A Piada Que É A Sua Cara
A sua vida, meu caro, é uma piadinha.
Não negue, eu sei, tu sabes... nós sabemos. E eu não estou conjugando um verbo. Você sabe que eu sei, eu sei que você sabe, e eu também sei que você sabe que eu sei (assim, eu sei que você sabe que eu sei que você sabe, e agora você também sabe que eu sei que você sabe que eu sei que você sabe). Depois dessa, duvido que nós ainda saibamos de mais alguma coisa. Viu a piada? Estamos aqui, eu e a vida, rindo da sua cara. Você leu e releu aquelas frases, se misturou: conjunções, verbos, pronomes. Leu um em cima do outro, atropelou alguns. Franziu a testa. Se estiver rindo por eu saber o que você fez, é um bobo. Se não, ficou revoltado. O que me diverte mais ainda. Classifico, assim, os seres humanos em dois tipos:
Os bobos e os revoltados. Os bobos acham graça de sua própria vida, essa coisa sem sentido, sem cabeça, nem pé, mas cheia de mãos, de olhos, e de caminhos confusos, tortos, traiçoeiros. Coitadinhos! Riem de sua bobeira. Devem estar sorrindo, adorando isso tudo. Adorando eu saber que são uns bobos (ou que você é um bobo).
Já os revoltados, eles enxergam essas mãos, esses olhos e simplesmente (note, você que é bobo: o advérbio não modifica o verbo para algo mais simples, não se confunda) odeiam esses caminhos. Não lhes têm o menor sentido! A complexidade os irrita, porque eles não a compreendem por completo. (Quanto pleonasmo!) A falta de entendimento os torna tolos. E eles não gostam de ser tolos. Mas, pior que não entender, é pensar que há alguém que entenda. Se alguém entende a piada, pode rir de quem não entendeu, só por não tê-la entendido. Como, por exemplo, você não ter rido do meu parêntese ali em cima, e não tê-lo relacionado com essa última frase. Estou rindo da sua cara. O bobo se confundiu, e riu de não estar enxergando mais nenhuma sanidade neste texto. O revoltado, ah, o que ele fez? Se revoltou. Tornou a ler o parêntese, leu a frase, quis entender a piada e riu, caso tenha tido progresso. Riu só para não ficar de fora. Só porque não quer aceitar que eu ri dele quando ele não percebeu a minha piadinha. Minha nada, a sua, a graça é você!
Meu caro, eu torno a lhe dizer: sua vida é o gosto de quem a entende! E como você, bobo ou revoltado, perdido ou coitado, não vê nela sentido, estão a rir da sua cara!