HAPPY HOUR, HAPPY SONHO INAUGURAL!
Fim de tarde e eu a conhecia ali, sentada à uma mesinha para aliviar suas dores de coluna, num desses pontos de cafés aonde as pessoas se reúnem para uma happy hour, ainda que seja consigo mesmas.
Então, enquanto eu pedia por um café , ela me convidou para me sentar junto a ela e ali travamos um bate papo envolvente, aonde vários assuntos tiveram destaque especial, inclusive filhos e netos.
Mas ela, um senhorinha de oitenta e dois anos, muito bem disposta e incrivelmente "antenada" para os assuntos da atualidade, nitidamente me demonstrou seu espanto com a tal da notícia que explodiu por aí nesses últimos dias da mídia , a da tal "venda da virgindade" anunciada por uma garota na Internet.
"Os tempos me assustam" me disse ela a respeito do tema.
Discorri sobre o susto que eu também levei com a notícia da hora, embora confesse, já é meio difícil me assustar hoje em dia, e eu parti da premissa de que, afinal, toda atividade comercial demanda pela conhecida lei da oferta e da procura, e eu nunca ouvi dizer da situação do tal "mercado".
A oferta é pouca todavia a procura poderá desbancar a tal lei. Ou será que não?
É fato que virgindade no século vinte e um se tornou algo bem inusitado, como qualquer peça de museu, mesmo entre as garotas mais "comportadas", todavia, não saberia eu aqui dizer sobre a balança comercial que rege tal "mercantilismo" tão estapafúrdio sobre o possível interesse masculino a pagar pelo artigo de raríssimo luxo, paradoxalmente hoje tão desvalorizado.
"No meu tempo isso tinha outro sentido"-me desabafou a senhorinha, com seus olhos bem arregalados...
E eu pensei comigo:obviamente que sonho de consumo nem se discute, principalmente nos tão "sexualizados" dias de hoje...
Por outro lado, deduzia-me ela, com a tão farta oferta da não virgindade, assim tão amplamente divulgada e anunciada por aí, e convenhamos, hoje em dia oferecida de forma gratuitamente tão "acomercial" que chega até a intimidar e assustar os homens, ambas tivemos a mesma dúvida sobre o sucesso do tal anúncio da venda da virgindade: nos dias de hoje, haveria mesmo alguém interessado em pagar por artigo tão outfashion, que demandaria por maior esforço?
Mas pelo burburinho que gerou a notícia, mesmo a mim me parecendo uma atitude bem perdulária, eu arriscaria dizer que vai sobrar comprador...ora se vai!
Eu se fosse a garota optaria por um leilão. talvez fosse financeiramente mais interessante.
Afinal, quem não pagaria SEMPRE MAIS pela exclusividade duma tão rara happy hour genuinamente inaugural, num mundo em que para se ter alguma prima exclusividade quase sempre chegamos bem atrasados?
Leilão que nunca teria fim...
Tempos modernos...em que para se ser algo exclusivamente antigo há que se resgatar os já tão idos tempos de remotos artigos...mesmo que seja rasgando o bolso...
Intrigante humanidade.