Ida ao dentista

Certa vez, senti um incômodo em um dos meus dentes e então procurei um especialista, este me disse que seria feito um procedimento mais complexo, o tal do canal. Preparei-me psicologicamente, pois tenho pavor a agulhas. Conforme marcado comecei o tratamento, o canal, que mais parecia o “Canal de Suez”, acabou com o meu dente, ficou só a carcaça, mas como às vezes para construir é preciso destruir, deixei rolar, me agarrei a este pensamento com unhas e dentes (mais unhas do que dentes, literalmente). Passaram alguns dias de idas e vindas ao consultório e finalmente havia terminado. Empolguei-me e pedi um espelho, queria ver o resultado, estava contente, meu dente ficou novo! Preparei para me levantar da cadeira quando o dentista pediu que esperasse um pouco, pois precisava resolver algo e voltava em instantes. Fiquei ali pensando que tinha ocorrido tudo bem. Ele demorou mais do que o esperado, resolvi apreciar a vista da janela (o consultório ficava no 9º andar), o ar condicionado estava gelando os meus ossos e ficar parada parecia piorar, avistei o controle remoto na mesa ao lado e desliguei o bendito, abri a janela, do tipo “vitror”, para entrar um ar fresco e percebi que algo havia desprendido e caído lá embaixo, no impulso tentei segurar e quase derrubei outros dois que estavam próximos, não consegui identificar do que se tratava, foi quando notei que um tinha caído aos meus pés, abaixei-me para pegá-lo e fiquei tão gelada que parecia terem ligado o ar condicionado novamente, era um raio x, tão pequeno quanto uma foto 3x4, estava preso a uma pequena presilha e certamente estava ali para secar. A única coisa que pensei foi: O que eu fiz? Nisso a porta abre e o sorridente dentista se desculpa pela demora, eu não sabia se ria ou chorava se sentava ou saia correndo se contava a verdade ou saia muda, fiquei inerte, o tempo parecia parar, foi então que abri o jogo, após contar toda a presepada, ele me perguntou: “Pra quê você foi mexer na janela? (me pergunto isso até hoje) e para completar o meu dia continuou dizendo que teria que refazer o exame, que seria constrangedor pedir para o paciente, que já estava pago, que teria que pagar do “bolso”, que não era barato, sentia os meus olhos arregalarem cada vez que ia me dizendo essas palavras "animadoras" (risos), cheguei a oferecer o pagamento do exame, pedi desculpas, queria sumir e então ele me disse que estava tudo bem, que essas coisas acontecem (na verdade só acontece comigo) e que ligaria para o paciente e resolveria. Fiquei arrasada, queria voltar no tempo, mesmo que para isso tivesse que sentir aquela terrível dor de dente. Fui ao toalhete, molhei o rosto, queria acordar do pesadelo, “peguei” o elevador e ao chegar no térreo pensei em procurar pelo raio x, uma missão quase impossível devido ao seu tamanho e altura que havia caído. Fiquei surpresa ao me deparar com o dentista por ali, com os olhos fixos no chão esperançoso em encontra o dito cujo (achei que ele tivesse resolvido ligar para o paciente), enfim, ainda estava constrangida e nervosa, acabei soltando essa: Ué, eu vim aqui também para procurar (porque não fiquei calada?) ele estava com uma cara, acho que sua vontade era me exterminar com o olhar, rsrsrs, ficamos ali por alguns minutos de um lado para o outro e curiosos começaram a nos observar. Não encontramos, resolvi ir para casa, me desculpei mais uma vez e segui meu rumo, não sei por qual motivo, olhei para cima e me deparei com uma grande sacada do 1º andar e pensei: Talvez tenha caído ali! Voltei ao prédio e com a maior cara de pau entrei em uma sala de contabilidade, perguntei se tinha alguma janela que tinha vista para a sacada. Expliquei tudo e me deixaram entrar, a janela parecia uma porta de tão grande, passei para o outro lado, com o pé direito, rsrsrs, e inacreditavelmente lá estava o raio x, nem sei como o avistei tão rápido, corri para pegá-lo e o segurei como se fosse uma peça rara e valiosa, eu estava radiante, agradeci e saí depressa para o consultório, cheguei quase sem fôlego a procura do dentista, me informaram que ele estava na copa tomando um cafezinho, ao chegar lá, ainda pude ouvi-lo comentando com um colega de profissão: “Não sei o que ela queria abrindo..., apareci com o raio x na mão como se estivesse carregando um troféu e exclamei: Achei! Ambos me olharam incrédulos, quiseram saber como eu tinha conseguido, contei a minha ideia brilhante (quanta modéstia) e ele me agradeceu com um aperto de mão e ressaltou que nunca iria esquecer desse dia (eu também). Saí aliviada... Tempos depois precisei ir ao dentista novamente, consultei-me com outro, óbvio, desta vez escolhi um consultório no térreo e fiquei sentada do início ao fim.

Januza Trindade Maia.

Jann Maia
Enviado por Jann Maia em 18/09/2012
Reeditado em 13/09/2013
Código do texto: T3887785
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