Dessa água beberei

O turista brasileiro, recém-milionário, por inronia, escolhera fazer uma viagem turística à India. Disse para a ex-prostituta, agora, esposa:

- Nada melhor do que ver os pobre de perto, ou, melhor, os miseráveis.

Falou assim, dando uma gargalhada de deboche.

- Não zombe dos pobre, benzinho. Eu era pobre, vendia o meu corpo para sobreviver. E, você era filho de feirante e sapateiro na feira de São Joaquim - aquele ninho de ratos. Nunca vi um local tão sujo e cheio de ratazanas. No seu box e de seu pai era um terror, amanhecia cheio de coco de ratazana.

Ele a olhou com fúria.

-Esqueça o meu passado, vadia. Eu sou um homem rico, e agora quero me divertir.

Viajaram a maior parte do tempo calados. Ele tentava puxar conversa, ela desconversava. Fingia estar com sono. Seguia pensativa. Odiava ser chamada de vadia. Odiava ser chamada de puta. Volta e meia, ele assim a agredia. O objetivo era humilhá-la. sabia que era muito feio para ela - uma loira de estatura mediana alta, corpo esbelto. Os seios durinhos, dois pomos que apontavam para o céu. Quadril largo. Coxas longas, bem torneada. Os lábios eram grossos e estavam sempre vermelhos. Olhos amendoados, de cor clara. Tinha o bumbum grande, perfeito, em harmonia com as coxas grossas, roliças. Adelle era um mulher deliciosa. baixinho, barrigudozinho, carequinha, branco feito uma barata descascada. Tinha cara de panaca e sorriso de idiota. Não tinha bunda, pernas finas, pés grandes. usava óculos de grau e tinha sinuzite crônica. Vivia espirrando, remelento.

- Benzinho você não vai me envergonhar mais uma vez, vai?

- Não precisa se preocupar.

Disse-rindo.

-Aqui as pessoas não entendem a nossa lingua. posso te xingar á vontade. te chamar de puta, safada, interesseira que as pessoas do saguão do aeroporto, da sala de leitura do hotel ou as camareiras não vão ter peninha da loira burra.

Ele era inseguro, buscava na depreciação de sua imagem a fortaleza para manter a relação. "Quem iria querer uma puta como você..."

- Não será difícil conseguir uma outra caso va embora. Eu tenho dinheiro, quem gosta de homem é viado, mulher gosta é de dinheiro. Duvido que encontre outro homem que te dê a boa vida que eu dou...

- Boa vida?

protestou ,ela

-Viajando para lugares feios e pobres. Saimos correndo da Líbia, saimos às carreiras do Paquistão. Quando não inventa de ir para locais em guerra, inventa de ir para onde está a miséria do mundo.

-Querida, é o meu sonho conhecer os lugares que ja vi nos noticiários da televisão. E a televisão so mostra tragédias, guerras.

- Sim, mas não tem a França, Portugal, Inglaterra, A europa inteira?

- Querida, entenda uma coisa o dinheiro é meu, quem escolhe as viagens sou eu, entende minha putinha de estimação?

Ela endendia o por quê daqueles locais - la tinha os pobres - ali, ele podia se sentir importante, o rico.

- Eu ja escolhi os locais que visitaremos. Você vai gostar.

- A india tem mais de um Bilhão de habitantes. É uma população considerada pobre demais ou miseráveis pela ONU.

- Isso, querida. E eu, um homem rico no meio dos pobres.

- Não invente de dar esmolas no meio da rua, vão te cercar dezenas de pessoas pedindo...

- Os deuses conduzem o povo indiano. São inúmeras as religiões e os deuses. É um país dividido em castas, ódio mútuo entre eles.

- O povo é assim, mesmo. Não têm dinheiro, mas têm religião, e fé muita fé. Eu tenho dinheiro, muito dinheiro e uma vadia á tira-colo.

Ele não perdia a oportunidade para agredí-la, desmerecê-la.

