Aula de Informática

Genebaldo passava distraído pelo Largo do Paiçandu, quando viu a tabuleta, meio torta e meio apagada: “Escola Urubupungá; dá-se - aula de tudo.”

Impressionado com a correção gramatical e com o alto nível do estabelecimento de ensino, adentrou no recinto, que era um velho prédio do centro. O porteiro, com o pé pendendo sobre a mesa, tirava seu cochilo do almoço, e as moscas voavam. Acordou, meio estremunhado, e de má vontade, falou :

--A escola é lá no fundo; sobe a escadinha, desce pra baixo, passa na portinha baixa, desce de novo; é lá, no porão!

O indivíduo seguiu passo a passo o que o porteiro disse e, chegou ao “estabelecimento” :

--Pois não?- disse a atendente, que mal tirou os olhos das unhas, que lixava.

--Eu vim saber sobre a escola; que curso vocês dão?

--Aqui na escola tem de tudo: cabeleireiro, manicure, curso de corte e costura, sapateado, dança da garrafa, xadrez, culinária...

--Vocês têm curso de datilografia?

Nesse momento, atravessava o “estabelecimento” um homem de pijama, com um jornal nas mãos.

--Datilografia ? Meu amigo, isso não existe mais! – quis se fazer de entendida- aqui nós só trabalhamos com “computer”- e apontou uma geringonça do “tempo do computador a lenha”

--Ah, vocês têm curso de computação...

--É, mas vai preenchendo essa fichinha!São dez reais para preencher a ficha!

--Pô!Mas que ficha cara! Posso ir ao banheiro?

--Pode, é lá no fundo, atrás da pilha de livros; não pisa nos gatos!

E, nosso herói, depois de desviar dos livros e quase pisar numa ninhada de gatos que miavam, chegou ao “escritório do Vanderlei Cardoso”. Lá dentro, o homem que passou com o jornal, estava sentado no trono, com a porta aberta.

--Zé, fecha a porta!Esqueci!

O homem olhou de soslaio e bateu a porta.

No dia seguinte, a primeira lição de informática, e, o professor era o mesmo homem do banheiro, só que um pouco mais bem vestido que na véspera, mas de chinelos.

--Nós não nos conhecemos de algum lugar?- disse, cumprimentando Genebaldo.

Só houve um probleminha: o computador estava mais gasto que pneu de Fusca 66 e não pegava nem no tranco. O jeito foi utilizar a moderna tecnologia brasileira e pimba- uma pancada bem no meio da “ïnformática” do computador. E não é que o bicho “pegou”, mostrando na tela nublada algo da pré-história da computação.

De repente, chega uma mulher:

--Com licença, dá pra ir mais pra lá que eu tenho que almoçar?

E no meio da aula de informática, a mulher “traçava” sua marmita :

--Quer um pedacinho de cuscuz?

--Não, obrigado!

Depois da “aula “ de informática, Genê voltou ao seu trabalho e só retornou à escola na semana seguinte e , assustado, sentiu um forte cheiro de óleo queimado; a “secretária” fritava algumas coxinhas. Indagada sobre o ocorrido por Genebaldo, respondeu::

--Escola? Ah, a escola; fechou; agora aqui é comida por quilo!