O homem que falou com Deus
Havia acabado de atravessar os portões de São Pedro e, todo nervoso, exigia falar com Deus:
— Eu preciso ver o Senhor! Eu preciso ver o Senhor!
Mas os anjos explicavam, calmos como a brisa da primavera nas folhas das árvores:
— O Senhor está muito ocupado, mas assim que puder Ele o procurará.
E o Homem saiu batendo os pés.
No outro dia, ele voltou, ainda exigindo:
— Eu quero falar com o Senhor! Eu quero falar com o Senhor de qualquer jeito!
De novo, os anjos o fizeram dar meio volta, muito pacientes:
— O Senhor está muito ocupado, Ele não pode ser incomodado neste momento.
E de novo, o Homem não conseguiu falar com Deus.
No outro dia, ele ainda voltou:
— Eu vou falar com o Senhor hoje sem falta!
Os anjos coçaram as auréolas e conseguiram convencer o Homem a ir embora.
Nos outros dias que se seguiram, o Homem continuou vindo, parecia que não ia desistir mesmo e os anjos, já de saco cheio e mortos de curiosidade para saber o que de tão importante ele tinha para falar com o Senhor, deixaram-no ir à presença de Deus.
Deus, então, levantou os olhos para ele e disse:
— O que você tem para me dizer, meu filho?
O Homem, ainda muito agitado encarou Deus e respondeu:
— Faz mais de dois mil anos que eu tento falar com o Senhor, como é que eu vou me lembrar?