Um mendigo diferente
Um homem pouco dado à filantropia passava por uma rua e parou ao ouvir um pedinte que se expressava sem nada de humildade. Num alto tom de voz dizia:
- Ó vós passantes que gastais os solados dos vossos sapatos, gastai também vosso dinheiro com aquele que não tem o que merece, pois assim tornará fautoso, supimpa e perene o regabofe do entrudo...
O pedestre achou muito curioso aquele tipo de mendigo e resolveu conversar com ele.
- escuta aqui ô irmão, você tem algum problema de saúde?
- você me chama de irmão e eu não sei se gosto disso, além do mais o senhor está com jeito de quem quer me entrevistar e eu não concedo entrevistas !
- não podemos conversar?
- não digo que não pois já estamos, mas o senhor pode não gostar das minhas respostas.
- então, diga-me porque pede dinheiro, não pode trabalhar?
- lhe respondo perguntando por que o senhor não se comporta como eu?
- por que tenho dignidade e trabalho...
- mas eu por acaso devo me incomodar com o que o senhor faz?
- não deve nem pode...
- nem o senhor pode e deve se incomodar em me questionar...
- quer saber? Vai trabalhar vagabundo!
- eu solicito aos passantes alguma ajuda monetária, mas a maioria é assim avarento como o senhor, não perco meu tempo pedindo conselhos pois nisso sou professor, nem tão pouco ordeno ninguém a se comportar semelhantemente a mim, contudo noto que o senhor já não está gostando de me estrevistar de igual pra igual...
- Nesse seu bla bla bla já deve ter passado a lábia em muita gente e assim vai vivendo de enganar, pelo visto não tem nenhuma deficiência nem consciência, tá pensando o que! Nada cai do céu não ô...
- cai sim, cai chuva, de vez em quando despenca um avião cheio de gente atribulada assim como o senhor, até o bendegó caiu...
- é muito cínico, onde estou que não lhe dou um murro! Mas devo me conter, o que vem de baixo não me atinge...
E ia seguindo quando ouviu o pedinde ainda dizer em voz mais clara ainda:
- pois senta-te num formigueiro ativo!