O CANTO DOS MOSQUITOS & MAIS
O CANTO DOS MOSQUITOS I (15 SET 12)
Às vezes penso que os mosquitos nos criaram
como esperada fonte de alimento:
quando eles silvam, sem comedimento,
já estão nos avisando que chegaram
e que aceitemos, sem ressentimento,
esses momentos que nos ofertaram,
pois nesse instante em que nos ordenharam
mui grande honra nos dão nesse momento!
É por isso que nos cantam seu aviso,
que acordemos para abrir os braços
e os deixemos realizar o seu festim...
Pois gratidão mostrarmos é preciso,
são nossos deuses em vampíricos abraços:
que nos chupem o sangue até o fim!...
O CANTO DOS MOSQUITOS II
Afinal, que outro motivo existiria
para voarem junto a nós, cantando?
É o seu direito assim manifestando
de alimentar-se do gado que os servia!
Sem qualquer medo, o inseto se exporia,
tendo certeza de que seu jugo brando,
com reverência, acolheria o bando
dos escravos felizes que assim via...
Sem dúvida, até se ofendem os mosquitos,
quando lançamos venenos às suas almas,
nesses borrifos de mortais inseticidas!
E se demonstram, no final, aflitos,
no seu engano de que batemos palmas,
quando queremos é esmagar suas vidas!
O CANTO DOS MOSQUITOS III
Somos servos rebeldes! Ao escutá-los,
ao invés de demonstrarmos humildade
e lhes prestarmos nossa sanguinidade,
justo ao contrário, tentamos esmagá-los!
Fazemos planos para exterminá-los,
somos vis criaturas de maldade!...
Não merece seu amor a humanidade:
Nós os matamos, ao invés de respeitá-los!
Somos escravos em nossos mil rancores,
brandimos mata-moscas em traição,
mosquiteiros e fumaça em mil fedores
e massacramos as filhas dos senhores,
por pura inveja e por malversação,
assassinando os nossos criadores!...
O CANTO DOS MOSQUITOS IV
E nem sentimos remorsos pelo fato;
nós os matamos e voltamos a dormir,
sem sentir dó pela injúria de os ferir,
sem nem sequer lastimar o desacato!
Antigamente, adoravam, sem recato,
a Baal-Zebub, o Deus das Moscas, a construir
templos e altares, o fogo a reluzir,
com as vítimas queimando a seu contato!
Se Belzebu se tornou um pobre-diabo,
à adoração até hoje nos incitam
esses mosquitos cujo zumbir eu gabo!...
Talvez exista algures um Senhor
desses Mosquitos que nos parasitam,
que lá de cima nos contempla com rancor!
CRISTINA E CRISTO I (16 SET 12)
Cristina Kirchner discursava da sacada,
perante a multidão dos partidários,
muitos sinceros, só alguns os salafrários,
que se apinhavam ao longo da esplanada
diante do prédio da Casa Rosada,
descamisados, campesinos e operários,
do peronismo os ramos multifários,
que a escutava alegre e entusiasmada.
De repente, um luzeiro se destaca
por entre as nuvens e a maré de faces
ergue-se ao brilho da inusitada luz...
E numa imagem a chama se compacta,
um arrepio a percorrer todas as classes,
pois lá do alto veem descer Jesus!
CRISTINA E CRISTO II
Assim paira, lentamente, o Nazareno;
Cristina recua, a mão no coração,
mas Jesus Cristo flutua ao seu balcão
e a contempla, com Seu olhar sereno,
e lhe murmura uma frase, sem veneno
que assim retira toda a inquietação
da Presidenta, que lhe estende a mão
e então o acolhe, com carinho pleno!
Então Cristina se dirige ao povo:
“Meus irmãos argentinos, entre nós
do céu voltou o Companheiro Jesus!”
“Pois Ele quis nos acolher de novo,
para escutar-Lhe Sua divina voz,
em apoio a esta serva que os conduz!”
CRISTINA E CRISTO III
E Jesus Cristo abriu então os braços
e dirigiu-se ao povo, meigamente:
“Cristina Kirchner é governante equivalente
à bela Evita, com seus lindos traços!”
E a voz da multidão enche os espaços,
em uma aclamação alta e potente!
Disse Jesus: “Ela não ama toda a gente?
Não fortalece da igualdade os laços?”
E de novo o aclamou a multidão...
Disse Jesus: “Não vos dá a educação,
abrindo escolas por todo o país?”
E logo ouviu-se mais outra exaltação!
“Não fundou ela hospitais pela nação,
para curar os doentes, como eu o fiz?”
CRISTINA E CRISTO IV
E os kirchenistas todos os saudaram,
palmas batendo, em altíssima ovação!