- Querido...

Ela disse, com voz maviosa, ignorando às suas tiradas sádicas, com relação à sua pessoa.

- Querido por quê decidiu vir á India.

- Ja não te disse, o que eu vejo na tv, eu quero ver de perto. os pobres vêem pela tv, eu, um homem rico piso na terra, bebo de sua água.

falou assim, agachando á beira do rio Gânges, usando a palma da mão sorveu farto gole de água. Banhou o rosto e a cabeça. Ele começou, de forma acelerada a beber da água e a se molhar, chegou a ponto de se jogar nas águas do rio Gânges. E, ali ficou de frente para ela, enquanto a sua puta de estimação lia no notebook curiosidades a respeito do rio, em voz alta para ele ouvir, ele ficava dizendo:

- O que mais, leia, diz...

- Querido não escolhi este local e o rio á toa. ´E o presente de sua vadia para você. Estamos num dos mais pobres locais da Índia. As ruas são sujas, tem lixo por toda parte. Animais infestam as ruas com coco, urina. Até porcos dividem espaço com as pessoas. A vaca aqui é considerada um animal sagrado.

- Você é minha vaquinha, aqui você é importante.

- Os alimentos são preparados sem higiene, o povo desta localidade vive no atraso, mantendo hábitos e costumes seculares de falta de higiene, crenças primitivas. Por trás de monumentos históricos e ricos se esconde uma miséria absoluta de dominação de poucos sobre muitos. A religião é usada para oprimir, dominar.

- Minha cadelinha ta ficando culta com as nossas viagens.

- Falarei do rio, querido, deste que você bebeu da água e se banha.

- Fale, querida, fale...

- O rio Gânges, o contrário de que se mostrou na novela O Clone ,da Rede Globo, não tem essa poesia toda, não. E a Índia mostrada pela novela não existe, ela é uma ficção, uma grande mentira.

- Esqueça a novela, fale do rio, quero saber...

- Pois, bem, falarei. O rio é considerado um Deus Vivo. Acreditam que a vida se inicia e se encerra nele. A cremação é um costume na índia, ou seja eles não enterram os mortos, eles queimam com lenha. Quando não têm lenha, ou o morto não tem família o costume é jogá-lo no rio.

- O quê?

- Isso, mesmo. Enquanto falava comigo, mais de uma dezena de cadáveres passavam por suas costas, alguns em avançado estado de putrefação. As pessoas daqui bebem dessa água, cozinham e fazem rituais ás margens do rio Gânges, esse deus putrefato.

- Maldição, maldição, eu bebi desta água....

- isso, querido... a ONU até ja ofereceu recursos para o saneamento do rio, mas os líderes religiosos recusaram, disse que sendo, um deus ele pode se depurar por si mesmo. Então, pessoas convivem lado a lado com carniças de defunto que boiam nas suas águas. Quer ver as fotos, te mostro aqui... enquanto as pessoas se banham os cadáveres boiam ao lado. è coisa comum ter cadáveres podres em suas margens sendo devorados pelos corvos e cães.

- Eu...eu bebi dessa água, você sabia disso.. eu bebi...dessa água.

Depois daquele dia, ele mudou. Quando voltaram de viagem, as brigas voltaram, vez em quando, ja que não existe convivência de marido e mulher sem uma brigazinha, vez em quando. Ele a chamava de:

- Vadia, sua puta...mulher de brega.

- Ele bebeu das águas do rio Gânges, ele bebeu água de defunto... CARNICEIRO, carniceiro, carniceiro.

Ela fazia questão de lembrar o feito que lhe embolava o estômago, ia vomitar, então, a brigava acabava. Ela ficava no notebook buscando novos paraísos extremos, pelo mundo. Buscava uma tribo de canibais, em local ermo do planeta. Ásia, África, talvez.

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 06/08/2012
Reeditado em 06/08/2012
Código do texto: T3816479
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