida e compreensiva retrucou "Sim ele está pronto sim, só que é para a ceia daqui de casa, vai chegar aí meio atrasado, e você quem é , seria a nova noiva do meu marido?".
Silêncio...pesado.
'Mas...mas...ele é casado?" perguntou sem chão.
"É sim e faz tempo!- e é super bem casado, eu acho, mas eu gostaria de TAMBÉM conhecer você...".
E assim mais uma história feliz caiu por terra, sem noivo, sem noiva, sem padrinhos, sem casório e sem docinhos.
E ela, rindo (segundo ela depois de chorar baldes de lágrimas!) ainda me contava:
"O pior é que ainda tive que ouvir a bronca do meu filho: tá vendo só mãe, isso é para você aprender...pra deixar de ser tontona!".
Faz quase um ano, e nunca mais o viu...até já esqueceu.
O mais incrível: percebi que ela nutre uma certa admiração super especial pela tão gentil esposa do seu noivo.
Dele...nem raiva, nem saudade.
" Sabe, ela pareceu ser gente boa..." me disse meio desolada.
A gente nunca vê tudo...principalmente quando o assunto é modernidade...em família.
Fato verdadeiro, o nome Fred é fictício.