E Jesus indagou: “Não trouxe o pão
multiplicado para quantos a apoiaram?”
Mais uma vez, altíssimo, gritaram!
“Não acabou com o fantasma da inflação?
Não criou empregos para toda a profissão?
Suas promessas não cumpriu, por que votaram?”
E a populaça redobrou a aclamação!
“Não trouxe ela para o povo só o bem?
Não foi por isso que todos a amaram?”
E novamente veio a imensa saudação!
“Ela não fez tudo o que eu fiz também?
Por que então ainda não a crucificaram?...”
A VAQUINHA DO CAIPIRA I (17 SET 12)
Saiu o caipira em busca do compadre.
“Nhô Bento,” lhe disse, “sabe sua vaca?
Aquela de raça que andou doente paca?
Vancê se alembra o que recomendou o padre?”
“Ah, sim, mandei na igreja a sua comadre
para pedir reza forte... Ele mandou uma lata
de ração especiar, naquela data,
trazendo inté as receita nos enquadre...”
“Pois, compadre, vancê tem o nome da ração?”
“Uai, Nhô Tonico, ainda sobrou!...
Se quiser, dou o resto pra vancê...”
E o caipira aceitou, com gratidão.
Serviu à vaca enquanto ela durou,
pois não ia esperdiçar, ora se vê!...”
A VAQUINHA DO CAIPIRA II
Mas por mais que do animal ele cuidasse
e a tratasse com aveia e azevém
e lhe servisse toda a ração, também,
na esperança de que melhor passasse,
não querendo que a vaquinha definhasse
(gente o campo cuida do que tem...)
pouco a pouco a piorar seus olhos veem,
sem conseguir que a coitada melhorasse...
Até que ela morreu e esse caipira,
dando de ombros, o couro então lhe tira,
para servir-lhe de tapete para a sala...
Carne não tinha, que a doença consumira
e um cheiro muito ruim o bicho exala!
Com o tratamento nada conseguira...
A VAQUINHA DO CAIPIRA III
Daí a dias, encontrou o seu amigo:
“Nhô Bento, a ração não adiantou,
foi doença muito braba que a pegou!
Ou então foi Deus que quis me dar castigo...”
“Essas doença são o mor perigo,
Nhô Tonico,” seu compadre lastimou.
“Tenho certeza do que vancê esforçou,
não é sempre que curar também consigo...”
“Mas o que foi que o compadre fez
para curar a sua vaquinha de raça?”
Ficou o outro assuntando nos porém...
“Ela penou pra munto mais de mês,
mas foi por isso que lhe dei ração de graça:
a minha vaquinha faleceu também!...”
VERBOS MINEIROS I (18 SET 12)
A professora com sua classe se esforçou,
numa escolinha do Triângulo Mineiro...
Chamou Nestórgio para arguir primeiro:
pediu-lhe qualquer verbo que lembrasse...
O menino coçou a testa e então falou:
“Bicicreta, professora!” bem ligeiro.
“É ‘bicicleta’ que se diz, garoto arteiro!”
E ordenou a seu aluno que sentasse...
Dando um suspiro, então chamou a professora:
“Marilurdes de Fátima, fale agora
qualquer verbo que lhe venha na cabeça!...”
E insistiu com a menina, nessa hora:
“Já esqueceu a aula de ontem?” “Não, senhora!
“’Prástico’, fessora!” – respondeu depressa.
VERBOS MINEIROS II
“Ai, crianças, vocês são os meus pecados!
Chegam de casa sem estudar nada!
Já não aguento uma turma assim danada!”
Ficaram os alunos olhando para os lados.
“Não se diz ‘prástico’, é ‘plástico’!” Os coitados
não entendiam por que ficara ela zangada...
“Por verbo qualquer ação é expressada;
são os objetos por substantivos designados!”
“Entenderam, agora?” “Sim, fessora!”
respondeu a classe inteira, de imediato.
Eram meninos e meninas educados,
mas de tarde iam à roça, sem demora,
com uma enxada, para carpir o mato,
ou tomar conta de domésticos cuidados...
VERBOS MINEIROS III
E a professora ao Raimundinho perguntou:
“Você entendeu agora a explicação?”
“Sim, fessora!” “Diga-me um verbo, então!”
“Hospedar!” bem depressa ele falou...
“Ai, finalmente!” E a professora o elogiou:
“Até que enfim um estudou a sua lição!...
Cada verbo representou alguma ação,
e o substantivo alguma coisa designou!”
“Sim, fessora!” a turma, em coro, concordou,
sacudindo as cabecinhas, sem parar,
cada qual parecendo mais espástico!...
“Faça uma frase com esse verbo!” ela mandou.
E Raimundinho nem esperou para falar:
“Os pedar da bicicreta são de prástico!...”