Apenas um "trote" inocente (primeira parte)

Liparone veio do norte na esperança de "fazer a vida" no Rio.Com a escassez de emprego,só restou ao migrante montar uma barraca na calçada, e começar a vender tudo o que fosse possível.Começou com ovos,depois tentou as frutas,mas viu que ambas as mercadorias eram perecíveis e de difícil transporte,ainda mais quando aparecia o "rapa".Optou então pelas balas e doces,pois tinham boa saída(as crianças adoravam),e eram fáceis de conseguir e de transportar. O pequeno negócio prosperou e, não fosse a maldita bebida,que muitas vezes fazia Liparone ficar completamente "chapado",o camelô poderia ter alçado voôs maiores.Por sorte ele conheceu Marli,mulher "guerreira" ,que "segurava as pontas " quando o marido ficava "fora de combate".O baleiro era um homem simplório,que entendia apenas do comércio de balas,sendo verdadeiramente ingênuo em outros aspectos da vida.

Aqui entra na história Jarbas, dono de uma casa de móveis em cuja calçada, Liparone tem sua barraca.Jarbas é daqueles que, mais que o amigo, perde a amante mas não perde a piada.

Numa sexta-feira,já no final da tarde,Jarbas estava fechando sua loja,quando viu Liparone resmungando sozinho, enquanto desmontava sua barraca.Curioso,o vendedor de móveis perguntou:

_____Lipa,o que é que "tá pegando"? ("lipa" era a abreviatura de Liparone,pois o nome inteiro do baleiro era muito trabalhoso de se falar).

_____Não é nada não Jarbas,deixa pra lá! (respondeu entre dentes o nortista,que tinha a expressão séria,contrastando com seu habitual bom humor).

_____ Como não é nada? pela sua cara ,parece até que o flamengo perdeu!( Lipa era rubro negro "roxo").

_____Sabe o que é ,resolveu se abrir,amanhâ faço aniversário,e estou com uma azia daquelas.Desse jeito não vou poder tomar as minhas "branquinhas" para comemorar.

Naquele momento,teria sido melhor Jarbas ficar de bico calado,como aconselhou seu anjo da guarda ,mas o vendedor de móveis resolveu ouvir o seu diabinho interior e mandou essa:

_____Ah,mas eu conheço um santo remédio para isso!(disse com um sorriso largo,mostrando até os molares).

_____Pôxa, me ensina, por favor!( suplicou Lipa).

_____"Tu" vai fazer o seguinte,olha:pega um copo,enche d' água,mas tem que ser água mineral natural,tá prestando atenção?

_____ "Tô" ( o ouvinte nem respirava)

_____Então...., encha o copo até quase a boca e...... depois........... pegue duas colheres de sabão em pó...

_____Sabão em pó? (interrompeu o baleiro).

_____Você quer aprender como se faz o remédio ou não?(bradou Jarbas).

_____Lógico,lógico, vá em frente "hôme"!

_____Você pega duas colheres de sopa de sabão em pó, mistura até ficar bem misturadinho,e, depois, "pinga" duas gotas de limão, e bebe tudo de uma vez!

_____ Copo d'água.....duas colheres.......limão....(bal buciava Liparone, tentando memorizar a receita).

_____Entendeu tudo ? (quis saber Jarbas)

_____Entendi, entendi, (repetia o baleiro, enquanto acabava de dobrar o plástico azul que servia de teto para sua barraca)

____Alguma dúvida?,(provocou o comerciante sacana).

____Não, mas esse "troço" funciona mesmo?(desconfiou lipa)

____Mas é claro,veja só: o sabão é um saponáceo, vai te limpar por dentro, e o limão, por ter o ph ácido ,vai matar os micróbios .( tinha ouvido isso em algum lugar).

____ Ah! agora eu entendi!(disfarçou lipa,fingindo que sabia o que era ph e micróbio).

____Então faz o remédio e amanhã me conta!(desafiou Jarbas).

Agora com um largo sorriso,Liparone despediu-se e foi para casa. Jarbas entrou em sua loja e teve um ataque de riso, ao lembrar da expressão do baleiro,tentando decorar a " receita".Acabou de fechar a loja e foi para a casa.Era tarde e no dia seguinte(sábado)iria abrir a loja cedo.